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Mostrando postagens de setembro, 2009

O sucesso da Expofeira

Comenta-se sobre o sucesso da Expofeira 2009 sob distintas vertentes. Não faltaram políticos prestigiando o evento em ano pré-eleitoral. Não faltou – para variar – trânsito caótico na entrada do Parque de Exposições. E também não faltou público, o que é um ingrediente a mais para tornar a festa concorrida. Em 2009, porém, parece que se ensaiou um resgate da antiga vocação econômica da Feira de Santana e que por muitos anos andou negligenciada, que é a pecuária. O ir e vir dos vaqueiros e suas boiadas, os animais que se refaziam bebendo nas lagoas e olhos d’água que antes existiam no antigo arraial, o agricultor e o pecuarista que vêm à cidade fazer negócios, o comércio local que se fortaleceu com a pujança do setor primário deixaram marcas inegáveis na cultura e na história do município. A industrialização que começou no final dos anos 1960 e o acelerado processo de urbanização então em curso deixaram o feirense envergonhado de suas origens rurais. Foi assim que a falsa dicotomia

Evocação do Recife

Andei procurando pela Internet o poema “Evocação do Recife”, de Manuel Bandeira. No site de busca Google há exatas 21 mil referências à expressão, com aspas. “Evocação do Recife” é dos mais elevados momentos da literatura brasileira. Intenso em suas imagens, vívido na meticulosa distribuição de suas palavras, através de frases que não contêm ordem aparente e, sobretudo, hipnótico à atenção do leitor. À medida que a leitura flui, o Recife de Bandeira vai despertando sensações. A rotina das famílias à noite, as brincadeiras infantis, cavalhadas e novenas, o Capiberibe, o povo pelas ruas falando a língua brasileira. Por fim, a quase intimidade com a casa do avô de Bandeira, “impregnada de eternidade”. Às últimas palavras, resta uma indefinível sensação de nostalgia. Nostalgia pelo que não se viu, mas pelo que se sentiu através da leitura. Fui apresentado a Bandeira na adolescência, num livro de Língua e Literatura Portuguesa. Não lembro mais o autor, mas lembro do poema e, sobretudo,

Coronelismo e culto à personalidade

No Brasil fala-se de “culto à personalidade” como se fosse prática exclusiva de regimes comunistas do Leste Europeu, na era stalinista, ou exotismo dos países socialistas remanescentes, como o Vietnam e a Coréia do Norte. Aliás, sempre de antemão nos colocamos na vanguarda, comodamente, para analisar esses fenômenos. Esquece-se, todavia, que no mundo ocidental existem pelo menos dois tristes exemplos da mesma prática: a Bahia e o Maranhão. Até a redemocratização, aí por meados da década de 1980, havia mais desse personalismo no país. Nas décadas anteriores era mais comum, mas aos poucos os caudilhos foram caindo em desuso, porque não havia muito que desbravar. Somente no Nordeste a tradição se manteve, mas em declínio, já que os coronéis iam morrendo e o povo se educando aos poucos. Os dois últimos expoentes, que sobreviveram até o século XXI, estavam justamente na Bahia e no Maranhão. No Maranhão a simbiose foi profunda e José Sarney subsiste, mesmo vergastado pelas denúncias de a

O Parlamento não digere a democracia virtual

A tentativa do Congresso Nacional de cercear a liberdade de opinião através da Internet é ao mesmo tempo preocupante e alvissareira. Preocupante por motivos óbvios: trata-se de mais uma ingerência – ou tentativa – da classe política de cercear a liberdade de opinião que a Constituição de 1988 prevê e que, até recentemente, era exercida apenas pelos poucos “privilegiados” que tinham acesso aos meios de comunicação convencionais, como jornais impressos, emissoras de rádio e televisão. Por outro lado, é alvissareira por dois motivos: primeiro porque o acesso e o uso da Internet como meio de comunicação no Brasil vem se difundindo, alcançando dezenas de milhões de brasileiros que integram o universo de “incluídos digitais”. Segundo, porque a expansão já causa imensa preocupação na Câmara e no Senado, onde se tenta forjar amarras inúteis no longo prazo. Semana passada a ingerência e a incompreensão do que representa o fenômeno da Internet eram visíveis através das imagens da TV Senado:

