Ao
longo da semana o feirense abasteceu sua despensa com os produtos essenciais
para a preparação da ceia consumida nesta Sexta-Feira da Paixão. Pelo centro
comercial, nos espaços em que se amontoam vendedores ambulantes, nas
feiras-livres dos bairros e, sobretudo, no Centro de Abastecimento, foi intenso
o ir-e-vir de quem foi comprar os ingredientes para o tradicional pescado. O
caruru e o vatapá – iguarias típicas da culinária afro-baiana – indispensáveis ao
cardápio da época, também exigem atenção com a aquisição do azeite de dendê, da
castanha de caju, do camarão, do quiabo.
Vistosas
rumas de camarão seco eram visíveis à distância no galpão que concentra os
vendedores do produto ali no Centro de Abastecimento. Somavam-se aos montes
verdejantes de quiabo, às infindáveis fileiras de garrafas que acondicionam o
azeite avermelhado, às sacas da castanha corada que a escassez de chuvas tornou
mais rara nesse verão. Balaios imensos sustentavam esses produtos.
O
povo pechinchou, sobretudo nas investidas pela castanha. Os preços elevados
tornaram os consumidores mais minuciosos, examinando se o produto não estava
quebrado, se não estava queimado; o estalido da ponta do quiabo se partindo
também foi ruído comum: ajudava o vendedor a atestar a qualidade do produto disponível
no balaio. O burburinho também costuma se intensificar nos balcões e barracas
que oferecem a cebola, o tomate, o pimentão e o coentro empregados como
tempero.
As
chuvas recentes fortaleceram um pouco o ânimo alquebrado do sertanejo. A seca
impiedosa, que se arrastou infindável, tornou o dinheiro escasso; com o ansiado
inverno, cresceram as despesas miúdas: um aperitivo aqui, uma ferramenta ali,
um calçado mais adiante. As vendas da Semana Santa, sem dúvida, trazem um
alívio temporário para o comércio no entreposto.
Televisão
Nos
restaurantes e lanchonetes do Centro de Abastecimento muitos passaram a semana acompanhando,
estupefatos, as notícias que se seguiam nos aparelhos de tevê. Apesar da
preocupação com as vendas, com as safras e as secas, não faltaram comentários
sobre a desfaçatez que viceja no Planalto Central. “Esse país não tem jeito”,
não faltou quem comentasse, após o cafezinho ou o lanche rápido.
A
inflação – a carestia dos antigos tabaréus – sumiu um pouco dos comentários.
Predominava há um ano, quando Dilma Rousseff (PT) concluía sua derrocada. Mas a
normalização das safras noutras regiões e os severos efeitos da recessão sobre
os preços afastaram o tema das conversas. As dificuldades econômicas e as
incertezas sobre o futuro ganharam espaço.
“Vão
privatizar a Previdência”, explicava um taxista, ali no estacionamento onde já
houve caixa eletrônico de banco. Não é exatamente isso, mas os olhares
apreensivos captavam o sentido, refletindo temores sobre o futuro. Jovens temem
não ter direito aos benefícios que são o principal arrimo dos mais velhos.
Mas, mesmo assim, a Semana
Santa foi mais para festiva, com o peixe e os ingredientes do vatapá e do
caruru pesando nas sacolas plásticas compradas por ali mesmo. Virão largas
doses de vinho, a refeição pantagruélica e, depois, mais dois dias de trégua na
rotina feroz. O povo mantém o sorriso e um discreto otimismo, apesar de todo o
noticiário que teima em resgatar o passado pelo retrovisor...
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