Quem
se aventurou pelo Centro de Abastecimento nos dias que antecederam os festejos
juninos pôde notar uma significativa diferença em relação ao ano passado: a
oferta de produtos se ampliou, inclusive com expressiva redução de preços em
relação a 2016. Tudo por conta das chuvas que começaram a cair nos primeiros
dias de abril e que se estenderam até aqui, meados do mês de junho. Embora o
semiárido siga carecendo de mais chuva, sobretudo para reforçar os
reservatórios, o inverno sertanejo representou uma trégua feliz na rotina de
secas dos últimos anos.
Foi
visível a fartura do amendoim, do milho e da laranja, três dos mais típicos
produtos dos festejos juninos. Os ingredientes para os bolos da época, como o
aipim, também estavam disponíveis com preços mais em conta. A inesperada
deflação foi um alento nesse longo interregno de recessão econômica combinada
com inflação.
Em
cenários do gênero, ganha o produtor rural – sobretudo os agricultores
familiares – que plantam, colhem e têm o que vender; e ganham os consumidores
dos centros urbanos que, com a oferta mais ampla, compram a preços mais
acessíveis. É a típica situação em que todos os acabam sendo beneficiados.
Situações
assim se tornaram raras nos últimos anos. Desde o início da década que
sucessivas e implacáveis estiagens arruinaram safras e dizimaram rebanhos,
desarticulando a frágil economia do semiárido. As chuvas recentes atenuaram a
situação, embora sirvam para amenizar parte das perdas. Mas são importantes,
sobretudo em função dos três anos de recessão que penalizam os brasileiros.
Perspectivas
No
primeiro trimestre o clima era desanimador no Centro de Abastecimento. As
esperadas trovoadas que deveriam cair no período não chegaram à região da Feira
de Santana. No mítico 19 de março – data consagrada a São José – sequer
chuviscou. No entreposto, as habituais rodas de conversa dos tabaréus perderam
a vitalidade, o vigor. Afinal – reza a crença popular – restava esperar, mais
uma vez, as trovoadas do final de ano.
Pela
zona rural feirense são visíveis as plantações de milho e de feijão, que hoje
emprestam vida às campinas antes castigadas pela estiagem. É visível também que
algum pasto se recompõe e que os animais já não definham como há alguns meses.
Manhãs e tardes não são mais marcadas pela claridade estonteante: vem sendo
comum os dias começarem com uma garoa tímida, que dilui o horizonte numa
cortina d’água.
Trata-se,
conforme se percebe, de uma trégua no cotidiano do sertanejo. Muito bem-vinda
em função dos revezes dos últimos anos, mas apenas uma trégua: lá adiante, é
inevitável que novas estiagens ocorram, resgatando o ciclo secular de fartura e
escassez que caracteriza a região. Intervenções governamentais bem planejadas é
que podem favorecer o convívio mais harmônico com esses fenômenos.
O problema é que o País
está de pernas para o ar e questões do gênero sequer figuram nos debates recentes.
Economicamente estagnado e politicamente convulsionado, o Brasil, hoje, padece
sem rumo. Com ambiente tão funesto talvez seja melhor seguir a sabedoria
sertaneja e aproveitar esses dias de bonança. Pensar no futuro é antecipar
problemas. E a fartura modesta propiciada pelo inverno sertanejo tem que ser
bem vivida...
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