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Mostrando postagens de abril, 2017

Desigualdade no rural feirense cresce há décadas

Ano passado o Brasil deveria ter realizado o seu Censo Agropecuário. É que o último aconteceu em 2006 e, como a periodicidade costuma ser decenal, todos estimavam que aconteceria em 2016. Três fatores essenciais atrapalharam o cronograma: a crise econômica, o consequente arrocho nas contas públicas e a crise política que resultou no impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT). Ficou para 2017, conforme se noticia, com as tratativas já em andamento. Dizem que, estranhamente, muitos itens que ajudam a traçar o perfil do Brasil rural foram removidos do questionário, sob a justificativa da redução de custos. São exatamente as informações que mapeiam a pequena agricultura e ajudam a traçar o perfil social do campo brasileiro. É que, para a gente do mandatário de Tietê, Michel Temer, o que conta é o agronegócio. Caso a manobra se confirme, será um desastre. Afinal, as informações censitárias são fundamentais para se pensar e propor políticas públicas para o campo. Como pensar o

Compra de motos e motonetas também declinou

Em texto de ontem (04) apontamos para a queda no ritmo de expansão da frota de veículos na Feira de Santana. Eram 178,2 mil em 2011 e saltaram para 243,4 mil quatro anos depois, em 2015. Entre 2014 e 2015 a taxa de expansão foi de apenas 5,8%. Mas chegou a 10,3% entre 2011 e 2012. Os dados são do Departamento Nacional de Trânsito, o Denatran. Investimentos na aquisição de ônibus e caminhões também cresceram no período, mas a percentuais inferiores. Era o tempo em que o brasileiro alimentava – e investia – no sonho da condução própria. Quem não tinha tanto dinheiro para comprar um carro também arranjou um meio de embarcar na onda do meio de locomoção próprio: comprou milhares de motos e motonetas que circulam hoje pela cidade. As sucessivas – e intermináveis – crises do transporte coletivo constituíram um estímulo adicional. Todas as propagandas recomendavam a realização do sonho. Assim, em 2011, havia 52,5 mil motocicletas circulando pela cidade. Quatro anos depois, passaram a 70,

Caiu o ritmo de expansão da frota feirense

A redução no ritmo de aquisição de veículos novos é uma das formas de entender a extensão da crise econômica que assola o Brasil nos últimos três anos. Maior cidade do interior da Bahia e centro pulsante do comércio de automóveis da região, a Feira de Santana não poderia passar incólume a esse fenômeno. Dados do Departamento Nacional de Trânsito, o Denatran, disponíveis no site do IBGE, sinalizam para a redução no ritmo de expansão da frota nos últimos anos. Embora os dados sejam de 2015, já refletem a desaceleração identificada desde então. Naquele ano, 243,4 mil veículos circulavam pelas ruas da Feira de Santana. O crescimento em relação ao ano anterior foi de 5,8%: a frota total era de 229,9 mil em 2014. Em 2013, totalizava 213,9 mil, com incremento, portanto, de 7,4% entre esses dois anos, 2013 e 2014. Nos períodos anteriores o percentual de expansão era mais robusto: 8,7% entre 2012 e 2013 (cuja frota totalizava 196,7 mil automóveis) e 10,3% entre 2011 e 2012, quando somava 1

Ataques evidenciam presença do “Novo Cangaço” na região

Em menos de dois m eses, duas agências bancárias foram saqueadas em Cachoeira, município vizinho aqui da Feira de Santana. O ataque só não teve maior alcance porque, em dois outros bancos, os criminosos não conseguiram arrebentar os caixas eletrônicos. Um deles ocorreu no belo e antigo prédio que sedia o Banco do Brasil na cidade. O outro foi em uma agência do Bradesco. Como é praxe, em nenhum dos ataques se soube quanto os ladrões levaram. Dois fatores fundamentais explicam os ataques em sequência ao município. Um deles envolve a dimensão logística: Cachoeira é próxima da BR 101, não é distante da BR 324 e, a partir dela, pode-se acessar diversas rodovias baianas, percorrendo distâncias relativamente curtas. Quem conhece a fundo esses caminhos, escapa com maiores chances de êxito. Os atrativos, porém, vão além: um intrincado sistema de estradas locais interliga Cachoeira a distritos e pontos inimagináveis àqueles que desconhecem a região. É fácil esconder-se, aguardando momento m

