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Mostrando postagens de junho, 2021

O São João no Centro de Abastecimento

  Sempre que penso nos festejos juninos, lembro do Centro de Abastecimento da minha infância, nos anos 1980. À época, o entreposto era destino obrigatório no 23 de junho, véspera de São João. Para ele o feirense acorria, lá abastecia-se para o tradicional festejo, tipicamente nordestino. Corredores e escadarias eram avidamente disputados pelos consumidores. Naquele tempo, a cultura da feira-livre era mais sólida, mais arraigada. Supermercados, mercadinhos e suas conveniências não encantavam o feirense, ainda muito vinculado aos hábitos rurais. Intuía-se a multidão desde antes dos limites do entreposto. Velhos ônibus, paus-de-arara, carroças, bicicletas, motos, utilitários e automóveis disputavam os estacionamentos das cercanias. Afora a ruidosa multidão de pedestres. Garoto, encantava-me com aquela agitação – movida por uma sensação festiva – que se renovava a cada ano. O São João era aguardado com ansiedade. A ânsia mercantil impunha o caos ao setor atacadista, eriçando até seus p

Carne em self service virou luxo de rico

  Lembro bem que, em 2018, os combatentes do “comunismo” diziam que o socialismo – muita gente acreditou na empulhação de que o Brasil marchava para um regime “socialista” – era a disseminação da pobreza, da miséria. Para freá-lo, era necessário optar pelos liberais, aqueles que eram porta-vozes de um novo tempo. Nele, a prosperidade aguardava quem se esforçasse o suficiente e acreditasse na meritocracia. Muitos incautos aderiram ao discurso com entusiasmo, julgando-se potenciais milionários logo ali na frente. Deu no que deu. Há incontáveis perspectivas para analisar o atoleiro em que a extrema-direita meteu o Brasil. Escolhi uma, com a qual me deparei num prosaico almoço em Caxambu, no sul de Minas Gerais. Um curto período de férias e razões familiares levaram-me à agradável cidade do circuito das águas. E um almoço num restaurante espaçoso, mas vazio, conduziu-me a algumas constatações. Num quadro na parede do restaurante que serve comida mineira, a clientela depara-se com o pre

Liberação da Sputnik V traz esperanças

  Depois de muitas idas e vindas, finalmente hoje (04) a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa, liberou a importação e o uso da vacina russa Sputnik V no Brasil. Inicialmente, serão importados quatro milhões de doses, segundo noticia a imprensa. Também hoje foi autorizada a importação da vacina indiana Covaxin. Seis estados do Nordeste – incluindo a Bahia – foram os autores do pedido de importação da Sputnik V liberado nesta sexta. A autorização vinha se arrastando há meses, enquanto a pandemia da Covid-19 avança, com crescimento no número de casos da doença e de mortes. Com a decisão, começa-se a vislumbrar luz no fim do túnel: os estados nordestinos adquiriram 37 milhões de doses do imunizante; só a Bahia comprou 9,7 milhões de doses, cuja importação dependia da decisão anunciada hoje. A chegada dos imunizantes ao longo do ano vai impulsionar a vacinação, permitindo a retomada da atividade econômica e o gradual retorno à rotina, que se esfacelou a partir da chegada d

Confidências de um brasileiro desolado

  – Olha, se eu pudesse, eu ia embora disso aqui. O problema é que eu já passei dos quarenta, não tenho para onde ir e acho que ninguém vai me aceitar lá fora. Quando eu era mais jovem, acabei me empolgando, achando que isso aqui tinha jeito, que estava mudando, melhorando. Conversa! Vira e mexe, a gente repete o passado... Ficou calado durante alguns instantes, o olho muito aberto, fitando os transeuntes. Parecia que o filme da vida dele ia passando diante dos seus olhos. E, o que era pior, o filme da vida que poderia ter sido, mas que não foi, nem poderá ser. Com a máscara encobrindo a boca e o nariz, os olhos se sobressaíam, refletindo talvez o lábio contraído numa expressão de contrariedade, a respiração ofegante. – Até passei no vestibular para História. Fiz uns semestres, aprendi o suficiente para saber como é que as coisas funcionam neste país. Mesmo assim, não pensei no futuro, pelo menos não neste futuro que podia repetir o passado. É nele que estamos... Conjecturei alte

Quase 1% dos feirenses está com Covid-19

  Hoje (02) precisei entrar numa agência bancária ali na Conselheiro Franco. Coisa rápida: uns poucos minutos para utilizar um dos terminais de caixa eletrônico. O tempo foi suficiente, porém, para perceber a quantidade de pessoas aglomeradas dentro da agência. Num canto, numa fila extensa, amontoavam-se dezenas de clientes, sem grandes preocupações com a Covid-19, em alguns casos; noutros percebia-se o esforço para manter cuidados e distanciamento, sem grande sucesso. Pelas calçadas da Feira de Santana o movimento não era menor. Gente para lá, para cá, sem a precaução de manter o distanciamento. É necessário ser justo, no entanto: a maioria usava máscara, embora muitos ostentem o equipamento frouxo, de tanto puxá-lo para o queixo. Outros não estão nem aí: desfilam sem nenhuma proteção, indiferentes à Covid-19. É visível que há cada vez mais pessoas pelas ruas. E é notório que todo esse movimento favorece a proliferação do vírus, conforme já alertaram incontáveis infectologistas em

A pátria de chuteiras e o novo “milagre” econômico

  Os patriotas de plantão devem estar exultantes: pela manhã, o IBGE – esta instituição “comunista”, segundo os acólitos de Jair Bolsonaro, o “mito” – divulgou que o Produto Interno Bruto, o PIB, cresceu 1,2% no primeiro trimestre. O desempenho surpreendeu até os banqueiros, que já preveem PIB anual de mais de 5% em 2021. Prenúncio de novo “milagre” econômico? Tudo indica. Por fim, à tarde o próprio “mito” confirmou que a Copa América vai ser mesmo realizada aqui no Brasil. – Pra frente, Brasil! Imagino que os acólitos da velha guarda já estejam se preparando para resgatar o bordão que fez sucesso na década de 1970, no auge da ditadura militar. Afinal, nunca é tarde para resgatar o ardor patriótico. Mesmo que a competição tenha sido arrebatada depois que Argentina e Colômbia, previdentes, refugaram a organização em função da pandemia da Covid-19. O Brasil caminha célere para as 500 mil mortes pela doença – provavelmente durante a competição – mas isso parece irrelevante para o “m

Parabéns à Uefs pelos seus 45 anos

  Apesar das terríveis notícias deste Brasil pandêmico e desgovernado, pelo menos hoje (31) há uma boa notícia: a Universidade Estadual de Feira de Santana, a Uefs, está comemorando 45 anos. A instituição, uma das mais importantes do Nordeste, na sua já extensa trajetória foi responsável pela formação de milhares de profissionais que hoje contribuem com seu trabalho para o desenvolvimento não só da Feira de Santana, mas também da Bahia e do Brasil. Lembro que, em maio de 1996, fui escalado no extinto Jornal Feira Hoje para produzir um caderno comemorativo dos 20 anos da Uefs. Naquela época ainda não era aluno da instituição – fui aprovado no vestibular de julho do mesmo ano – e acabei encantado com a profusão de atividades que a Uefs desenvolvia não apenas no ensino, mas também na pesquisa e na extensão. A vivência na produção da publicação foi válida quando enfim me tornei estudante. Aprendi a sua importância, sua grandeza. Depois vieram as inúmeras experiências que não se limitar