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Mostrando postagens de setembro, 2016

Crônicas temerárias (II)

            Parece que, nos próximos meses, pretende-se revogar esse negócio de aposentadoria, de direito a ócio remunerado no fim da vida. É o que se deduz com base nas propostas que estão sendo urdidas lá no Planalto Central, em Brasília, pelo controverso presidente Michel Temer e sua equipe. Pelo que noticia a imprensa, aposentadoria, para os mais jovens, só a partir dos 65 anos; mas com valor integral só com inacreditáveis 50 anos de contribuição. Alguém na temerária Brasília deve ter descoberto que aposentadoria é coisa de comunista, de subversivo, de malandro, de vagabundo, de quem não gosta de trabalhar. Daí resolveram revogar esse inadmissível privilégio com um expediente sorrateiro: estabelecem-se pisos altíssimos demais, para que apenas uns poucos privilegiados consigam alcançá-lo. Mas, evidentemente, cobra-se de todo mundo, é claro. Quando criança, na década de 1980, espantava-me andar pela Feira de Santana e me deparar com incontáveis idosos desvalidos, pedindo esmol

Crônicas temerárias (I)

             Quando flertava com a manobra traiçoeira que apeou Dilma Rousseff do poder, Michel Temer (PMDB) proclamou que conduziria um governo de “salvação nacional”. E anunciou, solene, que montaria um ministério de “notáveis” para conduzir essa sagrada missão. Como todos sabem, os notáveis ficaram pelo caminho, atropelados pelos políticos profissionais que alcançaram o balcão – essa imortal instituição nacional – em desabalada carreira. Os “notáveis” figuraram como piada um par de dias mas, depois, foram esquecidos.             Há quem enxergue no temerário ministério um magote de nulidades, pouco qualificados em questões gerenciais; outros adotam uma perspectiva ética: figuram no olimpo temerário figuras altamente suspeitas de envolvimento com corrupção, inclusive nos mesmos escândalos que serviram para escorraçar os petistas, embora isso a chamada grande mídia não repise. Passados quase cinco meses do controverso mandato, porém, uma outra característica avulta do famigerado

Meio ambiente é tema banido das eleições municipais

              Faltam poucos dias para as eleições municipais. No próximo final de semana, mais precisamente, saberemos quem vai conduzir a Feira de Santana até 2020. Isso se não houver segundo turno, o que as pesquisas descartam até aqui. A campanha foi curta: meros 45 dias, com pouco mais de 30 dias de campanha na televisão. E o tempo foi dramaticamente encurtado, com somente duas inserções diárias de apenas 10 minutos. Com tão pouco tempo, ficou difícil saber o que os candidatos a prefeito pensam sobre uma série de temas. A questão ambiental, por exemplo, exigiria um debate mais profundo. A rigor, a Feira de Santana possui uma Secretaria de Meio Ambiente o que, em tese, configura um avanço. Mas, embora disponha de estrutura institucional, o município não conta com nenhuma política para o setor. O que se anuncia, sempre, são intervenções pontuais, normalmente anunciadas com estardalhaço. As lagoas feirenses seguem sendo tragadas pela especulação imobiliária. Muitas se transform

A crise sob a ótica do mercado imobiliário

              Ao longo do ano passado muita gente relutou em admitir que o Brasil começava a atravessar uma severa crise econômica, certamente a mais profunda em mais de um século. Alguns, por questões políticas: aceitar a recessão implicava em colocar-se na defensiva, depois de quase uma década da frenética pujança consumista legada pelo lulopetismo, que perdia o discurso a partir da debacle econômica. Outros mostraram-se arredios mais por questão de temperamento, de dificuldade em aceitar que o País ingressava em uma quadra dura, de desemprego elevado e de consumo declinante. São os otimistas incorrigíveis.                 Enquanto a recessão transitou pelo noticiário, com os esotéricos indicadores econômicos em gráficos indecifráveis, tudo bem: aquilo assemelhava-se aos incessantes debates estéreis que a imprensa teima em repisar, sem efeitos práticos. Pouco a pouco, porém, a crise foi migrando da retórica e dos indicadores para a vida real: muitos foram perdendo seus empregos

O Coronel é uma instituição latino-americana

Dizem os estudiosos, gente metódica do meio acadêmico, que o Coronelismo acabou; Que se trata de fenômeno histórico, esgotado quando Getúlio Vargas triunfou com sua revolução, lá em 1930, sepultando a República Velha. Bobagem: mais que uma categoria ou um elemento de análise sociológica, o Coronelismo é um estado de espírito, uma forma de ser, uma visão particular sobre o mundo e a sociedade. E persiste até os dias atuais, apesar de todos os esforços, infrutíferos, para considerá-lo sepultado. O Coronel é uma figura pitoresca que não floresce num lugar determinado do Brasil: simbiótico, ele encarna todas as metamorfoses necessárias, mostrando-se perfeitamente ajustado às mais distintas regiões do País. É como o camaleão, cuja tonalidade da pele encarna as características do ambiente em torno. E, faça-se justiça, é figura continental: vê-se espécimes semelhantes espalhadas pela América Latina, emergindo dos fundos de província com seu bigode indefectível, com seu chapéu panamá, c