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Operação da PF lança incerteza sobre eleições baianas

Ontem o Partido dos Trabalhadores (PT) na Bahia sofreu o mais duro golpe em quase 12 anos de poder no estado: a Polícia Federal fez uma busca na residência do ex-governador Jaques Wagner – principal liderança da legenda na Bahia – com a finalidade de levantar provas para a investigação sobre a Parceria Público-Privada (PPP) que construiu e administra a Arena Fonte Nova, em Salvador. A acusação é grave: o ex-governador, segundo a PF, foi beneficiado com R$ 82 milhões do suposto esquema de superfaturamento da PPP, conforme noticiou a imprensa.
Jaques Wagner, em entrevista, minimizou as acusações, alegando que a Polícia Federal e o Tribunal de Contas do Estado (TCE) não entenderam a natureza da PPP. Já a direção nacional do PT divulgou uma nota iracunda, classificando a busca como “invasão” e alegando que as lideranças da legenda estão sendo vítimas de “perseguição política”.
Embora a cautela recomende aguardar os desdobramentos da investigação – inclusive com a apresentação das provas – a ação detona uma crise inédita na já extensa hegemonia petista no estado. Nem mesmo o impeachment de Dilma Rousseff – com evidentes reflexos sobre o governo petista na Bahia – ou o já longínquo rompimento com o PMDB de Geddel Vieira Lima, em 2009, tiveram potencial para produzir tanta combustão.
Pré-candidato ao Senado – e secretário estadual de Desenvolvimento Econômico – Jaques Wagner foi o grande artífice das três vitórias do PT para o governo baiano, todas no primeiro turno. Elegeu-se em 2006, reelegeu-se em 2010 e emplacou seu sucessor, Rui Costa, em 2014. Inclusive estava cotado para assumir o lugar de Lula, condenado pela Justiça, como candidato à presidência da República, embora se alegue que ele não almeja o posto.

Sucessão embaralhada?

Caso as acusações se confirmem, o episódio tem tudo para embaralhar a sucessão estadual. Até aqui, muita gente apostava na fácil reeleição de Rui Costa e numa votação consagradora de Jaques Wagner para o Senado. Mas e agora? Os petistas dobrarão a aposta na candidatura do ex-governador? São questões cujas respostas só virão nos próximos meses.
É provável que o episódio atice os pré-candidatos ao Senado alijados da chapa governista até aqui: aproveitando o embaraço petista, podem pressionar para que Jaques Wagner busque uma cadeira na Câmara dos Deputados, com garantia de vitória, deixando a vaga na chapa para o Senado com um desses aliados que vivem se insinuando pela imprensa. 
O eventual recuo de Jaques Wagner – líder disparado, segundo pesquisas recentes – embolaria a disputa, tornando mais competitivos os candidatos da oposição. Incluindo aí, claro, o prefeito de Feira de Santana, José Ronaldo de Carvalho (DEM), que deve se afastar para tentar eleger-se senador. Todo esse cenário depende do avanço das investigações, caso provoquem prejuízos visíveis à candidatura do ex-governador. O que pode, inclusive, não acontecer.

Governo do Estado

Governistas e até gente da oposição enxergavam Rui Costa como “praticamente reeleito”, embora se esteja a mais de seis meses das eleições. O governador, no entanto, sofreu dois revezes recentes: primeiro com a condenação de Lula, que corre o risco de ser preso mês que vem; e, agora, com a operação cujo alvo foi seu padrinho político, Jaques Wagner.
Isso é suficiente para impedir sua reeleição? Não. Principalmente porque a oposição, hoje, dispõe de um único candidato competitivo, o prefeito de Salvador, ACM Neto, que ainda não confirmou candidatura. Logo, o atual governador ainda joga sozinho em campo. Deve-se atentar, porém, para o cenário nacional, que terá nítida influência nas eleições regionais.
Muita gente deve buscar a presidência da República, contrariando a tendência das eleições recentes. Quem empolgar – caso haja alguém que empolgue – deve influir nos resultados nos estados, como sempre ocorreu. A Bahia não vai ficar de fora dessa regra, ao que tudo indica. Por enquanto, porém, só existem incertezas, que aumentaram depois da operação de ontem na residência do ex-governador Jaques Wagner.

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