Passou
a Micareta, está chegando a época dos festejos juninos – logo mais o forró vira
a trilha sonora do feirense – e, em junho, também acontece a Copa do Mundo, que
pode levar o futebol brasileiro a se redimir do vexame doméstico de 2014. Mais
adiante acontecem as eleições gerais – de presidente da República a deputado
estadual – quando, espera-se, os ânimos comecem a serenar. A agenda do ano é
intensa, mas para o agricultor familiar da Feira de Santana e das cercanias, há
outro marco igualmente importante.
São
as chuvas que começaram a cair nos primeiros dias de abril. A estação seca se
estendeu desde meados de setembro, quando as providenciais garoas que
permitiram uma colheita farta no inverno passado cessaram. Ficou a tensa expectativa
sobre as trovoadas – que ajudam no armazenamento da água que serve aos animais,
ao plantio e até mesmo ao consumo humano – que não se precipitaram com a intensidade
desejada no verão.
Por
aqui, os primeiros meses do ano foram de expectativa: trovoadas na Chapada
Diamantina, no Oeste, no Norte da Bahia e muito além – no infindável hinterland semiárido dos estados
nordestinos – alimentaram as esperanças. Mas as chuvas fortes foram escassas,
apesar do calor insano, das nuvens densas e dos clarões que denunciavam
relâmpagos distantes, lá para os lados de Tanquinho e Riachão do Jacuípe.
No
princípio de abril, porém, as chuvas chegaram. No começo, tímidas, às vezes até
pouco mais que suaves chuviscos. Mas depois começaram a se tornar mais
frequentes, inclusive ao longo da Micareta, quando o feirense teve que rebolar
com ânimo redobrado para espantar o frio das madrugadas chuvosas. Largas poças
de água e a lama revolvida por pés inquietos mostravam os fluxos mais intensos.
Chuva fria
Desde
terça-feira (24) as chuvas persistem: naquela tarde,
nuvens compactas cobriram o céu feirense, despejando uma chuva fria que
espantou quem foi surpreendido pela rua. A porção vertical da cidade – que
ganha forma ao longo da Getúlio Vargas – desapareceu sob a cortina cinzenta e
úmida. As luzes foram se acendendo, melancólicas, sob o tênue véu de água. Os
limites da cidade desapareceram, condensando-se às nuvens encardidas.
No
campo feirense já começou o lufa-lufa de quem planta, de quem aguarda colheita
favorável para os festejos juninos e para os provavelmente frios meses de julho
e de agosto. A terra úmida é revolvida pelas enxadas empunhadas por mãos ágeis.
O milho e o feijão são garantia de renda adicional nesses tempos atrozes.
Pelas
estradas são visíveis os trabalhadores agitados logo no início da manhã,
apressando-se nas suas tarefas, contentes com as perspectivas promissoras, caso
as chuvas se estendam pelos próximos meses. Lá adiante, aquelas cantigas
típicas da bata do feijão ressoarão pelos campos das cercanias da Feira de
Santana. Espera-se que, no Centro de Abastecimento, os preços estejam mais em
conta e a variedade seja maior.
A gente do meio urbano
encara a chuva como um incômodo que atrapalha sua rotina. Pensam na roupa
molhada, nos compromissos retardados, na condução lotada, nos inevitáveis
contratempos. Mas no campo, não: lá o pequeno produtor – o agricultor familiar
– aguarda que a benção das chuvas siga se desprendendo das nuvens cinzas.
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