Ontem
(04) o Supremo Tribunal Federal (STF) negou o pedido de habeas corpus do ex-presidente Lula, pela polêmica condenação no
episódio do triplex no Guarujá (SP). Isso significa que a ordem de prisão do
todo-poderoso dirigente petista pode ser expedida nos próximos dias. O Partido
dos Trabalhadores (PT), porém, anunciou que não recua da decisão de mantê-lo
candidato à presidência, mesmo preso. É mais lenha na fogueira das
instabilidades políticas que abalam o País há quatro anos.
Nos
dias que antecederam o julgamento do habeas
corpus houve pressão intensa pela rejeição do pedido. Na véspera, o
comandante do Exército – general exaltado como “democrata” – despejou uma nota
alarmante numa rede social, insinuando a hipotética possibilidade de
intervenção do Exército na vida política do País, caso a “impunidade” gerasse
reações da sociedade.
Órgãos
de comunicação não perderam a oportunidade de fustigar o petista em diversos
flancos. Valeu tudo: matérias sobre reações desfavoráveis do “deus mercado”,
textos catastróficos sobre o risco de soltura dos demais encalacrados por
crimes de corrupção e, até mesmo, a chantagem sobre a libertação de
estupradores. Evidentemente também houve pressão intensa sobre os magistrados
encarregados de julgar o caso no STF.
Nesses
tempos de muito barulho e poucas ideias, valeram também ameaças de reações
violentas à decisão do STF. Embora a disposição bélica raramente transborde das
redes sociais, o discurso serviu como elemento adicional de pressão: a pretensa
“reação das ruas” foi manipulada para disseminar o temor da violência e do caos
político.
Impacto Eleitoral
É
indiscutível que, ontem, o PT sofreu mais um intenso abalo em seu projeto de poder:
depois da deposição de Dilma Rousseff no controverso impeachment, vieram as condenações do líder máximo da legenda e, a
partir de agora, fica a expectativa da prisão. Hoje (05), o partido anunciou
que pretende transformar a prisão de Lula num grande ato, com expressiva
presença de público, em São Bernardo do Campo (SP).
Ontem,
movimentos sociais anunciaram reação à prisão, com mobilizações para os
próximos dias. No dia crucial do julgamento, porém, as manifestações foram
tímidas. Agora, apostam-se todas as fichas na hipotética comoção que a prisão
vai causar. É mais provável que o clima de letargia à esquerda verificado nos
últimos tempos persista: descontando o impacto provocado pela morte da
vereadora Marielle Franco (Psol-RJ), quase nada mobiliza a população.
Paradoxalmente,
a prisão de Lula não garante vereda aberta para a candidatura de “centro” –
conforme se rebatizou o pretenso liberalismo tupiniquim – e, menos ainda,
assegura sua vitória. Até aqui, essa gente empolga pouco o eleitor. Caso fosse
candidato, Lula provavelmente se elegeria tranquilamente.
A única certeza é que a
provável prisão de Lula vai trazer ainda mais perturbações à instável política
brasileira. E se avolumam os sinais inquietantes de que uma solução pela força
não está descartada. Está aí, manifesta, a opinião do comandante do Exército
que reforça as sombras sobre a enferma democracia brasileira.
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