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Mostrando postagens de setembro, 2011

Pensando o sistema de transportes da RMFS

               Depois de uma intensa esgrima política e da apoteótica sessão itinerante da Assembléia Legislativa para aprovar a criação da Região Metropolitana de Feira de Santana (RMFS), ninguém fala mais do assunto, que sumiu do noticiário. É possível que governistas e a oposição estejam se municiando para voltar à carga ano que vem, durante as eleições municipais. Infelizmente, questões cruciais relacionadas à vida da cidade só são abordadas durante o período eleitoral, quando surgem incontáveis candidatos desejosos de se promover junto ao eleitorado.             Provavelmente o primeiro passo para consolidar a RMFS como espaço integrado nas dimensões econômica e social é o fortalecimento do sistema de transportes entre a Feira de Santana e os municípios do entorno: Amélia Rodrigues, Conceição da Feira, São Gonçalo dos Campos, Conceição do Jacuípe e Tanquinho. Afinal, sem um sistema sólido de mobilidade, a integração de fato não sai do papel.             Hoje, deslocar-se p

Lembranças de Havana (VI)

-->   O Malecón é uma extensa avenida que corta a orla de Havana. É muito larga e o trânsito é bastante inferior àquilo que se poderia imaginar. Do trecho onde fica o Hotel Nacional e o Porto de Havana faz-se uma extensa, mas agradável, caminhada. O mar, no final do inverno, amanhece sempre azul-esverdeado, num tom escuro. Uma extensa e larga mureta separa a calçada das rochas escuras pelo limo e, sobretudo, do mar que avança voraz nos momentos de maré alta. Em alguns trechos da orla as ondas esbarram, furiosas, contra a mureta e invadem a calçada e até mesmo o asfalto da avenida. Á distância o espetáculo é fascinante: o mar recua com um som abafado, formando a onda que ganha corpo e depois avança, num ruído crescente, sobre as rochas e sobre a amurada; uma espuma grossa e parda se forma, alcançando dois ou três metros, brilhando à luz do sol; depois reflui, para formar uma nova onda que tentará a mesma façanha. De perto, o espetáculo incomoda: o vapor de água fria e salga

Centro de Abastecimento e identidade cultural da Feira (II)

                 Em artigo na semana passada defendemos a necessidade de se discutir com a comunidade qualquer mudança no Centro de Abastecimento. A prefeitura vem divulgando que pretende transferir o comércio atacadista de hortifrutigranjeiros para uma espécie de porto seco, na BR 116 Norte, na saída para Serrinha. Vítima de processo semelhante há quase quatro décadas – lá em meados dos anos 1970 – a antiga feira que existia no centro da cidade foi removida para o Centro de Abastecimento e perdeu muito de sua identidade original de feira-livre.             Bem ou mal, em quatro décadas o Centro de Abastecimento construiu uma identidade. É para lá que acorrem os visitantes que vem de dezenas de municípios e de centenas de distritos, povoados e comunidades rurais das imediações; Funcionalmente, é lá que se abastece o robusto e pouco estudado comércio dos bairros feirenses. É lá que os donos de centenas de mercadinhos da Feira de Santana compram para abastecer sua clientela, assi

Lembranças de Havana (V)

-->            Depois de um longo percurso através de ruas largas, arborizadas e com pouco trânsito, chega-se ao Centro de Convenções de Havana. Fica distante uns cinqüenta metros de uma avenida larga e asfaltada. Sob as sombras úmidas das árvores estão estacionados antigos automóveis. Grupos de motoristas conversam animadamente e gesticulam. A vivacidade lembra as rodas de papo no interior na Bahia. Aparentemente, são choferes de praça.             A ostensiva presença de carros tão antigos invoca a lembrança de tempos não vividos: meados dos anos 1940, primeira metade da década de 1950. O sol pálido do final de inverno, que espalha uma luz branca sobre as folhas inertes das árvores, reforça essa sensação. Faz um frio muito suave.             O Centro de Convenções de Havana é tão pomposo quanto o nome sugere. Espaços muito amplos, atendentes devidamente fardadas, um bar onde se serve café e água mineral. Os garçons se movimentam com a solenidade dos garçons dos filmes d

O Centro de Abastecimento e a identidade cultural da Feira (I)