Chuva tardia muda cenário no morro de São José

Finalmente começou a chover na Feira de Santana. Ontem (29), pela tarde, caiu uma trovoada intensa. Durante a madrugada, chuviscou, umedecendo o solo que foi castigado pelo sol inclemente durante meses infindáveis. Pela manhã, a cidade foi recoberta por uma extensa camada cinza de nuvens, despejando uma garoa que, em alguns instantes, ameaçou encorpar, assumir feição de trovoada. Mas ficou nisso e, aos poucos, o chuvisco foi cedendo, apesar das nuvens escuras permaneceram cobrindo o céu. Ontem, a chuva da tarde foi tão intensa que a afamada serra de São José, no distrito de Maria Quitéria, se diluiu na cortina d’água. Sequer a silhueta esbranquiçada era visível a partir da BR 116 Norte. A trovoada encurtou os horizontes. Até os longilíneos coqueiros das cercanias da estrada diluíram-se, balançando sob o vento que reforçava o temporal. Quem sempre transita por ali estava acostumado às manhãs e tardes incandescentes, que produziam tons diferentes sobre a serra de São José. A princíp

Agora querem privatizar os Correios

Querem privatizar a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. É o que já se insinua a partir do noticiário dos últimos dias. O script é o mesmo de sempre: primeiro anunciam-se prejuízos milionários – o que não deixa de ser verdade -, em tom de descalabro; depois se afirma que a direção da empresa sempre foi indicada pelos partidos políticos, o que explica esse descalabro. Fica, então, um silêncio calculado no ar: qual a solução para o problema? Privatizar porque, por princípio, a gestão privada é preferível à pública. Isso ainda não foi dito explicitamente. Mas o terreno está sendo preparado. Ironicamente, é o emedebismo quem se escala para tocar essa jornada redentora – convertendo-se de inveterado penduricalho na administração pública em arauto do redentor liberalismo caipira – como se sobrassem credenciais à legenda para empreitada do gênero. A semana começou com a notícia de que milhares de funcionários da empresa podem perder seus postos de trabalho. Sorrateiramente, surg

Jogo alimenta sonhos no Centro de Abastecimento

Tem sido difícil para o brasileiro pobre segurar o rojão da crise econômica que se arrasta desde meados de 2014. Números oficiais indicam que há quase 13 milhões de desempregados Brasil afora; outros tantos milhões se desdobram com menos dinheiro, porque os salários caíram; e sabe Deus quantos, que se achavam na informalidade, viram seus rendimentos caírem com a debandada de antigos clientes. Quadro funesto, comparável àquele que os brasileiros viveram entre os anos 1980 e o início do século XXI. Recorrer a outras formas de sobrevivência se tornou fundamental para conseguir ir atravessando os duros tempos atuais. Há quem saia vendendo biscoito, bolo, salgados, refeição, roupa, perfumes, cosméticos. A clientela potencial espalha-se pelas ruas, pelas empresas, pelas repartições públicas, pela própria vizinhança. Mas a competição é muito dura: muitos recorrem às mesmas estratégias. É difícil se consolidar. Prestar serviço também virou recurso corriqueiro. Cresceu o número de pedreiro

Manifestações pró-governo fracassaram

Fracassaram as manifestações programadas para ontem (26) contra a corrupção, pela ética e por outros motivos variados. Os próprios organizadores reconhecem o fiasco. Estavam à frente os “movimentos sociais” que, durante dois anos, promoveram apoteóticos atos visando a deposição da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). O declínio foi retumbante: dos milhões que a imprensa exaltava o espírito cívico, restaram uns poucos milhares. A oposição farejou fracasso nas manifestações. Talvez, não: esses movimentos integraram a orquestração destinada a depor a ex-presidente; findo o processo e alcançado o objetivo, deixaram de fazer sentido. Cumpriram, portanto, seu papel. Tanto que saíram de cena há quase um ano. Ontem, saíram apenas para se contrapor às mobilizações contra as draconianas reformas trabalhista e da Previdência, demarcando território. Exibem reivindicações vazias, protestando contra a corrupção, mas ignorando os larápios cujos nomes seguem vindo à tona. Como mobilizadores de mul

