Pular para o conteúdo principal

O golpe do Parlamentarismo

Notícias dos últimos dias indicam que Lula vai passar pela Feira de Santana na badalada caravana que pretende manter sua visibilidade, visando as eleições presidenciais de 2018. Isso deve acontecer na segunda quinzena de agosto, segundo estimativa de lideranças petistas. Jair Bolsonaro (PSC-RJ) – o deputado federal que é militar reformado – também circula pelo país, ganhando visibilidade e sendo aclamado por seus admiradores. O Nordeste é uma das regiões que conta com sua presença constante.
Ninguém sabe se Lula vai, de fato, viabilizar-se como candidato: já há uma condenação da Justiça em primeira instância que, caso se confirme, vai tirá-lo do páreo. Bolsonaro é figura controversa e não se sabe se terá o aval do mercado financeiro para ser alçado à presidência. Mas, sem dúvida, vai ser beneficiário do voto de “protesto” de parcela insatisfeita da sociedade. Exatamente como ocorreu com Donald Trump, lá nos Estados Unidos.
Todavia, o cenário político no Brasil é inteiramente imprevisível e  o presidencialismo pode ser suprimido. A crise econômica, ao contrário do que alardeia a trupe de Michel Temer, está aí na rua; contestado por seus resultados e pela forma como chegou ao poder, o mandatário de Tietê conduz um governo trôpego, cuja única realização é a brutal supressão de direitos dos mais pobres e dos trabalhadores. Isso para não mencionar os avassaladores escândalos de corrupção, que envolvem boa parte do staff governamental.
Tantas turbulências favorecem as decisões que tangenciam a soberania popular e que atendem às conveniências dos grupos encastelados no poder. É o caso da ressurreição da proposta do parlamentarismo. Apresentada em meio à fragilização do Executivo, a ideia busca ampliar os poderes dos deputados. A mudança valeria a partir de 2022. Noutras palavras, significa perpetuar essa gente que está lá no Congresso Nacional com poderes ampliados daqui a cinco anos.
O pior é que especulam fazer a mudança à revelia do povo, segundo noticia a imprensa, numa votação entre eles mesmos, sem o necessário aval popular. Sustentariam, assim, seu adorável convescote lá no Planalto, enquanto o brasileiro se esfalfa gerando a riqueza que vai sustentá-los. A manobra, provavelmente, é inconstitucional. Mas, depois da rija rasteira no petismo, essa gente está pouco preocupada em manter as aparências.
No parlamentarismo à brasileira, teríamos uma monumental bancada do fisiologismo e do clientelismo, manietando um primeiro-ministro oriundo da mesma cepa. É difícil acreditar que, até lá, o brasileiro vá permanecer dócil, conformado, cordato, aceitando os sucessivos assaltos a seus parcos direitos. Mas tudo é possível. O fato é que a cartada do parlamentarismo se encaixa, perfeitamente, à velha máxima: “é necessário mudar tudo, para que tudo permaneça como está”.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Cultura e História no Mercado de Arte Popular

                                Um dos espaços mais relevantes da história da Feira de Santana é o chamado Mercado de Arte Popular , o MAP. Às vésperas de completar 100 anos – foi inaugurado formalmente em 27 de março de 1915 – o entreposto foi se tornando uma necessidade ainda no século XIX, mas só começou a sair do papel de fato em 1906, quando a Câmara Municipal aprovou o empréstimo de 100 contos de réis que deveria custear sua construção.   Atualmente, o MAP passa por mais uma reforma que, conforme previsão da prefeitura, deverá ser concluída nos próximos meses.                 Antes mesmo da proclamação da República, em 1889, já se discutia na Feira de Santana a necessidade de construção de um entreposto comercial que pudesse abrigar a afamada fei...

Patrimônio Cultural de Feira de Santana I

A Sede da Prefeitura Municipal A história do prédio da Prefeitura Municipal de Feira de Santana começou há 129 anos, em 1880. Naquela oportunidade, a Câmara Municipal adquiriu o imóvel para sediar o Executivo, que não dispunha de instalações adequadas. Hoje talvez cause estranheza a iniciativa partir do Legislativo, mas é que naqueles anos os vereadores acumulavam o papel reservado aos atuais prefeitos. Em 1906 o município crescia e o prédio de então já não atendia às necessidades do Executivo. Foi, então, adquirido um outro imóvel utilizado como anexo da prefeitura. Passaram-se 14 anos e veio a iniciativa de se construir um prédio único e que abrigasse com comodidade a administração municipal. Após a autorização da construção da nova sede em 1920, o intendente Bernardino Bahia lançou a pedra fundamental em 1921. O engenheiro Acciolly Ferreira da Silva assumiu a responsabilidade técnica. No início do século XX Feira de Santana experimentou uma robusta expansão urbana. Além do prédio da...

O futuro das feiras-livres

Os rumos das atividades comerciais são ditados pelos hábitos dos consumidores. A constatação, que é óbvia, se aplica até mesmo aos gêneros de primeira necessidade, como os alimentos. As mudanças no comportamento dos indivíduos favorecem o surgimento de novas atividades comerciais, assim como põem em xeque antigas estratégias de comercialização. A maioria dessas mudanças, porém, ocorre de forma lenta, diluindo a percepção sobre a profundidade e a extensão. Atualmente, por exemplo, vivemos a prolongada transição que tirou as feiras-livres do centro das atividades comerciais. A origem das feiras-livres como estratégia de comercialização surgiu na Idade Média, quando as cidades começavam a florescer. Algumas das maiores cidades européias modernas são frutos das feiras que se organizavam com o propósito de permitir que produtores de distintas localidades comercializassem seus produtos. As distâncias, as dificuldades de locomoção e a intermitência das safras exigiam uma solução que as feiras...