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Mostrando postagens de maio, 2022

O peso das perdas da pandemia

  - Pomponet! Pomponet! O grito animado contrastava com o meio-dia quase sempre escaldante da Feira de Santana. Noutras vezes havia mormaço, mas o desconforto se mantinha. Aquela voz familiar reatava lembranças infantis, dos tempos já distantes da Escola Coriolano Carvalho. Era de um antigo colega de colégio, lá de meados dos anos 1980. Gritava da varanda de casa, ali no Sobradinho, numa rua que serpenteia, pejada de automóveis estacionados. Ouvi a saudação alegre durante anos seguidos, até o começo da pandemia. Depois do grito, o antigo colega abancava-se, ia almoçar numa mesa plástica na varanda de casa. Do lado, a garrafa de água gelada; no rosto, o sorriso satisfeito, o prato cheio diante de si. Disseram que perdeu o juízo, a razão eu desconheço. O que sei é do entusiasmo quando me via, mesmo como personagem secundário de um passado – quem sabe – feliz que ele viveu. Com o arrefecimento da pandemia voltei a percorrer a mesma rua, mais silenciosa, sob o mesmo sol abrasador, impla

E o drama de feirantes, camelôs e ambulantes?

  A população feirense nunca abandonou o hábito de comprar frutas, verduras, legumes e hortaliças no centro da cidade. Quando a antiga feira-livre, que acontecia nas cercanias do então Mercado Municipal, foi removida para o Centro de Abastecimento, apostava-se numa nítida especialização das atividades econômicas na malha urbana. Os feirantes, camelôs e ambulantes – com toda a sadia balbúrdia inerente à natureza de suas atividades – ficariam apartados dos nobres espaços centrais; e o comércio e os serviços – limpos, assépticos, bem-educados – solidamente estabelecidos nestes mesmos lugares, bancando civilização e modernidade. Como se sabe, os planos da elite econômica e da burocracia cinzenta esfumaçaram-se: os vendedores foram voltando – de frutas, de verduras, de hortaliças, da infinitude de quinquilharias que hoje são importadas da China – porque havia demanda, quem circula pelo centro da cidade quer comodidade, praticidade, deslocar-se para o Centro de Abastecimento para compra miú

Promessa de duplicação do Anel de Contorno é renovada

  A semana começou marcada pela visita do ministro da Infraestrutura a Feira de Santana, Marcelo Sampaio, para vistoriar as obras de duplicação da BR 116 Norte – o trecho até a vizinha Santa Bárbara – e liberar a construção de mais cinco quilômetros da duplicação da BR 101. Ele compareceu à cidade acompanhando do deputado federal João Roma (PL), que é pré-candidato a governador da Bahia com o apoio de Jair Bolsonaro, o “mito”. Os visitantes chegaram enaltecendo o governo do “mito” e não faltaram declarações à imprensa, ataques às gestões petistas. Talvez por falta de tempo não tenham oferecido informações mais detalhadas, sobretudo aquelas referentes ao Anel de Contorno, cuja situação é crítica há décadas. O ministro anunciou o início das obras em junho, com a construção de pontes e viadutos. E ficou nisso. Pouca informação para uma obra tão essencial à vida da cidade. Promessas, aliás, não tem faltado em relação à duplicação da via. No primeiro ano de governo, em 2019, o “mito” anun

O cenário pós-pandemia para quem trabalha em Feira

  Não existem estatísticas recentes, mas a situação do trabalhador aqui na Feira de Santana, após os momentos mais agudos da pandemia, não deve ser nada confortável. Os efeitos econômicos, aliás, serão sentidos durante muito tempo ainda. Não adiante esperar milagre, nem salvador da pátria, nem poção liberal mágica, nem redenção automática pela mão invisível do “deus mercado”. É bom lembrar que, mesmo antes da pandemia, o cenário já era funesto. Em 2019 – as informações são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, e estão disponíveis no site da instituição – o trabalhador feirense embolsava, em média, 1,9 salário-mínimo. O valor equivalia apenas à 118 ª melhor renda na Bahia – são 417 municípios no total - e à remota 2.553ª colocação entre os 5.570 municípios brasileiros. Quanto o feirense, em média, deve estar embolsando depois de dois anos de pandemia? É uma indagação ainda sem resposta. Naquele ano a força de trabalho feirense era composta por 134,4 mil pessoa

