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Eleições diretas é o único caminho para o Brasil

Pilhado numa comprometedora palestra gravada com um dos nababos da indústria de carnes, Michel Temer (PMDB-SP), o mandatário de Tietê, garante que não vai renunciar. E saiu com uma cômica versão de conspiração contra seu mandato. Tomando-o pelo que afirma, planejam aplicar-lhe uma rasteira, semelhante àquela que apeou Dilma Rousseff (PT) e o petismo do poder. Explicação sobre o diálogo comprometedor ele não apresentou. Mas recorreu, fartamente, à chantagem econômica: justo agora, que as coisas engrenam, querem tirá-lo do poder. Nessa versão, a festejada recuperação da economia pode escangalhar-se com o sururu político.
Há um denso mistério – que, em algum momento, lá adiante, vai se revelar – envolvendo todo esse quiproquó. Até aqui submisso, o mandatário de Tietê comportou-se como um perfeito mamulengo: todas as reformas exigidas pelo mercado financeiro e pelos patrões andaram; algumas, inclusive, já foram aprovadas, para terrível desconsolo do trabalhador.
O que poderia, portanto, justificar a inesperada estocada? Por quê a chamada grande mídia assume postura dúbia, ora mordendo, ora assoprando o controverso governante? Há casos, inclusive, de veículos em franca e ostensiva defesa do governo de plantão; e há situações de frontal oposição, algo impensável uns poucos dias atrás. Haveria, aí, choques em função de interesses não contemplados pelo governo? É difícil dizer.
O fato é que as reformas redentoras pararam no Congresso, à espera do desfecho do imbróglio. Cambaleando, o mandatário de Tietê tenta empertigar-se, recuperar a postura ereta; as lideranças partidárias à sua volta aguardam os próximos desdobramentos, calculando se desembarcam de imediato ou se permanecessem mais algum tempo, usufruindo do poder.

Eleições Diretas

É patente, desde o ocaso de Dilma Rousseff, que o Brasil precisa de eleições presidenciais diretas para começar a tentar pacificar o País. Michel Temer encarna o esforço de sustentar uma pretensa normalidade democrática embora, lá fora, o teatro não tenha convencido muita gente. Aqui – à base do toma-lá-dá-cá – ele tenta tocar a agenda do capital e forjar uma duvidosa normalidade institucional, que só os mais desavisados enxergam.
A tentativa de defenestrar Michel Temer, porém, não traz embutida nenhuma intenção democrática: o objetivo é indicar alguém – via eleições indiretas no Congresso Nacional – mais confiável e – quiçá – mais equipado para tocar as impopulares reformas que agora estão paralisadas. Seguramente não virá, para o povo, coisa melhor que o que está aí.
Esse recente rebu político sinaliza que, dia a dia, o Brasil se afasta um pouco mais da democracia tão duramente conquistada há apenas três décadas. Mergulha-se, cada vez mais, num labirinto cujo desdobramento pode ser um governo autoritário que, mais à frente, descambe numa ditadura sem subterfúgios. Muitos sinais do gênero já são visíveis, para quem acompanha o noticiário com atenção.
O ideal seria a realização de eleições diretas. Quem se candidatar e vencer, sai com a delicada missão de pacificar o país, resgatar o crescimento econômico e contribuir para a normalização das relações políticas e institucionais. Missão difícil em qualquer circunstância, mas mais ainda diante do leque pobre de pré-candidaturas já colocadas no tabuleiro eleitoral...

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