Publicado originalmente em Julho/2020
Hoje
(21) o comércio da Feira de Santana reabre novamente. É a terceira reabertura
desde o começo da pandemia do novo coronavírus, em março. A decisão não se deve
a uma queda sustentada no número de infectados, mas à abertura de 40 leitos de
UTI, exclusivos para o tratamento da doença, no Hospital Clériston Andrade 2. A
unidade foi inaugurada na semana passada pelo governo estadual. Com o aumento
no número de leitos – a ocupação chegou a 100% dias atrás – a prefeitura
enxerga margem segura para a reabertura.
Já
são mais de 100 mortos pela doença na Feira de Santana. O total de infectados
bordeja os seis mil. Não calculei, mas imagino que a média diária de novos
infectados não seja inferior a 100. A quantidade de casos em alguns bairros
assume proporções alarmantes. Mesmo assim, aposta-se em mais uma reabertura.
As
medidas adotadas no município são de deixar o cidadão desnorteado. Até o
domingo, toque de recolher à noite, restrições à comercialização em
feiras-livres e ao funcionamento de estabelecimentos comerciais. Subitamente,
anuncia-se a reabertura, sem nenhum tipo de transição, de maneira abrupta. Não
sou especialista no tema, mas busco enxergar racionalidade nas medidas
adotadas, sobretudo quando elas se dão em sequência.
“Fique
em casa” é a recomendação que se ouve por aí, nos discursos de muitas
autoridades. O problema é que a abertura das lojas insinua normalidade,
retomada da rotina. É para ficar em casa ou ir ao comércio, garimpar
liquidações, caçar boas ofertas? Os sinais são contraditórios. Muitos,
temerosos – e sensatos –, temem contaminar-se e ficam em casa; outros,
destemidos, arrojam-se para as ruas, sem máscara.
A
não-solução – decisões divergentes enquadram-se no clássico exemplo de
“não-solução” em matéria de política pública, porque conduzem a resultados que
se anulam – vem conduzindo o País ao mais dilacerante dos impasses.
Abre-e-fecha o comércio, morre gente, muitos se infectam, quem tem medo não sai
para comprar, a economia permanece estagnada, não se opta mais pelo lockdown – necessário lá atrás – e o
brasileiro amarga o calvário.
Isso
vai até quando? Tudo indica que até a descoberta, fabricação e aplicação de uma
vacina. Mas é bom não ficar se iludindo. Não existe milagre em ciência, que
exige investimento, dedicação e tempo. Quem se guia pelos falsos milagres,
vendidos nas insones madrugadas televisivas, vai se decepcionar. Nada garante
que, até o fim do ano, haverá vacina na praça. Se houver, ótimo. Mas, e até lá?
Quantos vão morrer nesse ciclo vicioso da não-decisão?
Deus
é quem sabe. Mas, pelo jeito, ele resolveu dar um tempo em relação à situação
do Brasil...
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