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Mostrando postagens de maio, 2018

Feira concentra caminhoneiros em greve

Na Bahia, Feira de Santana é dos principais locais de mobilização da greve dos caminhoneiros autônomos contra os reajustes do óleo diesel. Há uma concentração na BR 116 Norte, nas imediações do bairro Cidade Nova. Desde terça-feira (22), dezenas de veículos estão parados à margem da pista, provocando lentidão no trânsito no sentido centro da cidade, principalmente no início da manhã. Mas não existem piquetes ou bloqueios: apesar do engarrafamento, todo mundo passa. A frota estacionada é bem variada: vai desde possantes carretas que transportam combustíveis até pequenos ou imensos caminhões-baú, passando por carretas graneleiras de carroceria quadrada e antigos caminhões Mercedes-Benz carregados com engradados vazios de hortifrutigranjeiros. Há caminhões, inclusive, com carga perecível. A fila, hoje (23) pela manhã, era longa: partindo da passarela da Cidade Nova chegava até defronte ao antigo Derba, pelo lado do Campo Limpo. Mas se estendia também pelas cercanias do Parque Ipê, oc

A trajetória do prédio do Centro Universitário de Cultura e Arte

O prédio do Centro Universitário de Cultura e Arte, o CUCA, é uma das edificações mais impressionantes da Feira de Santana. Fica situado na rua Conselheiro Franco – nas imediações da Praça da Catedral – e é vinculado à Universidade Estadual de Feira de Santana, a Uefs. O espaço foi construído especialmente para funcionar como escola, o que era raro aqui na região, conforme observa publicação do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia, o IPAC. O início da construção do grupo escolar foi há mais de 100 anos: data de 1912, quando Agostinho Froes da Mota era intendente. Foi entregue, finalmente, em 1916, ofertando o ensino fundamental. Apenas em 1927 é que começou a funcionar como Escola Normal, em data que os historiadores registraram com apuro: 1º de junho. Dedicou-se, nas quatro décadas seguintes, à formação de professores. Em 1968 aconteceu a segunda mudança: tornou-se Faculdade de Educação, criada por decreto estadual daquele mesmo ano. Em 1976 o prédio imponente pa

História e arquitetura da Prefeitura de Feira

Um dos prédios mais imponentes da Feira de Santana é aquele que abriga a Prefeitura Municipal. Fica num dos mais emblemáticos cruzamentos da cidade, entre as avenidas Getúlio Vargas e Senhor dos Passos. Naquele trecho muito da vida política e cultural da cidade ganha expressão: feiras – de livros, de saúde -, apresentações musicais, atividades de lazer e, sobretudo, manifestações políticas acontecem defronte à prefeitura, no estacionamento encoberto pelas sombras generosas das árvores. O prédio começou a ser erguido há quase 100 anos: no dia 11 de setembro de 1920 o Conselho – a versão da época da Câmara Municipal – autorizou a construção da nova sede da prefeitura. Não demorou para a pedra fundamental ser lançada, já no ano seguinte. Foi sob a gestão do intendente Bernardino Bahia, com o engenheiro Acciolly Ferreira da Silva assumindo a responsabilidade técnica. Demorou seis anos para a obra ser concluída: em 1926, já sob a intendência de Arnold Ferreira da Silva – cargo equivale

Situação da economia volta a assustar

O Brasil voltou a flertar com a desaceleração econômica. É o que sinaliza a prévia do Produto Interno Bruto – PIB divulgada pelo Banco Central, o BC, essa semana. Março foi um mês desfavorável: a queda, em relação ao mês anterior, fevereiro, foi de 0,74% e, na comparação com o mesmo mês de 2017, o declínio foi menos intenso: 0,66%. Analistas estimavam retração bem mais modesta: apenas 0,1%. Isso vai impactar sobre a mesma prévia do PIB: queda de 0,13% em relação ao trimestre anterior. A divulgação dos números levou os analistas a refazerem seus cálculos sobre o PIB de 2018. Antes, as projeções apontavam para um crescimento em torno de 3%. Depois da divulgação dos dados nada alvissareiros referentes ao primeiro trimestre, a expectativa caiu para algo perto de 2,5%. Diversos fatores ajudam a explicar essa retração. Sob a perspectiva estritamente econômica, o desemprego elevado impede o aquecimento da demanda interna, freando a retomada. Os juros caíram, mas, sem trabalho, o brasilei

