Em
textos anteriores mencionamos como é difícil a vida de quem vive na zona rural
da Feira de Santana. Refiro-me aqui, claro, à agricultura familiar e àqueles
que detêm pequenas propriedades, às vezes insuficientes para extrair o próprio
sustento. Há dez anos, o Censo Agropecuário mapeou essa realidade,
disponibilizando informações essenciais à formulação de políticas para o segmento.
Esses dados são ainda mais fundamentais em cenários de seca implacável, como a
que o Nordeste atravessa até esse momento.
É
verdade que, nos últimos dias, caíram algumas chuvas que animaram o produtor.
Muitos devem estar na labuta, cavoucando a terra úmida para lançar sementes que
podem germinar, caso siga chovendo com alguma regularidade nos próximos meses.
Mas é pouca coisa perto dos terríveis anos consecutivos de seca inclemente.
Talvez se anuncie aí alguma colheita de milho e feijão.
Alívios
transitórios, contingentes, porém, não tornam dispensável pensar nas questões
estruturais que afligem o pequeno produtor. Uma situação perversa – mencionada
há alguns dias – é a intensa concentração fundiária existente aqui na Feira de
Santana. Parcela expressiva das propriedades é ínfima. E, evidentemente, alguns
poucos proprietários concentram boa parte da terra disponível.
Dados
do Censo Agropecuário de 2006 apontam que 84,2% dos estabelecimentos – precisos
7.553 dos 8.969 contabilizados no total no município – distribuem-se por apenas
14,73% da área total. É capital de menos para produtores de mais; caso houvesse
distribuição mais equânime, os impactos sobre a redução da pobreza e a
distribuição de renda seriam consideráveis.
Pouca terra
Debruçando-se
sobre as informações, é possível perceber absurdos. Aproximadamente 4,5 mil
propriedades tem área de, no máximo, um hectare, extensão similar à de um campo
de futebol oficial. É mais da metade do total de estabelecimentos do município.
No máximo, é espaço para abrigar um pequeno pomar e plantar algumas covas de
milho, feijão e mandioca.
Inacreditáveis
2,4 mil estabelecimentos têm área que varia entre 0,2 e 0,5 hectare, metade de
um campo de futebol. E mais de 320 não superam os dois hectares. Propriedades
com essas dimensões – e com as áridas características climáticas da região –
tendem a produz pouco, às vezes sequer o mínimo para a subsistência.
Talvez
aí até haja feirenses fatigados da vida urbana, que resolveram adotar o campo
como local de residência. Certamente não são tantos, menos ainda a maioria. Por
outro lado há, seguramente, muita gente cuja residência na zona rural não se
trata de opção e que, por essa razão, padece à espera de uma vida melhor.
Conforme já mencionado acima, um novo censo se aproxima e comenta-se que
as informações que traçam o perfil social do rural podem ser suprimidas do
questionário. Sem esses dados, vai ser difícil propor políticas para o
segmento. Sobretudo aquelas mais controversas, que tendem a mexer com a
estrutura fundiária do país e, obviamente, da região. Ainda mais em um cenário
de rígidos retrocessos sociais.
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