Crime organizado mostra a cara na Bahia

Os ataques a módulos policiais e os incêndios de ônibus na periferia de Salvador mostram que o modus operandi do Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa paulista, começa a se disseminar Brasil afora e já chegou à Bahia. Embora longe das proporções assumidas pelos ataques realizados em São Paulo em maio de 2006, a ação audaciosa dos criminosos na capital baiana mostra organização, articulação e, aparentemente, comando unificado. No Rio de Janeiro também são frequentes os incêndios de ônibus em pretensos protestos de supostos moradores de bairros pobres da periferia. Aliar-se às duas principais capitais brasileiras no quesito articulação do crime organizado não é nada confortável para Salvador. Pelo contrário, é algo extremamente preocupante. Os criminosos vêm se organizando no Brasil há pelo menos três décadas. Começou com o Comando Vermelho nas prisões do Rio de Janeiro nos anos 1970, evoluiu com a estrutura semiempresarial do PCC em São Paulo na década passada e agora já m

Notícias da Feira de Santana (VII)

A Feira de Santana em 1937 O ano de 1937 foi marcado por uma alta no preço médio do quilo dos animais abatidos e vendidos em Feira de Santana. A carne bovina, mais popular desde aquela época, passou dos mil e cem réis em 1935 para 1$400 dois anos depois. A carne de dois outros animais vendidos na cidade também registrou elevações: a suína (com aumento menor, de 1$400 para 1$600) e a caprina, cujo reajuste estabeleceu um recorde: pulou de novecentos mil-réis para 1$400. Naquele ano a população começava a ter conhecimento do rebanho existente no município. Eram 60 mil bovinos, 27 mil suínos, 22 mil ovinos, 15 mil caprinos e ainda 12 mil eqüinos e 7.500 asininos e muares. Os bois lideraram o número de abates: 9.633, segundo a contabilidade oficial, seguidos dos caprinos, com 6.223. Por fim, foram abatidos 4.020 suínos. O capital de giro dos comerciantes ia aumentando e já somava 12.169 contos de réis. 708 comerciantes cadastrados movimentavam esta soma em transações que interligavam a Pri

A oportunidade de um moderno Jóia da Princesa

Nesse mês de agosto o Jóia da Princesa completa 24 anos de reinauguração. Quase um quatro de século depois, a única alteração que o estádio sofreu foi a colocação de um placar eletrônico, que imprensa e torcedores reivindicaram durante muitos anos. No mais, o então moderno estádio – para os padrões de conforto daqueles anos – cujo gramado constava entre os melhores do Brasil, conforme atestaram inúmeros jogadores, foi se deteriorando pela força do tempo com o passar dos anos. Hoje, nem mesmo o gramado escapa. Em 1985, Feira de Santana ganhava um estádio compatível com sua importância. Afinal, antes a arquibancada era menor, as torres de iluminação eram inseguras e deficientes e o entorno do estádio era lastimável, melhorando consideravelmente com o esgotamento e a pavimentação asfáltica. Naqueles anos, o prefeito era José Falcão da Silva e o governador era João Durval Carneiro. Semi-profissional, o futebol exigia a inversão de rec

Notícias da Feira de Santana nos anos 30 (VI)

Afirma o senso comum que o povo brasileiro não tem memória. No que se refere à conservação de informações estatísticas importantes sobre a História Brasileira, este raciocínio se confirma, principalmente em relação às cidades. Feira de Santana, infelizmente, não foge a esta regra e as referências às décadas passadas, quase sempre, são relegadas à memória dos que as viveram. A década de 1930 (particularmente o intervalo entre 1931 e 1937) em parte constitui uma louvável exceção. Nela começou a se construir uma estatística com informações econômicas e sociais sobre a Bahia e seus municípios. Estes dados constam no Anuário Estatístico da Bahia publicado então. Através da leitura e da comparação, o leitor poderá acompanhar como evoluiu a Feira de Santana, que em contínua transformação, embora lenta, começava a ganhar as feições sob as quais a conhecemos hoje. A Feira de Santana em 1936 O Anuário Estatístico da Bahia de 1936 regi