Publicado originalmente em Junho/2020
O
feriado antecipado de São João não foi suficiente para satisfazer a ânsia
junina na Feira de Santana. Lá fora, às vezes, ecoa um forró alegre no som de
algum carro que passa. E, com alguma paciência, é possível flagrar fogos que
arremetem para o céu avermelhado – as nuvens carregadas de chuva têm essa
tintura rubra à noite – e se desfazem em luzes e cores. Mais frequentes são
aqueles foguetes de três tiros que espocam, ecoando, distantes.
Os
produtos típicos do período também já são visíveis nas prateleiras dos
supermercados e padarias. Licores multicoloridos, pamonha embalada em palha de
milho, amendoim e os bolos tradicionais do período – fubá, aipim, carimã – são
encontrados com facilidade. Em alguns estabelecimentos, cartazes vistosos
reforçam a lembrança do período festivo.
Como
se sabe, a pandemia do Covid-19 levou os governos a antecipar o feriado de São
João em nove cidades baianas. Além disso, aquelas festas tradicionais – que
reúnem multidões – foram canceladas. Tantas novidades num intervalo curto
desorientaram o instinto festeiro do feirense. Daí as temerárias celebrações,
que se arrastam desde meados de maio.
É
provável que muitos persistam nos festejos. Afinal, estão enfastiados com o
isolamento social e buscam reatar, sofregamente, uma rotina que a pandemia
esfacelou. Mesmo com o novo coronavírus aí na praça, firmando-se com a
confirmação de dezenas de contaminações todos os dias.
Mas
ainda bem que, mais uma vez, o prefeito Colbert Filho (MDB) decidiu prorrogar o
decreto que mantém as atividades comerciais suspensas. Agora, a medida vale até
15 de junho. Serão mais oito dias para frear o avanço do Covid-19. É bom
ressaltar que ninguém fica feliz com a decisão: o ideal é o comércio
funcionando, com todo mundo trabalhando, ganhando seu dinheiro. Só que não dá
para isso acontecer com o risco da expansão descontrolada da doença.
O
número de casos cresceu muito ao longo da última semana. Provável reflexo do
mês em que diversas lojas permaneceram abertas. E, agora, a rede de saúde
aproxima-se da saturação. Caso tudo seguisse funcionando, seria o caos. Como
aconteceu em algumas capitais brasileiras, é bom recordar. Manaus e Belém
figuram como exemplos.
A
prorrogação do decreto aqui na Feira de Santana é, portanto, sensata. Os danos
sobre as atividades econômicas serão enormes, infelizmente. Mas é evidente que
não há opções, nem meio-termo. Só nas mentes delirantes encasteladas no
Planalto Central, que, pelo jeito, pouco se lixam para o risco de uma
carnificina generalizada.
Passado
o horror, com certeza todos retomarão suas atividades com apetite redobrado.
Melhor uma aguda retração econômica que a catástrofe das mortes de centenas de
milhares de brasileiros...
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