Mandatário de Tietê emplaca terceirização

O olhar perdido costuma ser sintoma de preocupação. As órbitas fixam algo no horizonte, mas a mente vai muito além, viaja percorrendo o insondável, remoendo coisas desagradáveis. É que o rosto sempre está contraído ou exibe uma expressão de tristeza. O corpo denota esse estado de espírito: braços prostrados, mãos sem jeito, ombros arqueados. Nessas situações a mente doideja e o corpo segue, dócil, os desarranjos da fantasia. Quem enfrenta problemas graves em algum momento da vida, muitas vezes, fica nesse estado. Embaraços financeiros são motivo frequente. Nas andanças pela vida, já vi muito trabalhador com esse aspecto por aí. Gente marchando no calote por serviços prestados, por produtos vendidos, em ocupações precárias com remuneração instável. E também trabalhadores terceirizados, que desempenham suas funções em empresas privadas e no serviço público. Dizem que situações do gênero vão mudar: a novíssima legislação aprovada na quarta-feira, regulamentando a terceirização, pretend

A bazófia da aposentadoria para o trabalho precarizado

As ocupações disponíveis para o trabalhador feirense são muito precárias, em sua maioria. Os melhores empregos estão reservados para aqueles que possuem nível superior. Nessas funções, há o conforto do ar condicionado, do mínimo esforço físico, dos ambientes salubres, sem os rigores do clima, da convivência mais civilizada. Mas poucos trabalhadores feirenses dispõem de nível superior. É claro que também existem postos salubres para quem têm nível médio ou menos. E muitos que estão na informalidade, sem seus direitos formalmente assegurados em carteira de trabalho, também não se expõem em atividades arriscadas ou penosas. Mas é necessário reconhecer, também, que muita gente labuta sob absoluta precariedade. Uma das faces mais visíveis da precariedade está no comércio informal. Para quem trabalha na rua, o sol costuma ser implacável na Feira de Santana. Mesmo os que se resguardam nas sombras exíguas sofrem com as temperaturas elevadas. E também sofrem com corredores estreitos e barr

Programas habitacionais lançaram pobres na periferia

Em texto anterior lançamos a discussão sobre a necessidade de se começar a avaliar a política de habitação popular em Feira de Santana. Particularmente o programa Minha Casa Minha Vida, de amplo apelo midiático nos governos petistas. É claro que houve avanços expressivos; mas é claro, também, que houve equívocos que precisam ser discutidos. Afinal, pelo jeito, essa era está chegando ao final. No Brasil, pobre sempre penou para ter acesso aos espaços urbanos para moradia. Na média, esse acesso se deu com as ocupações que deram origem às favelas. Isso, muitas vezes, em morros ou depressões próximos das áreas nobres; os demais foram se arranjando nos espaços rurais, distantes, que aos poucos foram incorporados ao perímetro urbano, dando origem às periferias. A presença do pobre nas imediações das áreas nobres sempre causou desconforto. Ao longo da história, não faltaram esforços para afastá-los, mantê-los a distância prudente. Foi o que aconteceu, por exemplo, no Rio de Janeiro, na p

É hora de avaliar os avanços da habitação popular

Tudo indica que o ciclo de vultosos investimentos em habitação popular está findando no Brasil. Uma das razões, óbvia, é a forte contração no orçamento, decorrente da crise econômica, cujos efeitos já começam a ficar visíveis; outra razão é que os parcos recursos disponíveis serão compartilhados com projetos voltados para a população de renda média, que não era tão priorizada nos governos petistas. Quem tem condições de financiar imóveis mais caros também vai passar a contar com mais apoio oficial na captação de crédito. É provável que, nos próximos anos, o déficit habitacional volte a crescer; que o número de habitações precárias também se amplie; e que alguns avanços conquistados nos últimos anos se diluam. Afinal, está aí em vigor uma emenda constitucional que limita os gastos públicos. E isso, quase sempre, é sinônimo de gastar pouco – ou nada – com pobre. Feira de Santana foi dos municípios brasileiros mais beneficiados pelos investimentos do Minha Casa Minha Vida (MCMV). Cer

19 de março sem esperança de chuva

O dia 19 de março, dia de São José no calendário católico, aproxima-se sem grande expectativa do agricultor familiar. No imaginário popular, essa é a data-limite que marca o início do inverno sertanejo. Caso não chova até aí – e, pelo jeito, tudo indica que não vai chover, pelo menos na região – o inverno tende a frustrar-se mais uma vez; as esperanças de dias mais fartos adiam-se para meados do ano – outubro em diante – quando recomeça o hipotético ciclo de trovoadas. A partir daqui o que se tem é a chuva miúda que não abastece reservatórios. Descontando a chuva intensa que despencou durante o Carnaval, numa única tarde, não chove forte há muito tempo na Feira de Santana. As manhãs têm sido sufocantes; as tardes, abrasadoras; nuvens se avolumam, algumas azuladas, mas o vento empurra para distante. A partir de novembro, o calor foi intenso, insuportável, mesmo para os padrões locais. Mas nada da chuva redentora. Nem é preciso circular, procurar o campo, afastar-se para a zona rura

