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Feira deve ter novo prefeito semana que vem

Se tudo sair conforme se anuncia, semana que vem Feira de Santana terá um novo prefeito: Colbert Martins da Silva Filho (MDB), vice-prefeito, assumirá o posto com a renúncia de José Ronaldo de Carvalho (DEM), que sai para tentar uma vaga no Senado, integrando a chapa das oposições. É o que se anuncia há tempos. O próprio chefe do Executivo, inclusive, desde meados do ano passado confirma essa intenção. Há quem aposte até numa candidatura para governador, caso o prefeito de Salvador, ACM Neto, desista da corrida sucessória.
A ascensão de Colbert Filho marca um momento ímpar na História do município, pois será o primeiro filho de prefeito a assumir o cargo. Herdeiro do lendário Colbert Martins – chefe do Executivo da Feira de Santana duas vezes nas décadas de 1970/1980/1990 – ele terá um intervalo razoável para mostrar seu trabalho: dois anos e nove meses, aproximadamente.
A mudança vem gerando inúmeros comentários pela cidade. Com eles surgem, inevitáveis, as especulações sobre modificações na equipe. Nomes são escalados e desalojados pelos comentaristas num frenesi que revela a ansiedade que paira no ar. As discussões emergem nos ambientes de trabalho, pelas vias públicas, nos encontros ocasionais entre amigos.
É longevo o predomínio de José Ronaldo na política feirense: ele chegou à prefeitura nas eleições de 2000 e, à exceção do mandato de Tarcízio Pimenta – que se estendeu de 2009 a 2012 – esteve no comando do município todos esses anos. São quatro mandatos e a mais longa hegemonia em curso de um único partido – o DEM – em cidades brasileiras do porte da Feira de Santana. Mas, ao que tudo indica, chegou o momento de tentar alçar voos mais altos.

Expectativa

Colbert Filho nunca esteve à frente do Executivo, mas possui extensa trajetória parlamentar. Foi deputado estadual na primeira metade dos anos 1990 e, em 2002, retornou à Câmara dos Deputados com votação expressiva na Feira de Santana. Em 2006 renovou o mandato, mas, em 2010, não conseguiu reeleição. Nesses oito anos, teve atuação destacada no Congresso Nacional.
Brasileiros habituados ao noticiário político se acostumaram às referências a seu nome, sobretudo na imprensa institucional. Enfronhou-se na discussão das grandes questões nacionais tendo até participado de missões internacionais representando a Câmara dos Deputados. Essa trajetória lhe conferiu traquejo político, o que o credencia a assumir a prefeitura feirense.
Seus movimentos, até aqui, reforçam essa sensação. Afinal, discreto, praticamente não se manifestou sobre transição ou sobre nomes que integrarão seu governo. Também não revelou quais são seus planos em relação à gestão. A intensa instabilidade política e as incertezas eleitorais, densas, obviamente desencorajam manifestações mais expansivas.

Futuro Governo

Caso efetivamente assuma, Colbert Filho deve se empenhar para dar feição própria ao governo. Afinal, restam quase três anos de mandato, tempo suficiente para ajustar a agenda administrativa e priorizar novos projetos; com ele, devem ascender nomes movidos por novas ideias, que provavelmente vão trazer mudanças para a prefeitura; e imagina-se que, lá adiante, manifeste a pretensão de se reeleger: para tanto, vai precisar exibir legado próprio, mesmo adotando o discurso da continuidade administrativa.
Em alguma medida, o êxito do seu mandato vai depender do que acontecerá em outubro: as oposições vão chegar ao poder em outubro na Bahia? Quem prevalecerá na peleja pelo Palácio do Planalto? Os atores políticos locais vão alcançar sucesso em suas empreitadas eleitorais? São fatores que ajudarão moldar mais da metade do seu mandato. Mas é claro que existe uma margem grande de autonomia à frente da prefeitura que, imagina-se, será usada.
Na Feira de Santana, essa vai ser a primeira grande mudança política do ano. E o eventual sucesso – ou não – do prefeito José Ronaldo de Carvalho na disputa majoritária determinará o novo xadrez da política feirense. Eleito, ampliará poder e influência; caso seja derrotado, dependerá do resultado global das eleições para dimensionar o revés. De qualquer forma, seguirá influente na política do município.

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