A gênese do calçadão da Sales Barbosa I

Antigamente não existia calçadão na Rua Sales Barbosa, a afamada “Rua do Meio” de outros tempos. Por ali circulavam carros e até gente a cavalo, conforme atestam fotos antigas. Foi só em meados dos anos 1970 que começaram as obras para a construção do calçadão, com o piso de pedras portuguesas reportando-se à herança cultural lusitana. A iniciativa, do então prefeito Colbert Martins, acompanhava uma tendência que surgia em capitais do Sudeste, como São Paulo e Curitiba. Durante toda a primeira metade dos anos 1980 circular pela via era um prazer: as pedras, muito claras, resplandeciam; pardais chilreavam incessantemente e, muitas vezes, pousavam nos canteiros suspensos, pintados de verde, atraindo a atenção de quem circulava. Trânsito mais intenso de pedestres só nos períodos festivos. Nenhuma barraca obstruía o trânsito de pedestres. A partir da Praça Froes da Mota, seguindo em direção às praças dos Remédios e Bernardino Bahia, pontuavam as lojas de confecções. Eram muitas, como

As tendências do eleitor feirense

Essa semana saiu uma pesquisa sobre as eleições presidenciais de 2018. Nela, Jair Bolsonaro (PSL-RJ) lidera e venceria todos os potenciais adversários num hipotético segundo turno. Caso figurasse entre os presidenciáveis, Lula venceria todo mundo. Mas, preso em Curitiba há um mês, tudo indica que a probabilidade do líder petista disputar a eleição é bem remota. Isso significa que, objetivamente, quem lidera hoje a sucessão presidencial é Jair Bolsonaro. O levantamento permite também inferências adicionais. Geraldo Alckmin (PSDB-SP), a grande aposta do “deus mercado” – anunciado como candidatura de “centro” – patina no mesmo patamar, inferior a dois dígitos, há muito tempo. Ciro Gomes (PDT-CE) tenta se viabilizar à esquerda, mas tende a fracassar caso não construa uma coligação robusta. Mas está mais próximo dos míticos dois dígitos que Alckmin. Hoje, quem duelaria com Jair Bolsonaro seria Marina Silva (Rede-AC), a segunda colocada. Mas, sem estrutura partidária e com um discurso d

O potencial da horticultura no Recôncavo

Sábado passado (12) o sol irradiava uma luz festiva, puríssima, sob um céu de azul indevassável nas cercanias do Bessa e de Amélia Rodrigues. Foi uma dessas manhãs típicas de maio, com o sol caricioso e o dia resplandecendo num espetáculo de cores. Nela, o viajante que trafegava pela BR 324 pôde se extasiar com os infinitos tons de verde do capim viçoso, dos resquícios de Mata Atlântica que se encarapitam pelos morros e das árvores frutíferas – manga, jaca, coco e caju – que ornam a margem da pista. Mas, por ali, o que chama muito a atenção são os caprichados cultivos de hortaliças. Alface, cebolinha, coentro, couve e salsa crescem – num verde vívido – em covas bem cuidadas e umedecidas pelas chuvas que caem com frequência desde abril. É comum se deparar com um trabalhador em sua faina: colhendo hortaliças muito tenras nos inícios de manhã, regando quando as chuvas escasseiam ou cavoucando a terra preparando novas covas que, lá adiante, vão desabrochar numa maravilhosa demonstraçã

O dilema do PT nas eleições 2018

Lula amargou mais uma derrota no Supremo Tribunal Federal. Foi essa semana, no julgamento de um recurso que solicitava sua libertação. Pelo que noticia a imprensa, a partir daqui é provável que o ex-presidente fique, pelo menos, algum tempo preso. A decisão começou a esfriar a pressão por sua soltura – que já não tinha grande repercussão – e açulou os mais pragmáticos – e afoitos – a buscar alternativas eleitorais viáveis para o petismo antes que a Justiça bloqueie formalmente a candidatura de Lula. Dois nomes despontam como pré-candidatos da legenda: o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, e o ex-governador da Bahia, Jaques Wagner. Parte do petismo – a banda mais otimista – aposta que basta Lula sinalizar para a indicação de qualquer um dos dois que a vitória está assegurada, talvez até no primeiro turno. Mas há quem defenda, dentro do petê, o apoio à pré-candidatura de Ciro Gomes (PDT), ex-governador do Ceará e ex-ministro do próprio Lula. Esses são movidos pela crença de q

Indicadores são desfavoráveis aos negros em Feira II

Em texto anterior discutimos a condição desfavorável do negro na Feira de Santana, com base em dados de 2010 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Apesar das visíveis e persistentes desigualdades, o Brasil atravessa uma fase de voraz supressão de direitos e de negação da exclusão secular. Os números – que retratam uma realidade distante, mas que pouco se transformou – reafirmam o desafio e podem ajudar a embasar políticas governamentais. Isso caso o tema permaneça na agenda pública, o que é incerto, dada a dura maré reacionária em curso. Uma frase já célebre afirma que, no Brasil, pobreza tem cor. É a cor da pele dos afrodescendentes, em geral, e dos negros, em particular. Na Feira de Santana a assertiva também é válida: em 2010, o percentual de negros extremamente pobres era de exatos 6%; entre os brancos, o índice correspondia a menos da metade: 2,98%. Entre aqueles considerados pobres a proporção é quase a mesma: os negros representam 17,32% e os brancos

