Ontem
(23) à noite o céu da Feira de Santana foi palco de um fenômeno impressionante.
Durante o entardecer imensas nuvens encardidas, observadas à distância, foram
tomando a orla do céu ao norte. Quando o poente em brasa se apagou, intensos
relâmpagos foram se aproximando, ganhando as bordas do céu, aparentemente se
aproximando da cidade. A cada instante os raios eletrizavam o horizonte,
iluminando imensas nuvens, plúmbeas, que anunciavam tempestade.
Às
19 horas o espetáculo alcançou o seu ápice: o clarão dos raios e os relâmpagos
nítidos, ora azulados, ora avermelhados, projetavam-se dos lados da BR 116
Norte, clareando as cercanias. Tudo se desenrolava sob o mais absoluto
silêncio: apesar da luz espalhafatosa dos raios, não se ouvia, sequer, o
ribombar de um único trovão.
Completando
o espetáculo – e produzindo efeito dissonante – estava a lua. Era uma meia-lua
discreta, cuja luz, opaca, contrastava com a vívida luminosidade elétrica dos
relâmpagos. Cortejavam-na algumas estrelas de brilho frio, burocrático.
Produziam intenso – e raro – contraste no céu da Feira de Santana. Em alguns
momentos pareceu que a tempestade avançaria, tangendo a lua e as estrelas de
brilho tímido.
Apesar
do espetáculo mudo, a cidade permanecia imersa em sua rotina, com os espaçados
ruídos dos motores noturnos, o espocar esporádico de fogos, os gritos e as
imprecações que ressoam, distorcidos pela distância, na tensa tranquilidade das
noites citadinas. Aqui ou ali, transeuntes distraídos passavam lentos, atentos
somente à luminosidade das lâmpadas elétricas dos postes.
Chuvas
Onde
terá chovido? O observador atento notará que um aparente dilúvio se precipitou
lá nas cercanias da BR 116. Ficaram as dúvidas: São José? Matinha? Tiquaruçu?
Ou mais longe, para os lados de Tanquinho ou Santa Bárbara? Talvez ainda mais
distante, quem sabe em Riachão do Jacuípe? A beleza do espetáculo atiçou o
ânimo de descobrir onde aconteceu.
Depois
de umas duas horas a tempestade de raios foi se deslocando e sua visibilidade
se reduziu: espichou-se em direção ao noroeste, despertando novas conjecturas:
talvez tenha alcançado aquela região de Bonfim de Feira, Jaguara e Morrinhos.
Mas pode ter ido além, alcançando Anguera
e Serra Preta? É possível.
Sites
noticiosos só exibem reportagem de chuva quando acontece alguma desgraça: morre
gente afogada ou arrastada, as enxurradas levam pontes, destroem rodovias,
elevam em torrentes furiosas riachos que são fios d’água nas estações secas. No
máximo, existem relatos lacônicos que não satisfazem a curiosidade do leitor.
Então é melhor conversar
com os tabaréus lá no Centro de Abastecimento. Eles costumam vir dessas
lonjuras e, quando chove, trazem a alegria estampada nas faces, nos gestos, na
postura mais confiante. E informam melhor, oferecem detalhes que, às vezes, são
até contaminados pelo otimismo, mas que trazem viva a força das águas e a
fertilidade da terra. Magotes desses tabaréus devem aparecer, animados, ao
longo dessa semana no lendária entreposto da Feira de Santana.
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