Publicada originalmente em Maio/2020
O mês de abril foi catastrófico
para o mercado de trabalho na Feira de Santana. Aliás, não só por aqui: o país
e boa parte do planeta penam sob os efeitos da pandemia do novo coronavírus. No
saldo, foram extintos exatos 2.230 postos formais de trabalho no município. As
assombrosas 3.376 demissões foram só parcialmente compensadas pelas escassas
1.146 contratações. Note-se que o número reflete apenas aquela situação em que
o cidadão tem registro formal, com carteira assinada. Não é o caso de quem
peleja na informalidade e que não figura neste levantamento.
O mês de abril de 2020 firma-se,
portanto, como o pior mês na História do mercado de trabalho na Feira de
Santana. Não há registro de retração tão brutal nas últimas décadas. Até então,
o recorde pertencia a dezembro de 2016, quando foram despedidos 1.031
trabalhadores. Aquela leva de dispensas ainda refletia os efeitos da funesta
crise econômica legada pelo petê e, posteriormente, embalada pelo emedebismo.
Esta, agora, se deve à pandemia do Covid-19.
Aquele biênio 2015/2016 também
teve outros meses dolorosos para os empregos formais. Foi assim, por exemplo, em
maio (-883) e julho (-870) de 2016. Naqueles dois anos, 12,5 mil empregos
deixaram de existir. O setor mais afetado foi a construção civil, com mais de 2,2
mil demitidos, depois que o boom de
moradias populares expirou com a lipoaspiração do badalado programa Minha Casa
Minha Vida.
A nova escalada do desemprego é
diversa. Muitos economistas apostaram – sobretudo nos países desenvolvidos –
que ela teria um formato em “V”: uma queda abrupta num intervalo curto, seguida
de uma rápida recuperação. Já há quem relativize, julgando que a recuperação
pode não ser assim tão rápida. No Brasil – imerso, sobretudo, numa profunda e
imprevisível crise política – nada sinaliza para essa trajetória otimista.
Muitos governos mundo afora
reagiram de imediato à avassaladora retração provocada pela pandemia: bancaram
parte dos salários dos trabalhadores – sem redução nos valores –, ampliaram
programas sociais e adotaram imediatamente medidas que minimizaram os efeitos
do Covid-19 no curto prazo. A quarentena foi intensa, mas breve: alguns países
já estão retomando suas atividades, com as precauções necessárias.
Por aqui, optou-se por uma via
delirante: negar os efeitos do Covid-19. Alguns malucos, mais atacados,
dobraram a aposta: julgam que o novo coronavírus é uma orquestração dos
chineses para dominar o mundo. Enquanto sucediam-se essas excentricidades, o
governo, pusilânime, cruzou os braços, amplificando os efeitos perversos da
pandemia, sobretudo entre os mais pobres.
As pressões pela retomada da
atividade econômica, por sua vez, podem contribuir para aumentar a contaminação
e retardar – suprema ironia – a própria retomada. Por aqui, a propósito, o pico
nem chegou. Tudo indica que vai ser longo – e amargo – o fim do outono e o
inverno para boa parte dos brasileiros. Talvez, com a chegada da primavera, o
País recomece a recolher seus cacos na saúde pública, na economia, na vida de
uma forma mais ampla.
Isso se os tresloucados que
desgovernam o País deixarem, é claro...
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