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Fim de semana de intensa agitação política

O final de semana foi pulsante na política brasileira e aqui na Bahia também. Confirmando aquilo que se esperava, Lula foi preso no sábado, em São Bernardo do Campo (SP). Seguiu, na sequência, para a carceragem da Polícia Federal, em Curitiba. Embora episódios mais dramáticos de violência não tenham sido registrados – houve confronto entre policiais e militantes lulistas na capital paranaense – a tensão política no Brasil se aprofundou. Ninguém sabe o que virá pela frente, porque o presente, hoje, é muito diferente do que já foi no passado.
As perguntas se avolumam porque o cenário vai ficando cada vez mais imprevisível. Isso apesar de as eleições estarem marcadas para outubro o que, em tese, garantiria o restabelecimento da normalidade democrática no Brasil, enodoada pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT) em 2016. A prisão do líder petista vem, apenas, atear mais gasolina à fogueira.
Pelo que se vê no noticiário, o PT pretende sustentar a indicação de Lula – mesmo preso – até setembro, quando o Superior Tribunal Eleitoral (STE) vai julgar sua candidatura. Não é remota a possibilidade de ele ganhar liberdade antes disso, retomando a campanha para defender a candidatura que – tudo indica – será indeferida lá adiante.
Não existe solução ideal para o imbróglio no qual o País mergulhou: com Lula preso ou solto, candidato ou não, haverá insatisfações, ânimos acirrados, disposição para a briga. Cenas de pugilato – inclusive envolvendo profissionais da imprensa – avolumam-se, embora em escala ainda modesta. Mas já se disseminam pelo Brasil.
Tudo indica que, à medida que outubro se aproximar, haverá mais conflitos, talvez turbulências graves. Quem defende um golpe – esse sem subterfúgios – esfrega as mãos, porque as possibilidades estão crescendo. Os sinais emitidos por autoridades militares são inquietantes; há inegável apoio de parte da população; e a política – esse penoso esforço para a construção de consensos mínimos – parece incapaz de, no curto prazo, apresentar uma solução para o País.

ACM Neto desistiu

Na Bahia, o final de semana foi mercado pela desistência do prefeito de Salvador, ACM Neto, de lançar-se candidato a governador para enfrentar Rui Costa (PT). Surpreendeu todo mundo, inclusive aliados políticos, que se mostraram inconformados. Mas, logo no sábado, foi lançada a candidatura de José Ronaldo de Carvalho (DEM), prefeito de Feira de Santana, que já se afastou do cargo.
Pelo jeito, o único nome consensual na oposição era ACM Neto: o PSDB baiano julgou o lançamento precipitado e pretende amadurecer, ele mesmo, a hipótese de também lançar uma candidatura. Pode ser uma estratégia para forçar a realização de um segundo turno. Até aqui, porém, o comportamento da oposição mostra que a desistência do prefeito de Salvador foi um baque e que as peças se desarrumaram no tabuleiro.
Rui Costa, por enquanto, parece navegar tranquilo. Mas o cenário no País é turbulento demais para antecipar resultados, fazer prognósticos. Sobretudo porque seis infinitos meses – nessa época de intensas surpresas quase diárias – separam candidatos e eleitores das urnas. Muita coisa deve acontecer até lá. Há incertezas, inclusive, para a montagem dos palanques presidenciais na Bahia.
Talvez os próximos dias tragam respostas para questões candentes. Afinal, Lula seguirá preso? A mobilização favorável ao petista vai se estender ou perderá fôlego? Quem peleja movido pelo ódio vai seguir destilando bílis ou os ânimos vão serenar? E quando surgirão os indispensáveis debates sobre o incerto destino do País? Algumas respostas talvez surjam aí, logo à frente.
Resta aguardar para ver. E seguir no esforço hercúleo de tentar entender a intrincada realidade do momento.

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