Preço da energia elétrica sobe e trevas se adensam

  Está cada vez mais difícil para os baianos jurar pela luz que os alumia: a tarifa de energia elétrica sofreu mais um reajuste, de inacreditáveis 20,73%. Jurar, agora, só se for pela luz do sol, porque pela luz elétrica está ficando impraticável. O aumento foi autorizado pela Aneel, a Agência Nacional de Energia Elétrica e já vale a partir de hoje (22). Quatro estados nordestinos foram premiados com o reajuste, destacando-se o Ceará, com impressionantes 24,85% de elevação. A Aneel estima que o consumidor residencial baiano pagará 1,58% a menos na média da conta a partir do próximo mês, já que a tarifa extra cobrada em função da crise hídrica foi extinta. Noutras palavras, o alívio pelo fim da taxa adicional se desfaz com o reajuste – pesado – que vai comprimir, ainda mais, o já achatado orçamento doméstico dos baianos. Fosse só o esporádico aumento das tarifas de energia o baiano sorriria feliz: o botijão de gás há muito ultrapassou a barreira dos R$ 100, os preços dos alimentos s

Reais e metafóricas tempestades de raios

  Navegando pela miríade de sites noticiosos que exigem atenção, acabei encontrando uma informação espantosa: num intervalo de três dias, 73 mil raios caíram na Bahia. Vi também fotos de árvores caídas, referências a milhares de chamados para a concessionária de energia, muito alagamento pela triste Bahia sem esgotamento pluvial. Mas prefiro recordar o soberbo espetáculo que presenciei na noite da Sexta-Feira da Paixão. Não foi nenhuma cerimônia católica, pois a Feira de Santana estava deserta e silenciosa, mas sim os raios que se estenderam por toda a região a oeste do Anel de Contorno. Raios monumentais, pálidos, metálicos, que avermelharam imensas nuvens sanguíneas. Calculo que foi longínquo, pois não se ouvia o barulho tremendo dos trovões. O silêncio era o que tornava tudo mais soberbo. Como numa tela de cinema mudo, eram as imagens que magnetizavam o espectador. Foi longo e majestoso o espetáculo, estendendo-se pela madrugada. Naqueles dias e mesmo à noite – é bom lembrar – o c

As crianças, o pai e o canteiro de hibiscos

  Como se sabe, os dias que avançam neste Brasil enfermiço são pouco favoráveis ao lirismo, às contemplações poéticas. Mas o fato é que, da janela, testemunhei uma cena inusitada nestes tempos ferozes: o pai e o casal de filhos avançavam pela rua, sob as sombras das árvores – era noite – quando, subitamente, pararam diante do canteiro de hibiscos. O que se seguiu, então, foi fantástico, extraordinário: colheram algumas flores. A menina – deve ter uns seis anos – gesticulava e emitia umas frases inaudíveis enquanto atravessava a rua, deserta àquela hora. O pai redarguiu, com umas frases que também não consegui decifrar à distância. Por fim, aproximou-se do canteiro, inspecionou as flores, escolheu aquela que parecia mais mimosa e a colheu, entregando à filha. Depois, examinou o filho – o menino deve ter uns três anos, se muito – e resolveu presenteá-lo também: removeu outra flor e a estendeu para o garoto. Talvez mais para evitar aquelas inevitáveis confusões entre irmãos, sempre ru