              Ultimamente vejo de passagem, numa nota ou outra divulgada pela imprensa, que a Prefeitura Municipal pensa em transferir o comércio atacadista de hortifrutigranjeiros do Centro de Abastecimento para uma espécie de porto seco que se pretende construir em algum ponto da BR 116 Norte, na rodovia para Serrinha. A intenção embute uma constatação óbvia: da forma como está, é impossível a continuidade da atividade no Centro de Abastecimento. Mas com base em quê se pretende fazer a alteração?             Em contínua degradação desde meados dos anos 1980, o Centro de Abastecimento está em situação pior exatamente onde desembarcam os caminhões que alimentam o comércio atacadista no entreposto, ali às margens da Avenida Canal, defronte à praça esportiva Beira-Riacho.             O cenário é de abandono: cercas com as telas arrancadas, calçadas com grandes crateras, animais pastando no mato que cresce vistoso perto dos armazéns de cebola, uma sujeira densa que impregna os par

Lembranças de Havana IV

-->   No quarto do Hotel Vedado os móveis são antigos e os lençóis, surrados. Há um aparelho de televisão que lembra aqueles que eram vendidos no Brasil na primeira metade da década de 1980. No banheiro encontra-se um luxo que, certamente, não está acessível aos cubanos: uma banheira. Pelo basculante é possível enxergar, com dificuldade, as fachadas dos prédios no entorno. Embora próximo, não se vê o mar, por causa dos prédios.             Uma meia-dúzia de emissoras de tevê está disponível para os telespectadores. Durante a madrugada, uma delas exibe algo difícil de se ver na televisão brasileira: uma apresentação de balé. Outra passava propaganda governamental e uma terceira exibia avaliações sobre a crise econômica que se acentuava – era início de março de 2009 – no mundo capitalista.             Durante o café da manhã no Hotel Vedado não havia o mesmo burburinho da noite anterior, mas as pessoas que se serviam demonstravam a ávida inquietação de turistas que desejam c

Campus da UFRB reforça condição de polo acadêmico

Passou meio despercebida, mas não deixa de ser alvissareira a notícia de que a Feira de Santana vai ganhar um campus avançado da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). A reivindicação, antiga, durante muitos anos alimentou um certo complexo de inferioridade da Feira de Santana em relação a Campina Grande, município do sertão paraibano que, há muitos anos, conta com uma universidade federal e que se tornou referência acadêmica no tórrido sertão nordestino. Municípios até menores no interior mineiro e no interior gaúcho também tem universidades federais, o que alimentou o discurso provinciano de que governantes atuais e antigos não gostam da Bahia.             O problema é que o anúncio não passou de um mero anúncio: fala-se que a cidade ganhará um campus, mas não se disse quando, nem onde e nem quantos cursos serão oferecidos. Pior: a notícia inflamou estudantes da UFRB que, reunidos em Cruz das Almas, decidiram entrar em greve. A alegação é que os recursos para a in

Lembranças de Havana (III)

-->               Logo à saída do aeroporto se vê o famoso out door anunciando que, na noite em que o viajante chega em Havana, milhões de crianças dormirão na rua no mundo, mas que nenhuma delas é cubana. No mais, o entorno do aeroporto Internacional José Martí é pouco povoado, como tantos outros aeroportos espalhados pelo mundo. O que desola é a escuridão intuída antes do desembarque: de fato, as luzes são fugidias e a escuridão é monótona e incomoda.             O motorista do táxi é jovem e liga o rádio do carro. Os sons contagiantes da música caribenha se elevam, ganham a madrugada um pouco fria, afastam o clima de desolação das longas avenidas desertas. Roda-se bastante e, aos poucos, as incontáveis árvores que lançam sombras largas cedem lugar a um casario sóbrio, antigo e mal-conservado.             Quem está acostumado às ruas estreitas do centro das cidades colonizadas pelos ibéricos, enxerga alguma familiaridade à medida que o automóvel avança: a disposição do

...E a máquina eleitoral não pode parar...

                       Embora pareça enfadonho para o leitor, porque já ter tratei do tema uns meses atrás,   não consigo parar de me espantar com a imensa antecipação do debate eleitoral que se faz na Feira de Santana, em Salvador e também em outras importantes cidades brasileiras. Mal se encerraram as eleições de 2010, começou o frenesi para tratar do próximo período eleitoral, que só acontece em meados do ano que vem. Entre uma eleição e outra existe o imenso desafio de governar com o propósito de, supostamente, melhorar a vida dos cidadãos; mas quem vence e, sobretudo, quem perde, começa de imediato a se mexer pensando no próximo pleito.             Por essa razão sites e jornais, todos os dias, divulgam enxurradas de notícias que não dizem coisa nenhuma: “oposição pretende marchar unida”, “surge mais um pré-candidato” ou “fulano diz que é cedo para falar de eleição”. Repetidas ad nauseam , essas “informações” até irritam o leitor. A insistência talvez se deva à falta de