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Mostrando postagens de julho, 2012

Feira pode perder distritos com enxurrada municipalista

                                   Em breve os brasileiros podem voltar a conviver com uma enxurrada de novos municípios. É que, conforme noticiou a imprensa, a presidente Dilma Rousseff concordou em devolver às Assembléias Legislativas estaduais a prerrogativa de criar novos municípios, o que vinha sendo responsabilidade do Congresso Nacional desde 1996, por decisão do então presidente Fernando Henrique Cardoso. Apesar de alguns critérios pretensamente limitarem as emancipações, certamente o recurso vai servir para a tradicional barganha por apoios nos períodos eleitorais.             Conforme a imprensa, a Bahia vai sair na frente com a possibilidade de se criar, pelo menos, mais 100 municípios, que se somarão aos 417 já existentes. Assim, ao invés de se racionalizar a estrutura federativa, extinguindo municípios economicamente insustentáveis que vivem com o pires na mão – como é o caso de muitos municípios baianos – novos serão criados, para escorchar ainda mais o contribu

Olhos d’água que secam, soterrados

                          Poucas coisas ajudam a definir e a caracterizar a Feira de Santana tão bem quanto os olhos d’água. Certamente só as feiras-livres, que nasceram e se expandiram junto com a recém-declarada metrópole, podem rivalizar em relevância e identidade, já que o próprio nome da cidade decorre dessa inspiração. Afinal, no cáustico sertão baiano, a existência de reservatórios de água à flor da terra, acessíveis aos animais – gado sobretudo – fatigados por extensas caminhadas configuravam significativo conforto. Recompostos pelos pastos e pela água abundantes, seguiam para os abatedouros de Salvador, destinados a alimentar a população da capital baiana.             A modesta feira-livre inicial multiplicou-se, ganhando praças e vielas; estendeu-se, mudou de lugar, mobilizou milhares de comerciantes e consumidores; atraiu visitantes de lugarejos distantes, sua pujança fez fama de boca em boca sertões afora; depois se diluiu em diversas feiras-livres nos bairros que

Lembranças de Havana (X)

Estive em Havana para apresentar dois trabalhos: um deles referia-se ao Plano Plurianual Participativo (PPA-P) que a Bahia implementou em 2007. Uma experiência interessante da qual participei e cujas lembranças resultaram num artigo apresentado no Palacio de Convenciones de La Habana. Na mesa, uma miscelânea de expositores: o mais exótico era um boliviano com cara de índio que fazia doutorado no Canadá e que conduziu uma discussão bastante lúdica sobre a terra e a relação dos povos andinos com a terra. Na plateia havia um debatedor grisalho que, horas depois, revi no hotel em um programa de tevê discutindo aspectos políticos do embargo promovido pelos norte-americanos à ilha. O espaço era amplo, havia tradução simultânea e, imagino, deve abrigar discussões inclusive com chefes de Estado. A exposição despertou interesse entre a plateia: mais pelo tema político que chamava atenção que, propriamente, pelo expositor. Notei que uns jovens estudantes cubanos acompanhavam com inte

O Sonho e o Feijão

                                      Crescimento econômico não necessariamente apresenta uma correlação direta com desenvolvimento e redução das desigualdades: é um dos seus determinantes, mas não é o único e, dadas as transformações em curso na economia mundial, talvez nem seja mais o mais importante. Embora o raciocínio seja objeto de inúmeras controvérsias e apaixonados debates, pensar nesses termos é desejável para desconstruir mitos que vão se solidificando aos poucos e que, com o passar do tempo, se tornam verdades incontestáveis.             No Brasil, por exemplo, ainda prevalece uma mentalidade há muito sepultada nos países desenvolvidos: o mito de que a riqueza e a pujança de uma sociedade se devem, principalmente, à expansão das atividades industriais. Essa ideia surgiu para sepultar um raciocínio ainda mais antigo: o de que só o setor agropecuário é o responsável pela geração da riqueza. Isso foi lá no século XVII.             A origem desse embate está na tran

Temas prosaicos em grandes e médias cidades

                Nas esquinas, nas mesas dos bares e restaurantes, nos intervalos para o café no ambiente de trabalho e até mesmo nas salas de jantar há temas que, vira e mexe, dominam as conversas. Nas grandes e médias cidades prevalece nas conversas, há alguns anos já, os problemas de trânsito e os engarrafamentos gigantescos que atrapalham a vida dos cidadãos. Não há quem não tenha experimentado a sensação de ver a vida escorrendo, monótona e inútil, das janelas dos carros, respirando a fumaça tóxica dos escapamentos.             A insegurança também é tema recorrente, já incorporado à rotina. Afinal, não é toda hora que se pode sair de casa (as madrugadas são proibitivas) e, caso se possa fazê-lo, nem todo lugar é recomendável. Há, também, que se ter cuidado com os transeuntes: um ou outro, aqui ou ali, mal-vestido ou com comportamento estranho, torna-se automaticamente objeto de suspeitas. E tome advertências nos serões familiares, principalmente para os mais jovens.   

Nova ameaça de privatização da Embasa?

                                   Uma intensa boataria circulou há alguns dias sobre a possibilidade de privatização da Empresa Baiana de Águas e Saneamento, a Embasa. Sonho acalentado pelo finado PFL na virada dos anos 1990 para os anos 2000, a história ressurge num momento pouco oportuno para os privatistas de plantão: exatamente quando uma seca rigorosa castiga os sertões baianos e a importância do acesso à água ocupa papel central no noticiário. A direção da estatal imediatamente desmentiu, negando que pretenda abrir o capital da empresa, conforme foi noticiado.             A luta contra a privatização da Embasa foi um dos momentos mais marcantes da história recente dos movimentos sociais na Bahia e também na Feira de Santana. No âmbito estadual, o processo foi tocado com a truculência característica do coronelismo de anos atrás: covardemente, a Assembléia Legislativa aprovou a desestatização da empresa em meados de 1999.             Depois, constrangeu prefeituras ali