A empreendedora desolada com o bolsonarismo

  Os fregueses chegam, indagam sobre os sabores dos bolos na vitrine, recebem informações e, após alguns instantes, mãos ágeis retiram o produto escolhido, embalam e entregam à clientela, que estende uma nota ou o cartão bancário. A transação é arrematada com um sorriso curto, de canto de lábio. Empreendedora: a senhora – aparenta pouco mais de 50 anos – atende numa loja acanhada nas cercanias do centro feirense. Numa parede alva, de pintura manchada, refulgia a Bandeira Brasileira: – Eu sabia que a senhora é patriota! O sorriso curto expande-se, exibindo dentes escuros, manchados. – Sim! Temos que acreditar no País! O interlocutor nem pestanejou: impediu-a de tomar fôlego, concordou com veemência: – Exato! Está aí o “centrão” avacalhando tudo, a corrupção comendo solta, altos esquemas vindo à tona, mas temos que acreditar! Pior que nem nos militares podemos confiar mais! A senhora viu o noticiário recente? Picanha, filé, bacalhau, cerveja chique, remédio para a calvície, até Via

Novos sinais da retomada da normalidade

  A sempre atenta imprensa feirense registrou o retorno presencial das celebrações católicas na Semana Santa. Ontem mesmo (10) houve a Missa de Ramos, que marca o início da Paixão de Jesus Cristo. Pelo que vejo no noticiário – e, sobretudo, nas mídias sociais – há uma extensa programação que vai se estender até o Domingo de Páscoa. Depois de dois tormentosos anos de pandemia, a normalização das celebrações resgata o ânimo dos católicos. Não são só as atividades religiosas que estão sendo retomadas. No fim de semana houve shows, festas e paredões . No sábado, os sons de vozes e de músicas feriram o silêncio da noite, irradiaram-se em direção à amplidão. Evidente contraste com a quietude das longas – intermináveis – noites de apreensão por conta da Covid-19. E olhe que muita gente está sem dinheiro, por conta dos nefastos efeitos econômicos da pandemia. Mas, mesmo assim, aproveita a retomada. Embora faltem mais de dois meses ainda, já se capta na atmosfera os primeiros sinais do São J

Carcará continua voando alto no futebol baiano

  No dia 14 de junho de 2015 o fluminense de Feira bateu o Atlético de Alagoinhas por 2 a 1 no Joia da Princesa – o gol decisivo foi no fim do jogo, para delírio de milhares de torcedores – e sacramentou o retorno à Série A do Campeonato Baiano no ano seguinte, depois de enfrentar o calvário do rebaixamento. Ninguém prestava muita atenção no time de Alagoinhas, imerso na Segundona do Campeonato Baiano. Quase sete anos depois o Touro do Sertão prepara-se, mais uma vez, para tentar retornar à elite do futebol baiano, depois de outro traumático rebaixamento, ano passado. E o Atlético, que patinava na Série B sem grandes perspectivas? Hoje (10) tornou-se bicampeão baiano, depois de disputar sua terceira final consecutiva do Estadual e vencer a Jacuipense por 2 a 0, em Riachão do Jacuípe. Desta vez a Feira de Santana sequer figurou como palco da segunda final consecutiva com times do interior. O jogo, mesmo sob o implacável calor de Riachão do Jacuípe, foi morno, só ganhando em moviment

Inflação assusta na Feira e no Brasil

  No final da manhã de hoje (08) saiu o resultado da inflação de março: 1,65%, conforme apurado pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo, o IPCA, do IBGE. O resultado surpreendeu muitos analistas, que esperavam um número menor. O noticiário ressalta que é o percentual mais elevado desde março de 1994, quando o Plano Real nem tinha sido lançado ainda. Aqui mesmo, na Feira de Santana, já se tinha um prenúncio da aceleração inflacionária: levantamento realizado por professores e estudantes do Departamento de Ciências Sociais Aplicadas – Dcis, da Uefs, indicava elevação de 4,18% nos 12 itens que compõem a cesta básica, em março. Óleo de soja (20,76%), leite (9,40%) e feijão (9,13%) figuraram entre os principais vilões no intervalo analisado por aqui. Para além das estatísticas frias, a inflação – alta contínua e disseminada de preços – é uma sensação entranhada pelas ruas da Feira de Santana. Uns poucos minutos de conversa com qualquer desconhecido, necessariamente, trazem o tema à ton