A outrora fervilhante praça do Nordestino aguarda nova função

A Praça Dom Pedro II – mais conhecida como Praça do Nordestino – é um dos espaços mais emblemáticos da Feira de Santana. Mais pelo que já representou no passado que, propriamente, pelo que significa no presente. O espaço margeia a engarrafada avenida Senhor dos Passos e fica muito próxima da rua Sales Barbosa, efervescente centro de comércio popular do município. É relíquia dos primeiros impulsos da expansão urbana, quando a cidade se desgarrava das cercanias da Praça da Matriz, espichando-se. Nas décadas de 1980/1990 e no início dos anos 2000 o Nordestino era um dos principais destinos de quem transitava de ônibus pela Feira de Santana. Até os anos 1980, na Senhor dos Passos, os carros circulavam em mão dupla – aqueles blocos de concreto apelidados de “gelo baiano” separavam as duas faixas – e a circulação de pessoas por ali já era grande. Não havia Feiraguai, o comércio não se expandira tanto em direção à Getúlio Vargas, tampouco haviam surgido os shoppings e centros comerciais

Indicadores são desfavoráveis para os negros na Feira I

Um dos desdobramentos da onda conservadora – reacionária até – que varre o Brasil nos últimos tempos é a crítica intensa à afirmação de direitos de minorias e segmentos da população historicamente excluídos. Os afrodescendentes – negros e pardos –, evidentemente, não iam ficar de fora desse patrulhamento. Dizem que, nos últimos tempos, se atiçou o conflito racial, contrariando a harmoniosa “democracia racial” que vigorava noutra era. Conversa fiada: essa integração nunca existiu e as profundas desigualdades sociais do País alvejam, sobretudo, os afrodescendentes. A própria Feira de Santana exibe um panorama que atesta esse processo de exclusão. Uma referência é o Índice de Desenvolvimento Humano – IDH, que avalia a qualidade de vida sob três dimensões: expectativa de vida ao nascer, renda e acesso à educação. No município – confirmando o que se verifica em outras regiões do País – há visíveis discrepâncias. Os dados são de 2010, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

Paisagens do Rio sob intervenção I

Há dois meses o Rio de Janeiro convive com a intervenção federal na sua segurança pública. A medida foi anunciada como uma grande sacada de Michel Temer (MDB-SP), o mandatário de Tietê, para alavancar sua candidatura à presidência da República. Os resultados apresentados até agora são pífios – segundo a imprensa, a violência cresceu – e nada sinaliza que a situação vá melhorar até dezembro. Mesmo assim, bilhões de reais serão torrados com a iniciativa marqueteira. Enquanto isso, cariocas e fluminenses tentam tocar a vida com a máxima normalidade possível. Quem se aproxima do estado pela Via Dutra – a rodovia que une Rio e São Paulo, as duas maiores cidades do País – e envereda no estado pelo Sul, extasia-se com os recortes dos parques nacionais do Itatiaia e da Bocaina e se encanta com o rio Paraíba do Sul e sua caudalosa torrente. A beleza e a quietude impressionam. Adiante, pelo campo, sucedem-se casarões nos campos férteis, radiosamente iluminados pelo sol no céu de azul puríss

A rotina agitada da Praça do Tropeiro

Quem desce a ru a Recife em direção ao Centro de Abastecimento, lá embaixo, se depara com a afamada Praça do Tropeiro, defronte ao galpão de carnes. Há, ali, um monumento discreto que reforça a referência: a figura de um vaqueiro devidamente paramentado – gibão, chapéu, botas – que puxa um cavalo esguio pelas rédeas. O próprio vaqueiro também é esguio e parece talhado para se insinuar pela vegetação agreste, espinhosa, típica das cercanias que se estendem em direção aos sertões. Pouca gente, porém, gasta seu tempo ali examinando com mais vagar a figura imponente. Nem mesmo os tabaréus que desfilam exibindo gibões e que, atarefados, dedicam-se às necessárias compras e à resolução de pendências, antes que os ônibus partam em direção aos longínquos lugarejos da Feira de Santana e dos municípios vizinhos. Os que circulam por ali costumam demonstrar pressa: engatam caminhada em direção ao centro da cidade, vencendo com pernadas firmes a íngreme rua Recife. Essa procissão errática – as