Ainda
faltam três anos para o fim da década atual. Mesmo assim, o número de
homicídios na Feira de Santana já era 12,45% maior, no início de dezembro, que
na década anterior, encerrada em 2010. Os números integram os balanços
divulgados pela Secretaria da Segurança Pública e são acompanhados com
competente diligência pelos radialistas feirenses especializados em cobertura
policial. Há leve variação nos levantamentos, mas a sinalização é a mesma: a
barbárie se incorporou à rotina da cidade, com média aproximada de um homicídio
por dia nos últimos anos.
Desde
janeiro de 2011 até o fim de novembro passado foram registrados 2.428
assassinatos no município. É mais que as 2.159 ocorrências do gênero
notificadas entre 2001 e 2010. A diferença corresponde ao acréscimo de 12,45%
aludido no parágrafo inicial. Note-se que ainda faltam três anos para o final
da década: o crescimento até lá, portanto, vai ser muito expressivo.
Na
década atual, somente em 2015 o número de assassinatos foi inferior a 300: os
registros oficiais, naquele ano, indicaram 282 mortes. A marca macabra foi
restabelecida em 2016 (358 ocorrências) e em 2017 (mais 329 até o final de
novembro). Esses números desconsideram os latrocínios – roubos seguidos de
morte – e as vítimas de confrontos com a polícia, os famigerados “autos de
resistência”.
Uma
leitura otimista pode indicar que já houve um intervalo mais macabro, entre
meados da década passada e o início da atual: em apenas quatro anos, entre 2009
e 2012, foram precisos 1.518 homicídios. O ano mais terrível foi 2012, quando a
velada guerra urbana rendeu 412 cadáveres. Foi naquele ano, a propósito, que a
Polícia Militar promoveu um motim que resultou em mais de quarenta assassinatos
em um único dia, no mês de abril.
Naqueles
quatro anos, a média anual de assassinatos alcançou impressionantes 379,5.
Quando se considera a década atual, a média é inferior: 346,8 homicídios por
ano, abaixo daquele quadriênio bárbaro. Note-se que, a essa soma, faltam os
números de dezembro. É muito acima, porém, que a década anterior, a dos anos
2000, quando foram mortas 215,9 pessoas por ano.
Patamar altíssimo
Pode-se
se afirmar que, nos últimos anos, os números tendem à estabilização, mas num
patamar altíssimo, que não justifica as corriqueiras celebrações. Os números,
como sempre, sustentam o raciocínio: desde 2007 que, todos os anos, são
assassinadas, pelo menos, 235 pessoas na Feira de Santana. E somente em 2007,
2008 e 2015 houve menos que 300 assassinatos na cidade.
O
cenário dá margem a inúmeras interpretações. Uma delas é que a política de
segurança pública tão exaltada pelos governantes – focada na aquisição de
viaturas, armamentos, munição, coletes balísticos e contratação de policiais –
é questionável: quanto mais se anunciam medidas do gênero, mais a violência tem
crescido. Qual a relação entre as duas variáveis? Mais polícia é a única
solução para o problema? Não existem explicações, porque essas políticas
públicas não são avaliadas e o tema é tabu para os governantes, que temem
perder votos.
Normalmente,
se prefere a tradicional demonização dos afrodescendentes pobres, jovens,
residentes nas periferias, que figuram entre as principais vítimas desse
genocídio, que avança no varejo, mas que produz resultados no atacado. Tem sido
cômodo atribuir suas mortes à guerra de facções ou ao consumo do crack,
pretexto que caiu em desuso depois que o sistemático aniquilamento desses
infelizes tornou-os menos visíveis pelas ruas.
Não
existe guinada civilizatória à vista, que permita outro olhar sobre a barbárie.
Muito pelo contrário: o que há é a disposição pela formalização do extermínio,
ampliando as salvaguardas dos militares para apertar o gatilho. É o que prometeu
quinta-feira (14) um dos principais candidatos à presidência da República, para
delírio dos estroinas que o exaltam, babosos.
Ressalte-se que a Feira de
Santana é apenas um contundente recorte da triste realidade do país. Brasil
afora, todos os anos, morrem dezenas de milhares de pessoas assassinadas. O
lúgubre endurecimento que se anuncia é o prenúncio de mais violência, mais
mortes, mais dor e sofrimento e mais prejuízos para a sociedade.
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