Caem as máscaras, ficam as agruras econômicas

  Ontem (06) a prefeitura feirense avançou na revogação da obrigatoriedade no uso de máscaras. Dias atrás, a medida tinha sido adotada em ambientes abertos. Agora, vale também para diversos ambientes fechados. A recomendação do uso segue para idosos ou pacientes imunossuprimidos. Dois anos depois do início da pandemia da Covid-19, a medida é adotada em função do avanço da vacinação e, por consequência, da drástica redução no número de casos, internações e mortes. A flexibilização no uso de máscaras acompanha medidas adotadas em outras cidades e regiões do País. Mesmo assim, é possível observar que muita gente segue cautelosa, utilizando o acessório inclusive em ambientes abertos. Quem circula pela Feira de Santana pode constatar o cuidado de parte da população. Imagino que os patrulheiros de costumes – patrulhamento virou febre neste triste Brasil dos dias atuais – já estão se preparando para hostilizar os mais cautelosos, aqueles que preferem se cuidar. Nesta fauna patrulheira, obv

A batalha campal no Paço Municipal

  Mesmo distante da Feira de Santana, acompanhei com atenção o episódio envolvendo professores da rede municipal, vereadores e a Guarda Municipal na sede da prefeitura na quinta-feira (31). Desde então, foram lançadas dezenas de notas e cartas abertas, divulgadas centenas de versões sobre os fatos – talvez milhares – e emitidas milhares de opiniões e comentários nas mais diversas plataformas de comunicação, o que inclui desde o rádio até as novíssimas mídias sociais. Quem chega depois no debate hesita em manifestar-se, em emitir uma opinião. Afinal, muitos já o fizeram, demarcando posição ou apenas expressando-se, exercendo um direito que, por enquanto, ainda não foi arrebatado do brasileiro. Assim, os retardatários arriscam-se a soar repetitivos, repisando aspectos já explorados em inúmeras análises. Apesar dos riscos mencionados, é bom realçar – até repisar – que são assustadoras as cenas de guardas municipais avançando com cassetetes sobre os professores – recorreram até a extint

O campo de futebol da feirinha do Sobradinho

  Nunca fui craque. No máximo, jogador mediano, com alguns lampejos aqui ou ali. Figuraria na média do batedor de baba , conforme a clássica expressão dos futebolistas baianos. Mas reconheço a importância do esporte na adolescência como atividade física, como instrumento de socialização – conhece-se muita gente jogando futebol – e como meio de conhecer a vida das ruas. Em contato com ela, amadurece-se. Enfim, futebol de várzea não serve só para revelar novos talentos. A expansão urbana tragou praticamente todos os campos de futebol de várzea no Sobradinho. Até mesmo o campo clássico da feirinha do Sobradinho deixou de existir: nada construíram sobre o antigo terreno, mas despejaram uma grossa camada de asfalto e, ali, funciona parte da feira-livre aos domingos, barracas de madeira permanecem montadas a semana toda. Há um poste de iluminação na antiga área do campo. Aquele campo foi palco de aulas de Educação Física – estudava no colégio Coriolano Carvalho, ao lado – e, depois, de i