Sem pressão, reforma da Previdência passa fácil

Tem deputado esperneando contra a draconiana reforma da Previdência de Michel Temer, o controverso mandatário. Acham o conteúdo duro demais contra a população. E tem razão: mais um pouco, e aparece uma emenda propondo a revogação da Lei Áurea. Para aprovar conforme a encomenda do “Deus Mercado”, o emedebismo revogou qualquer freio moral: chantagens e ameaças de tomar cargos e cortar verbas têm sido expedientes corriqueiros para aprovar a temerária proposta. Muito deputado tem medo de aprovar a reforma e naufragar ano que vem, nas urnas, quando o eleitorado começar a perceber o embuste traiçoeiro. É provável que situações do gênero ocorram. Mas, para conter parte dos imensos retrocessos tramados, é necessário mais: é preciso que o povo vá às ruas, protestar. Até aqui há silêncio demais e nenhuma mobilização. Parece que o interregno petista arrefeceu os ânimos das antigas lideranças sindicais. As novas, caso existam, ainda não mostraram serviço. Essa modorra é amplamente favorável a

O intenso transporte alternativo para Salvador

“Salvador, Salvador !!!”, “Salvador, Salvador !!!”. Basta dobrar a esquina da avenida Sampaio com a rua Comandante Almiro para a torrente de convites, aos berros, inundar os ouvidos dos transeuntes. Inúmeras gargantas anunciam a capital baiana como destino dos incontáveis automóveis que fazem o transporte de passageiros. Mais adiante, fica a fachada acinzentada da estação rodoviária. Quem pretende chegar lá, porém, tem pela frente uma maratona de, pelo menos, cem metros de convites, de ofertas, de negociação. Aquele quarteirão abriga uma fauna variadíssima. Há os despachantes à cata de viajantes para a capital; há usuários do transporte coletivo que aguardam, impacientes, no ponto de ônibus de concreto encardido; há garçons que recolhem carne em churrasqueiras nas calçadas, lançando densa fumaça gordurosa; há moto-taxistas que papeiam à espera de eventuais passageiros; há tipos suspeitos, de ocupação indeterminada; e, até há pouco tempo, havia prostitutas que aguardavam clientes nos

Novo recorde: 14 mil desempregados desde 2014

O número de pessoas que perderam seus empregos formais em janeiro de 2017 mais que dobrou em relação ao mesmo mês do ano passado. Isso mesmo: há alguns dias anunciou-se que, no primeiro mês do ano, exatos 513 postos de trabalho haviam sido extintos na Feira de Santana. Em 2016, quando ninguém achava que a crise estava perto do fim, foram 240 demitidos além do número de admitidos. Todos esses dados são oficiais, extraídos do site do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Em relação a dezembro, porém, o saldo negativo caiu pela metade: foram 1.031 empregos a menos, no mais terrível mês para o mercado de trabalho no município. Mês, inclusive, atípico para tantas demissões. Na comparação, em termos absolutos, a situação segue dramática, porque o desemprego não verga; mas ainda é cedo para apostar em taxa declinante, à primeira vista. Quem mais sofreu em janeiro foram os comerciários: saldo negativo de 105 postos de trabalho; os serventes de obra e pedreiros, por sua vez, permanecem n

Facções avançam em Feira e Salvador

É fácil perceber como Salvador está loteada entre as facções que controlam o crime organizado na capital. Nem é preciso sair investigando: naquelas comunidades pobres que margeiam a BR 324 – Bom Juá, Retiro, São Caetano – é possível ver, das janelas dos automóveis, os símbolos das facções pichados nas paredes dos barracos que ficam no sopé dos morros. Aquilo é publicidade, mas também advertência para eventuais adversários. Nem sempre os avisos intimidam: são comuns as notícias de confrontos entre quadrilhas rivais, que costumam registrar mortos e feridos. Às vezes, moradores em trânsito pelas vielas acabam alvejados pelos projéteis. Reclamar não resolve: naquele emaranhado de becos, verdadeiros túneis de alvenaria, o poder público nunca chega. Nem mesmo a polícia. A diversidade de facções em Salvador espanta. São pelo menos quatro, conforme divulga a polícia. Uma delas, inclusive, é cria do Primeiro Comando da Capital (PCC), lá de São Paulo. E uma outra – o Comando da Paz – é tão