Pouca
gente vem comentando, mas o perfil partidário das prefeituras baianas mudou nas
eleições de 2016. Desde sempre a situação fazia – no mínimo – 300 prefeituras
aliadas. O cenário era válido até 2006 – quando o então PFL, atual DEM,
dominava a política local – e, depois, permaneceu parecido com a ascensão
petista. Há dois anos, porém, a dinâmica mudou: mesmo na Bahia, o PT sofreu derrota
expressiva, passando de 92 prefeituras para apenas 39; e a oposição avançou,
conquistando, sobretudo, as prefeituras das cidades maiores.
Três
dos quatro maiores municípios estavam com o DEM: Salvador, Feira de Santana e
Camaçari. A legenda conquistou também as prefeituras de Barreiras e Alagoinhas.
O MDB – então aliado preferencial – levou Vitória da Conquista, Simões Filho e
Valença e, agora, herda Feira de Santana com a saída de José Ronaldo de
Carvalho e a ascensão de Colbert Filho. No total, a oposição levou oito das 20
maiores prefeituras.
Graças
às prefeituras de Salvador e Feira de Santana, o DEM governa 68,3% do Produto
Interno Bruto (PIB) dos 20 maiores municípios. O PT – partido do governador Rui
Costa, candidato à reeleição – toca apenas 4,3% do PIB dos 20 maiores, em Lauro
de Freitas. Seu aliado mais destacado, o PSD do senador Otto Alencar, governa
9,3% desse indicador.
A
hegemonia do DEM manifesta-se também em relação à proporção de votos válidos na
Bahia. A legenda recebeu 31,9% desse total nas eleições de 2016. O PSD ocupa
uma distante segunda colocação – com 15,9% - e o PT não passa de 7,7%, perdendo
inclusive para o atual MDB, que cravou 9,7% do total dos votos válidos naquele
pleito. Esses números, evidentemente, incluem Salvador e Feira de Santana,
maiores colégios eleitorais do estado e responsáveis por expressiva parcela da
população votante.
Quando
se considera o total de prefeituras conquistadas, o governismo mostra-se mais forte:
o PSD arrebatou 86 e, na sequência, aparece o PP, com 56; o oposicionista MDB
figura em terceiro, com 48 prefeituras, para só então aparecer o PT, com 39; na
sequência, coloca-se o DEM, com 34 prefeituras. O governismo, portanto,
mostra-se proporcionalmente mais forte quando se consideram os rincões, as
pequenas cidades espalhadas pelo amplo território baiano, com população mais
escassa.
Análise
Os
dados acima integram a publicação “Mapa das Eleições nos Municípios Baianos em
2016”, da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI),
autarquia da Secretaria do Planejamento. E espelham o duro revés petista depois
da eclosão da crise econômica, do impeachment
de Dilma Rousseff (PT) e das investigações sobre o esquema de corrupção na
Petrobras. Mas será que aquela realidade perdura até os dias atuais, pouco mais
de um ano depois? E será que provocará efeitos sobre as eleições de outubro
para governador?
O
DEM exibe como trunfo vencer duas eleições municipais seguidas em Feira de
Santana e Salvador. Avançou em grandes centros, ampliou o número de prefeitos –
em 2012 elegeu apenas oito – e testemunhou o avanço do MDB e do PSDB, dois
potenciais aliados na batalha contra o petismo. Conta, portanto, com um
eleitorado amplo que conhece a legenda e suas principais lideranças políticas.
É um capital, mas eleições estaduais e nacionais são mais complexas que as
disputas locais.
As
candidaturas presidenciais bem avaliadas, por exemplo, tendem a influenciar na
escolha do eleitorado local, apesar das especificidades municipais. Lula sempre
foi um poderoso cabo eleitoral quando presidente, função que Fernando Henrique
Cardoso também desempenhou nos anos 1990. Em 2018, porém, o cenário está mais
enevoado e não se sabe quem pode canalizar votos para as candidaturas postas ao
Palácio de Ondina.
O
certo é que o legado de Michel Temer (MDB-SP), o mandatário de Tietê, vai ser
refugado de parte a parte: petistas tentarão repassar para os adversários o
ônus do descalabro em curso; e não vai faltar quem lembre que Michel Temer era
o vice de Dilma Rousseff – portanto integrante da chapa petista – e que Geddel
Vieira Lima começou a ascender com o apoio entusiasmado do PT, no segundo
governo Lula.
Mas tudo isso são
conjecturas, devaneios de quem não consegue, sequer, visualizar o horizonte
próximo com clareza. O fato é que o cenário eleitoral permanece turvo, embora
alianças já se firmem, permutem-se apoios e, em alguns casos, aposte-se em
vitórias retumbantes. Os próximos meses – que devem envolver intensas tramas
jurídicas – vão, aos poucos, descortinando o horizonte.
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