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Mostrando postagens de novembro, 2015

Impressões sobre o islamismo radical em Paris

                                                 Entre os meses de junho e julho realizei uma antiga aspiração: conhecer Paris. Por lá, percorri o circuito turístico tradicional: visitei o Sena e suas águas calmas e escuras, admirei a imponente torre Eiffel, me impressionei com o Arco do Triunfo e com a catedral de Notre Dame, me extasiei com os Jardins de Versalhes, percorri as ruas estreitas e festivas de Montmartre, conheci relíquias de civilizações antigas visitando o Louvre e também compareci à Bastilha e à Republique, que avivaram lembranças dos livros de História. A rigor, tudo muito banal: incontáveis viajantes fazem o mesmo périplo todos os anos e registram suas impressões em infinitos relatos.                 O inusitado da viagem só aflorou agora, a partir dos terríveis atentados que abalaram a capital francesa na sexta-feira 13, deixando mais de uma centena de mortos. Em parte, é porque nos hospedamos justamente nas imediações dos locais dos atentados. Mas não só: naqu

Crise no transporte público já dura um ano

                Quem embarca nos ônibus grená e branco pode não suspeitar, mas todos aqueles veículos circularam por anos a fio pela Zona Sul da cidade de São Paulo. Além de Santo Amaro e adjacências – reduto fervilhante de nordestinos que foram tentar a vida na metrópole paulistana – os veículos circularam pela periferia pobre da região, pontuada por dezenas de “jardins”, normalmente batizados com nomes femininos – Miriam, Ângela, Amália e por aí vai. Muitos feirenses – aqueles que vão em busca de mais oportunidades no Sudeste – sem dúvida veem esses veículos com familiaridade.                 Os ônibus azuis e brancos – o padrão da pintura em toda a capital é o mesmo, só muda a cor, conforme a região –, por sua vez, circulam no extremo oposto da cidade, na Zona Norte. Já os verdes e brancos circulam pela Zona Oeste. Os amarelos, mais raros por aqui, também são mais raros por lá e conectam regiões específicas do centro expandido e da Zona Leste.                 Mas não são ap

A dimensão econômica do tráfico de drogas

                                 Praticamente todos os dias alguém é preso na Feira de Santana sob acusação de tráfico de drogas. Essa rotina faz com que pelo menos centenas de detentos – entre os mais de 1,6 mil internos alojados no Conjunto Penal feirense, segundo dados oficiais – cumpram pena ou aguardem sentença relacionada a esse tipo de delito. As apreensões de drogas são, também, muito frequentes no município. Flagrantes de dezenas ou até centenas de quilos de maconha são comuns, mesmo não sendo tão habituais. Enormes quantidades de cocaína também já foram apreendidas por aqui. Segundo autoridades policiais, Feira de Santana integra as rotas dos barões do tráfico no País.                 Embora oficialmente não se reconheça, comenta-se que os traficantes ditam as leis em algumas comunidades pobres da Feira de Santana, principalmente aquelas com população significativa e mais distantes do centro da cidade. Isso, sequer, configura novidade: em Salvador e, sobretudo, no Rio de

Números do extermínio da juventude negra feirense

                                O sistemático extermínio da população masculina, jovem e negra no Brasil, vem aparecendo com alguma frequência no noticiário. Isso em função da reiterada repetição de episódios de violência envolvendo esse segmento da população. Recentemente, até mesmo uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) investigou o tema no Congresso Nacional, constatando o óbvio: que essa matança é disseminada em todo o País. A Bahia – estado com maior número de negros em sua população – ocupa lugar de destaque nesse triste ranking. A Feira de Santana, logicamente, não fica atrás e contribui para alavancar esses números.                     Todos sabem que a Feira de Santana é uma cidade violenta: em 2010, a taxa de homicídios por 100 mil habitantes atingiu 56,59, o que é bastante superior ao nível aceitável definido pela ONU (9,3 por 100 mil). Para os jovens em geral – na faixa dos 15 aos 29 anos – o risco era mais que decuplicado: impressionantes 132,86. Para a população

A “Década Perdida” de Dilma Rousseff

Os anos 1980 ficaram conhecidos no Brasil como a “Década Perdida”: a inflação descontrolada, o desemprego alarmante, a precarização crescente do trabalho, o crescimento econômico pífio e a incapacidade crônica do Estado de debelar esses problemas contribuíram para a alcunha que se consagrou naquele decênio. O bafejo da esperança, porém, embalava as mobilizações dos brasileiros: depois de muita luta, o regime militar finalmente ruiu e, em 1988, o País ganhava uma Carta Magna que, pelo menos no papel, aproximou o Brasil da modernidade. Plagiando aquele período, tudo caminha para que a segunda década do século XXI também seja reconhecida como mais uma “Década Perdida”. O diagnóstico coincide com os dois mandatos presidenciais de Dilma Rousseff (PT), que há apenas pouco mais de nove meses começou uma conturbada segunda gestão, depois de uma acirrada disputa eleitoral em 2014. Em termos de crescimento econômico, a conclusão já parece óbvia: o Produto Interno Bruto (PIB) será negati