Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de fevereiro, 2022

A crônica do excesso de assunto

  É recorrente no jornalismo a crônica sobre a falta de assunto. Muita gente já escreveu sobre o tema, explorando crises passageiras de criatividade. Rubem Braga, por exemplo, notabilizou a falta de assunto num dos seus textos imortais. Outros tantos tentaram, com variados graus de sucesso. Por outro lado, não sei se já circulam por aí crônicas sobre o excesso de assunto. Os últimos dias, por exemplo, tem sido prenhes de grandes novidades. Está difícil abordar uma questão de cada vez. Neste cardápio amplo dos últimos dias, escolher um assunto só, investir nele e dele extrair um texto pode gerar mais frustração que, propriamente, contentamento, sensação de dever cumprido. Afinal, o que não falta é assunto. O cronista local, por exemplo, pode esmiuçar inúmeros tons da infindável peleja entre o Executivo e o Legislativo feirenses. Matéria-prima não falta, Deus seja servido. Caso expanda os horizontes, conectando-se a Salvador – imagino o mar belíssimo nesses dias que antecedem o Car

Estranha semana de Carnaval

  A semana que antecede o Carnaval é de ebulição em Salvador. As festas preparatórias, os blocos desfilando na Barra, a lufa-lufa dos trabalhadores –músicos, ambulantes, jornalistas, profissionais da saúde, da segurança, dos hotéis, bares e restaurantes –,tudo envolve aquela energia que magnetiza todo mundo, inclusive quem não curte a folia. Mas, neste estranho ano pandêmico de 2022, sensatamente, não haverá Carnaval. A semana será estranha. A vida na capital envolve um ciclo. Invariavelmente o ânimo do soteropolitano se revigora com a luz da primavera. Vai crescendo com a proximidade do verão, com as festas, com o ciclo dos festejos religiosos, com o desembarque dos turistas embasbacados. Em fevereiro, com a chegada do Carnaval, o clímax deste estado de espírito se aproxima, realizando-se na semana de delírio momesco. Depois do êxtase sempre vem a prostração. É logo depois da folia, quando as águas de março caem, copiosas, fechando o verão. O soteropolitano, então, se rende, exa

Breve memória das Feiras do Rolo

  Nem todo mundo lembra – ou possui idade suficiente para recordar – mas a famigerada Feira do Rolo já aconteceu na maltratada Praça Froes da Mota, no centro da Feira de Santana. No começo dos anos 1990 surgiram os primeiros vendedores e, também, os primeiros consumidores. Com o passar do tempo, o comércio foi se expandindo, ganhando fôlego. Os tempos eram ásperos: estagnação econômica, inflação galopante e escassas oportunidades de trabalho empurraram muita gente para aquela ocupação precária. As Feiras do Rolo – arranjo comercial de quem sobrevive no sufoco – sempre carregaram um forte estigma: nelas, desaguavam os produtos de furtos e assaltos, sobretudo daqueles bens de fácil transporte e comercialização. Não deixa de ser verdade. Por isso a ojeriza a esses espaços é sólida, arraigada Brasil afora. Mas é verdade também que muita gente apela à Feira do Rolo para fazer dinheiro rápido num momento de aperto financeiro, desfazendo-se de algum bem. Na Froes da Mota exibiam-se bici

A Rua da Palma e um episódio pitoresco

  Passei parte da minha meninice morando na Rua da Palma, ali no Sobradinho. Naquela época não tinha noção do sentido poético da denominação: criança, julgava que fosse referência às palmas das mãos ou dos pés, sei lá. Só depois de crescido é que fui absorver a carga lírica da homenagem, referência à planta sertaneja que – segundo me ensina a intern et – é originária do México. Pode ser. Mas sua identidade com o sertão nordestino, com a vida áspera, mas bela, dos sertanejos, é visceral. Vá lá que, naquela época – e ainda hoje – não existiam palmas na Rua da Palma. O que havia eram esguias, mas imponentes, baraúnas, defronte a casa em que residíamos. Pela manhã elas projetavam uma sombra boa, que abrigava as brincadeiras das crianças. À tarde, as copas refletiam a luz alegre do sol, sobretudo nos incandescentes verões feirenses. Nunca esqueci as obras que trouxeram calçamento e esgotamento sanitário para a Rua da Palma. Foi na primeira metade dos anos 1980, João Durval era o gover

Em 2022, quase 50 óbitos suspeitos ou confirmados por Covid-19 em Feira

  Quando a variante ômicron da Covid-19 chegou ao Brasil, Jair Bolsonaro, o “mito”, disse que esta era “bem-vinda”. Cultivava-se, naquele momento, a ilusão de que a ômicron matava pouco, que era menos letal e outras fantasias. A nova onda alastrou-se pelo Brasil – e por todo o planeta – de maneira avassaladora, matando relativamente menos por aqui por con ta da vacinação. Mas, mesmo assim, os números são inquietantes. Na Feira de Santana, por exemplo, morreram 49 pessoas com suspeita ou confirmação de Covid-19 desde o começo de janeiro. Ano passado, no mesmo intervalo – naquele momento a vacinação apenas começava – foram registradas 89 mortes. Os números são da Central de Informação de Registro Civil – CRC Nacional – e podem ser acessadas pelo endereço eletrônico https://transparencia.registrocivil.org.br/especial-covid . No mesmo site é possível observar que a média móvel de mortes suspeitas ou confirmadas por Covid-19 oscilou a partir do início de fevereiro, alcançando dois óbi