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Mostrando postagens de fevereiro, 2021

Vacinação começa e uso da máscara cai

Desde que começou a vacinação contra a Covid-19 na Feira de Santana que os feirenses estão abandonando as máscaras. Até há pouco havia os recalcitrantes, os inconformados, os distraídos e os acólitos de Jair Bolsonaro, o “mito”, que se recusavam a usar a proteção. Eram minoria, boa parte da população vinha se protegendo, evitando a propagação do vírus. Nos últimos dias percebe-se que o jogo virou. Raro é encontrar quem usa o equipamento. Tudo indica que virão problemas pela frente. A vacinação, por enquanto, vai acontecer a conta-gotas. O Brasil só dispõe da “vacina chinesa do Dória” – era assim que o “mito” se referia à Coronavac – e a imunização em larga escala, ao que tudo indica, vai demorar. Talvez até junho os grupos prioritários estejam vacinados – é uma projeção otimista que se vê aí na praça – e não faz sentido, portanto, abandonar as máscaras, achando que a pandemia chegou ao fim. O pior de tudo é que – ao que tudo indica – a variante amazonense logo vai chegar aqui. Mais

Impressões iniciais sobre a Câmara Municipal

Começou polêmica a nova legislatura na Câmara Municipal. Mas há novidades positivas. A principal é que, pelo visto, o conjunto é menos ruim do que o da legislatura anterior, que findou em dezembro. A observação – é bom ressaltar – está longe de ser um elogio: a composição que manquitolou nos quatro anos anteriores era tão medíocre, tão ruim, que nem é preciso tanto esforço para ser melhor. Assim, com todas as cautelas, dá para intuir que das urnas emergiu uma legislatura menos deplorável. É óbvio que a “bancada do amém” – aquela que se alinha acriticamente ao prefeito de plantão, seja ele quem for – permanece lá, firme e forte, ignorando os crônicos problemas do município e caprichando nos rapapés e nos salamaleques. Alguns de seus integrantes, aliás, foram herdados da legislatura anterior e seguem na mesma toada. O hábito de rejeitar requerimentos que solicitam informações ou esclarecimentos, a propósito, se mantém. A alergia que alguns vereadores tinham à transparência na legisla

A peleja dos anuns contra os bem-te-vis na árvore catingueira

Logo ali na esquina há uma árvore. Julgo que seja espécime catingueira: o tronco delgado, os galhos espinhosos, a copa baixa, tudo sinaliza para uma dessas plantas nativas dos sertões. Nos últimos dias desabrocharam flores: pequenas, frágeis, efêmeras. Até a cor – um violáceo esbranquiçado – lembra a sábia avareza da caatinga. A copa desta árvore misteriosa, pelo que noto, abriga uma planta que se ramifica prodigiosamente. Leigo, presumo que seja uma espécie de parasita. A sobreposição das duas produz um vivo contrate: a sertaneja, com sua copa discreta, de sombra frágil, cujas flores despontam nas extremidades dos galhos; e a outra, com a folhagem miúda, mas prolífica, sustentando-se sobre a copa, projetando-se sobre o calçamento de pedras azuladas. Desconfio que seja uma espécie de erve-de-passarinho. Pois hoje (09) esta árvore misteriosa foi alvo de uma peleja que envolveu um bando de anuns e dispersos – mas aguerridos – bem-te-vis. Tudo sob a luz de chumbo do fim da manhã, já q

Privatiza que otimiza: a sabedoria liberaloide nas mídias sociais

  Pensei em escrever um artigo sobre as perspectivas para o emprego na Feira de Santana em 2021. Desisti: o País atravessa um momento tão caótico que o exercício não passa, sob certo sentido, de especulação. Bancar a empreitada, tocá-la adiante na base da cogitação é juntar palavras inúteis. Não é só a pandemia da Covid-19 que torna tudo mais difícil, não. O desgoverno aboletado em Brasília é a variável mais problemática. Afinal, a morte, por lá, parece ser o único objetivo, a meta absoluta. Pensar em termos racionais, portanto, é arriscado, impreciso. Não é figura de linguagem anotar que o Brasil está à deriva. É bom lembrar também que a ciência econômica encolheu. Virou chavão, frase feita, clichê que cabe em qualquer postagem medíocre nas mídias sociais que fervilham. Pelo menos quando se lê os autoproclamados oráculos que transmitem sua sabedoria via memes . Antes, no Brasil, todo mundo era técnico de futebol. Com a pandemia, avultam os médicos, os infectologistas. Em relação à f

