O
noticiário econômico costuma ser apresentado na forma de números agregados:
taxa de expansão do Produto Interno Bruto (PIB); a taxa anual de inflação; ou o
saldo entre empregados e desempregados num mês específico; o vaivém das taxas
de juros ao longo do ano e por aí vai. Árida por natureza, a economia é
matéria-prima difícil de lapidar como notícia. É conteúdo bruto que exige muita
perícia para se apresentar de maneira palatável para o cidadão médio, avesso à
encrencada engrenagem macroeconômica.
Ironicamente,
a interminável crise econômica vem aproximando o cidadão desse jogo esotérico. Antes,
nos anos 1980, a desgraça era a inflação: os saltos estratosféricos nos preços,
as máquinas de remarcação funcionando, frenéticas, o dinheiro se
desvalorizando, perdendo metade do seu valor numa dezena de dias. Aquela
tragédia aproximou o brasileiro do noticiário econômico, já que ele precisava
entender aquele desastre.
Depois,
na década seguinte, veio o Plano Real e as indagações mudaram de foco: saiu de
cena o dragão inflacionário e veio à ribalta o debate sobre as taxas de juros.
Outra desgraça: enquanto alguns lucravam o inimaginável na ciranda financeira,
as filas de desempregados encorpavam porque as reengenharias lipoaspiravam
empregos e muitos alimentavam a crença tola que, caindo milagrosamente as taxas
de juros, lá adiante – bem lá adiante – nos enfronharíamos no sonhado paraíso
liberal.
Naquela
época, apesar do traquejo limitado do brasileiro com o noticiário econômico,
este o absorvia em alguma medida: afinal, seu destino atava-se àqueles
gráficos, àqueles indicadores, àquelas imperscrutáveis teorias que o condenavam
às agruras financeiras. Mas aí veio o efêmero bafejo de prosperidade dos anos
2000.
E,
ironicamente, o brasileiro desgarrou-se do noticiário econômico.
Prosperidade
perpétua
É
que, aos poucos, foi se disseminando a sensação que a economia brasileira
mergulhara numa espiral de prosperidade perpétua. Quem tinha muito seguiu agadanhando
mais; os que tinham pouco ganharam alguma coisa; e quem não tinha nada,
debutava na sociedade de consumo, extasiado. Para o povão, o noticiário
econômico – com todas as suas eventuais ressalvas – deixou de fazer sentido. Na
festa do consumo que se seguiu, não havia espaço para sutilezas econômicas.
A
relativamente longa bonança acuou o debate econômico na imprensa: quem
criticava o governo era rotulado de derrotista ou direitista; havia espaço apenas
para o êxtase grosseiro de quem exultava, enxergando atalhos que suprimiam a
questão crucial da escassez de recursos, no contexto de uma sociedade
organizada sob a lógica capitalista. Foi o tempo em que o brasileiro médio só
pensava em consumir, alheio às elucubrações econômicas.
Pois
bem: sobreveio a ruína e, a partir do início de 2015, o brasileiro médio foi
arrastado de volta às manchetes econômicas. Só desgraças: inflação e juros em
alta, déficit público estratosférico, desemprego ascendente, produção em
declínio. O interesse começou a crescer a partir do momento em que muitos foram
tragados pela espiral recessiva, perdendo renda ou o próprio emprego.
A labuta do jornalismo
econômico ficou, tragicamente, menos ingrata: nas ruas, o cidadão enxerga exatamente
aquilo que os números dos telejornais lhe mostram: menos emprego, menos renda,
menos negócios, mais miséria, mais dívidas. Enfim, após a temporada benfazeja,
o noticiário econômico volta à cena porque o brasileiro precisa se equipar para
a feroz batalha pela sobrevivência.
Comentários
Postar um comentário