Águas de março e mudanças climáticas

  As águas de março caem, fechando o verão. Nem sempre é assim: às vezes, o sol em março é abrasador, as chuvas minguam. Hoje à tarde desabou um aguaceiro rijo sobre a Feira de Santana, digno daqueles que alarmam Salvador nesta mesma época. Por alguns minutos, envolta na cortina d’água, a Princesa do Sertão se diluiu sob o céu cinza, profanando a tarde de sábado. Mesmo com o estio as poças resistiram, refletindo as luzes dos postes no começo da noite. Para quem planta, os aguaceiros trazem bons presságios, perspectivas de invernos chuvosos, prenhes de fartura. Tem sido assim nos últimos anos. Neste ano, porém, a chuva chegou até antes do esperado, tornando dispensáveis rezas, rogos e preces a São José, cuja data se comemora em 19 de março. No rural feirense já se cavouca a terra, a expectativa é de colheita do milho pelo São João. Benfazejas no campo, as chuvas costumam trazer aporrinhações na zona urbana. Por aqui não há morros nem encostas, a Feira de Santana é uma cidade plana e,

A imutável espiral de violência

  Durante cerca de seis anos – com algumas interrupções breves – dediquei-me à reportagem policial aqui na Feira de Santana. Atuava em jornais impressos. Isso há cerca de duas décadas. Nem tenho idéia de quantas matérias e notas escrevi, nem de quantos assassinatos cobri, fazendo reportagens. Sei que foram muitos, provavelmente centenas. Naquelas jornadas desenvolvi uma convicção: há um perfil etário, de cor, de residência e de escolaridade de quem morre. Mesmo afastado do jornalismo policial, sigo acompanhando o noticiário com interesse. Também me dedico a ler livros sobre o tema, tentando entender o fenômeno da criminalidade. Nestas leituras descobri, então, que o perfil da vítima de homicídio é uniforme no Brasil inteiro e converge com aquele que fui traçando ao longo de tantas coberturas. Não foram poucas as ocasiões: após algum telefonema avisando sobre a ocorrência – a clássica expressão da burocracia policial que a imprensa costuma absorver –, saíamos precipitados da redação

Março começa com botijão de gás mais caro na Bahia

  A Quarta-Feira de Cinzas começou com a notícia de que o gás de cozinha vai subir mais uma vez na Bahia. É o segundo reajuste em menos de um mês. Com o aumento, o botijão de 13 quilos vai passar dos R$ 120 em Salvador. Aqui na Feira de Santana, o produto pode ser encontrado por valores que variam entre R$ 102,90 – no dinheiro – e R$ 117,90, no cartão. É o que informa um site especializado na cotação de preços do produto. Segundo a empresa privada proprietária da Refinaria de Mataripe, a elevação no preço dos combustíveis no mercado mundial e a variação do dólar explicam o novo reajuste. Noutras palavras: embora receba em reais, o brasileiro paga pelo gás de cozinha conforme as oscilações dos preços internacionais. Difícil arranjo mais perverso. No fim do ano passado o desgoverno de plantão instituiu o vale-gás. O valor é irrisório: R$ 52 pagos a cinco milhões de famílias em vulnerabilidade social. Mirando a reeleição, Jair Bolsonaro, o “mito”, abraçou a iniciativa dos congressistas

Desconexos pensamentos carnavalescos

  Enquanto apreciava o sanguíneo poente feirense – à medida que o verão estertora, os tons do crepúsculo tornam-se dramáticos, melancólicos – pensei numa meia-dúzia de temas para um texto qualquer. Nenhum deles pareceu tão urgente quanto o da guerra na Ucrânia. Não, não vou chatear o leitor desfilando conhecimentos bélicos, nem realizando conferências sobre o Leste Europeu. Não domino nem um assunto, nem outro. Não sei se é a idade ou outro achaque qualquer, mas confesso que acompanhar noticiário sobre guerra é enfadonho. Aqueles pronunciamentos protocolares de lideranças políticas – que fazem a alegria do jornalismo declaratório –, por exemplo, são fastidiosos. Vão, invariavelmente, do banal ao lugar-comum, do clichê à frase feita. Tomam tempo, não informam e aborrecem. Pior que isso só a inevitável dicotomia entre bons e maus, justos e perversos, heróis e vilões. A chamada grande imprensa brasileira, por exemplo, coloca Vladimir Putin – o presidente russo – como o monstro a ser co