Só vacinação dissipará tensão e medo da pandemia

  Meu pai tem 95 anos e espera ansioso, há dias, pela vacina contra o novo coronavírus. Não é só ele: convivo com mais gente idosa que está muito ansiosa também. E essa ansiedade se estende àqueles que têm familiares nesta faixa etária. Percebo essa inquietação em grupos de aplicativo de celular, em fiapos de conversas ouvidos pelas ruas feirenses, nos supermercados, nos pontos de ônibus. O fato é que ninguém aguenta mais o arrastar tormentoso da pandemia da Covid-19. Mas – ao contrário do que prescrevem os genocidas de plantão – só há uma maneira de sair da pandemia: vacinando a população, começando pela população mais frágil, mais exposta à doença em sua versão mais letal. Só assim as pessoas poderão superar o medo e retomar sua rotina. Só assim, também, para a economia começar a sair do atoleiro em que a pandemia e uma gestão criminosa a enfiaram. Tensão talvez seja a palavra que resuma esses 11 meses para aqueles brasileiros que convivem com idosos ou com quem se encaixa nos gr

O bode “Napi”, mascote do Touro do Sertão em 1979

  Mais uma temporada se aproxima para o futebol baiano. Com ela, reacendem-se as esperanças das torcidas dos times do interior. O Fluminense de Feira – com diretoria nova, já que o ex-presidente renunciou – ostenta o mesmo otimismo. Será que o time, finalmente, vai conseguir ser campeão baiano? Quem frequenta as arquibancadas do Joia da Princesa já ouviu falar da famosa “caveira de burro” enterrada no estádio. Reza a crença que, quando ela for localizada, o time vai deslanchar, ganhar título adoidado. Todo jogo alguém comenta isso. A crendice não é nova, nem recente. No remoto ano de 1979 o Touro do Sertão ganhou uma pitoresca série de notas nas páginas do Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro. A primeira foi na edição de 16 de outubro. Ao invés da famosa caveira, a personagem foi um bode. O título foi curioso: “Bode é atração do Flu de Feira”. A matéria também: “O Fluminense de Feira de Santana conseguiu domingo sua primeira vitória no Campeonato Nacional ao derrotar o Atlético de G

Pandemia, cloroquina e leite condensado

  – ... está morrendo muito idoso com a Covid-19... – É bom. Assim abre lugar pros mais jovens. Renova... O diálogo surreal ocorreu num boteco na Zona Sul paulistana. Foi num final de tarde de verão, sob uma luz tristíssima, cinzenta. Na orla do céu, o clarão dos relâmpagos anunciava uma trovoada que não chegou. Na rua, os faróis dos automóveis feriam a semiobscuridade do lusco-fusco. O primeiro interlocutor era idoso – escassos fios alvos emolduravam a cabeça calva – e esvaziava uma garrafa de cerveja. Provavelmente a saideira: o outro, jovem, empilhava mesas, apressado em sua tarefa. Lá, dentro, uma tabuleta indicava os pratos-feitos servidos no botequim. Um cheiro denso de gordura impregnava o ambiente, irradiava-se para a calçada. Será que a frase cruel era só para afugentar o cliente retardatário? Impossível saber. Mas o desprezo pela vida, no Brasil, só surpreende os mais desatentos. Talvez o sujeito absorvido por aquela tarefa mesquinha, sem futuro – deve embolsar um sal

Uma crônica profética de Armando Oliveira

  Sempre fui fã do falecido comentarista esportivo Armando Oliveira. Adolescente, acompanhava as grandes vitórias do Bahia – naqueles tempos o Tricolor de Aço reservava muitas alegrias para sua torcida – atento aos seus comentários sóbrios, precisos e elegantes. Quem ouvia suas análises ficava com a impressão de acompanhar o jogo no estádio, vendo tudo, tamanha era a sua capacidade de traduzir o que acontecia no gramado. Não foi à toa que se tornou um dos profissionais da crônica esportiva mais prestigiados do Brasil. Armando Oliveira também escreveu crônicas para os jornais de Salvador. Seu talento deixou marcas nas páginas do extinto Jornal da Bahia, mas também em A Tarde, no Correio e, sobretudo, na Tribuna da Bahia. Após a sua morte, parte dos seus textos foi reunida em um livro, que o homenageou postumamente. Num sebo soteropolitano, tive acesso a um exemplar. O cronista que labutava nas redações não se limitava ao futebol. Muito pelo contrário: trafegava pelas mais diversas d