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Cultura e História no Mercado de Arte Popular



               
               Um dos espaços mais relevantes da história da Feira de Santana é o chamado Mercado de Arte Popular , o MAP. Às vésperas de completar 100 anos – foi inaugurado formalmente em 27 de março de 1915 – o entreposto foi se tornando uma necessidade ainda no século XIX, mas só começou a sair do papel de fato em 1906, quando a Câmara Municipal aprovou o empréstimo de 100 contos de réis que deveria custear sua construção.  Atualmente, o MAP passa por mais uma reforma que, conforme previsão da prefeitura, deverá ser concluída nos próximos meses.
                Antes mesmo da proclamação da República, em 1889, já se discutia na Feira de Santana a necessidade de construção de um entreposto comercial que pudesse abrigar a afamada feira-livre que mobilizava comerciantes e consumidores da região. Isso na época em que não existia a figura do chefe do Executivo, quando as questões administrativas eram resolvidas e encaminhadas pela Câmara Municipal.
                Somente em 1901 foi aprovada pelos vereadores uma lei que tratava da construção do mercado. Mais cinco anos foram necessários para se aprovar o empréstimo. A operação se fazia obrigatória em função da escassez de recursos próprios do município. No entanto, a desorganização que imperava com a feira-livre tornava indispensável a construção do entreposto.
                Conforme já mencionado, em 1915 o mercado foi inaugurado, embora ainda hoje seja visível, na fachada externa do MAP, o ano de 1914 como marco da construção. A inauguração se deu sob a gestão do intendente Bernardino Bahia, posto equivalente ao de prefeito na chamada República Velha. O responsável técnico pela obra foi Aciolly Ferreira da Silva.
                 
                     Mudanças
                 
                 Na primeira metade do século XX a construção causava impressão em feirenses e eventuais visitantes.  Afinal, fora concebido com “telhados de duas e quatro águas”, todo ele recoberto em “telha vã”, sustentado por “colunas toscanas intocadas”. A descrição arquitetônica não para por aí: “fachadas envolvidas em arcos que dão acesso aos boxes”.
                O padrão adotado à época foi replicado em outros municípios baianos. Mercados municipais existentes em Lençóis, Barra, Rio de Contas e São Félix possuem semelhanças com o entreposto feirense. Note-se que, a exemplo da Feira de Santana, esses municípios viviam, no período, o mesmo fenômeno da urbanização crescente que se verificava na recém-batizada Princesa do Sertão.
                Nos primeiros anos da década de 1950 já era visível que o mercado caminhava para a saturação. O comércio, antes restrito aos corredores do entreposto, ganhava as ruas adjacentes, expandindo-se graças à construção das rodovias que iam encurtando distâncias e intensificando o comércio.
                
                    Remoção
                 
                 Como todos sabem, as funções originais do mercado municipal foram interrompidas em 1977, com a remoção da feira-livre para o Centro de Abastecimento. Em 1980, sob a gestão de Colbert Martins, o entreposto foi reaberto com uma nova função: impulsionar a comercialização do rico artesanato popular da Feira de Santana. Em 1989, já no segundo mandato de Colbert Martins, houve nova intervenção, com a restauração do telhado, piso, sanitário, instalações elétricas e hidráulicas.
                Em meados de 1998 houve mais uma intervenção no entreposto. Foi nela que alguém teve a deplorável ideia de substituir o telhado por chapas metálicas, que descaracterizam esse patrimônio arquitetônico e produzem um calor insano nas tardes escaldantes da Feira de Santana. Alvo de reclamações por quase duas décadas, torce-se que, no ano do seu centenário, o MAP seja revalorizado com sua cobertura original.
                Fundamental na consolidação da Feira de Santana como entreposto comercial na primeira metade do século XX, o MAP, além de representar parte da rica história do município, é imprescindível em qualquer estratégia de dinamização do centro tradicional da Princesa do Sertão. É necessário pensá-lo, portanto, para além das intervenções rotineiras que buscam a recuperação de sua estrutura física.
                  

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