Em
outubro o mercado de trabalho na Feira de Santana deu uma guinada positiva: no
saldo, foram gerados 454 postos formais ao longo do mês. É um dos melhores
resultados desde que a crise econômica eclodiu, em meados de 2014. Com esse
desempenho, o déficit de vagas encolheu: no acumulado de janeiro a outubro é
negativo em 233 vagas. Mas já andou bem pior, alcançando -989 empregos no
saldo, em função do desempenho desfavorável no primeiro trimestre.
Em
novembro entraram em vigência as regras aprovadas na controversa reforma
trabalhista, que revogou muitos direitos previstos na Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT). Tudo indica que a formalização vai crescer – sobretudo em
função das novas modalidades incorporadas, particularmente a jornada
“intermitente” – e o resultado apurado no ano, no saldo, tende a ser positivo,
o que não acontece na Feira de Santana desde 2013.
A
análise da situação mercado de trabalho, no entanto, ganhou complexidade. A
mera comparação com o passado é insuficiente, já que a controversa reforma
introduziu mudanças profundas na lógica de recrutamento de mão de obra. Hoje,
por exemplo, graças à modalidade “intermitente”, é possível – e legal –
contratar pagando bem menos que um salário-mínimo.
Logicamente,
isso tende a ampliar as contratações e a formalização. É do que já estão se
jactando Michel Temer (PMDB), o mandatário de Tietê, e seus ministros.
Sustentam, inclusive, o discurso de que a reforma está contribuindo para a
formalização e, por consequência, assegurando direitos. Bazófia: no fundo, o
que há, é a formalização da precariedade.
Precariedade
A
análise da nova realidade do mercado de trabalho vai ter que ir além do número
de empregos gerados e incorporar variáveis adicionais. Uma delas – fundamental
para explicar as mudanças recentes – é o salário médio do trabalhador. Tudo
indica que, a partir daqui, a queda vai ser brusca. Bem mais brusca, inclusive,
que a compressão observada ao longo de 2017.
Considere-se,
por exemplo, o salário médio pago ao comerciário na admissão. O montante vem
caindo: em janeiro este embolsou, em média, R$ 1.120,58. Em outubro, porém, não
passou de R$ 1.070,14. Mas até melhorou, na comparação com setembro, quando não
passava de R$ 1.044,87.
O
auxiliar de linha de produção enfrentou movimento diverso, mas igualmente pouco
auspicioso: recebeu R$ 1.032,52 em outubro, contra R$ 1.052,45 no mês anterior.
Em relação a janeiro, porém, a situação foi mais confortável, já que naquele
mês o salário não ultrapassava os R$ 996,52.
Perspectivas
A
partir de 2018 será possível verificar quanto o salário médio de parte do
trabalhador despencou com a reforma trabalhista. Muita gente caiu no embuste
retórico da “flexibilização” e da “modernização”, acreditando, ingenuamente, que
os impactos não seriam tão brutais sobre os rendimentos. Mas são: com o salário
em torno de R$ 4,50 a hora, muitas vagas ofertadas não bordejam, sequer, um
terço do salário-mínimo.
Parte
dos pobres e assalariados foi às ruas em 2015 e no ano passado lutar pela ética
seletiva nas apoteóticas jornadas que pediam a deposição de Dilma Rousseff
(PT). Alguns empunhavam cartazes rechaçando o pretenso “comunismo” atribuído
aos petistas. E defendiam, iracundos, o livre-mercado, a propriedade privada, a
liberdade de empreender; hoje, estão mergulhando nas delícias do capitalismo
tupiniquim sem reservas.
Em suma, a geração de
postos de trabalho exaltada pelos emedebistas deve ser vista com cautela. Sob
muitos aspectos, vai se verificar a formalização da precariedade. Situações do
gênero devem ser relativizadas nas análises, sob pena de se mascarar a
realidade. Para isso, basta a propaganda oficial.
Comentários
Postar um comentário