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Mais um passo no desmanche da Educação

A notícia surgiu no final de semana: foi lançada uma proposta no Conselho Nacional de Educação, o CNE, de autorizar que 40% da carga horária do Ensino Médio seja ministrada remotamente, na modalidade à distância. Coisa do MDB de Michel Temer, o controverso mandatário de Tietê. Mendonça Filho (DEM-PE), ministro da Educação até abril – é pré-candidato ao governo de Pernambuco – disse que discorda. Porém, parece que a indagação, a essas alturas, cabe mais ao seu sucessor, que vai arrastar o governo até o estertor final.
Com professor em sala – e assistência supostamente contínua – a Educação pública no Brasil já é sofrível. Imagine com o aluno à distância, aprendendo e executando tarefas sem o devido acompanhamento. Tem tudo para ser um desastre – e vai – caso a ideia prospere.
No fundo, o emedebismo parece pouco preocupado com a qualidade da educação na rede pública. O que prevalece, pelo jeito, são outros interesses, mais compatíveis com o perfil de quem vai arrastando o Brasil à ruína.
Não devem faltar instituições de amigos do emedebê para oferecer a expertise e o know how que essa modalidade de ensino exige. Tecnologia de ponta, que pode ser disponibilizada através de uma providencial parceria com grupo privado companheiro.
O felizardo, inclusive, terá a oportunidade de ampliar seu escopo, abdicando da atuação exclusiva na Educação Superior, que vem empolgando menos desde a eclosão da crise econômica em meados de 2014.
Para o emedebismo será um espetáculo. O governo terá a oportunidade de fazer “mais” com “menos”: ofertará educação – mambembe, precária, meramente cartorial, mas com inegáveis impactos quantitativos – gastando cada vez menos, conforme preconiza a sacralizada emenda constitucional do Teto de Gastos.

Ensino Precário

Uma beleza: na prática, o pobre permanecerá chafurdando no ensino precário – mas engordando estatística -, o empresariado intrépido disporá de um novo filão e o governo restabelecerá o fôlego nas finanças, arcando comodamente com os compromissos com o capital financeiro.
Os ganhos serão vitaminados empregando trabalho precário. Ao invés de professores, tutores; ao invés de servidores públicos, colaboradores terceirizados; ao invés de profissional qualificado, meros “clicadores”, apertadores de botão.
E, para êxtase do clientelismo, sobejarão indicações de monitores cordatos, dóceis – cabos eleitorais, apoiadores, felizardos detentores da “peixada” ou do “pistolão”, gente talhada pela engrenagem eleitoral – que vão ajudar, como peças miúdas de um imenso mecanismo, a fazer girar a capilar e dinâmica indústria do clientelismo.
Abençoando tudo, o “deus mercado”. Afinal, suas prédicas fundamentais – privatização e redução de despesas pelo Estado – estarão sendo cumpridas à risca.  
É ostensivo o descompromisso do MDB com qualquer projeto de desenvolvimento, de nação. Sequer se preocupam em disfarçar. O que existe é a perspectiva do ganho fácil, rápido, brutal, com o fortalecimento de parcerias convenientes, beneficiando grupos vinculados aos interesses no poder.
Tomara que surjam reações: de estudantes, de pais, de profissionais da educação, da sociedade. Vivem-se tempos de escasso engajamento em questões de interesse coletivo. Mas a Educação é tema crucial. Caso haja a aceitação passiva, será dado mais um passo em direção ao abismo com o qual passamos a flertar.

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