Surpreendentemente,
o governo Michel Temer (PMDB-SP) resolveu lançar um amplo pacote de
privatizações. Assim, do nada, pegando até o onisciente mercado financeiro de
surpresa. Mais um sintoma – preocupante – de que as decisões do governo de
plantão são tomadas ao sabor da maré política ou conforme as conveniências do
momento. Ninguém mencionou estudos, levantamentos ou pesquisas que dessem
suporte a um projeto de governo, mesmo que deficiente, precário, orientado para
privatizações.
As
convicções rasas construídas pelos militantes de redes sociais indicam que o
privado, necessariamente, é superior ao público; que tudo deve ser vendido,
leiloado, concedido, dado; e que, assim, alcançaremos o paraíso da eficiência.
Nenhuma teoria fundamenta essa convicção: chega-se a ela a partir de uma
espécie de fervor religioso, que a incessante doutrinação digital enraiza.
Mas
não é nem essa convicção rasteira que move o emedebismo. É a necessidade
urgente de fazer caixa, já que o otimismo panglossiano
que sustentou as projeções do crescimento econômico – e da arrecadação –
mostrou-se exagerado. E ano que vem tem eleição, é preciso disponibilidade de
recursos para tocar as obras paroquiais que ajudam a eleger os integrantes do
consórcio governista.
Foi
essa lógica que moveu o anúncio do pacote de privatizações, que inclui a
estratégica Eletrobrás. É provável que, no açodamento, o patrimônio público
seja alienado com resultados altamente lesivos para a sociedade. Mas a onda é
privatizar, reverbera a sabedoria das redes sociais, fundamentada numa leitura
teológica da economia.
Emedebismo sem
projeto
Bastou
anunciarem a privatização da Eletrobrás para pipocarem notícias alvissareiras:
o valor de mercado das ações da empresa subiu; e surgiram doutos especialistas
anunciando que o preço da energia vai cair para o consumidor. Propaganda do
gênero foi comum quando leiloaram o sistema Telebrás. Hoje, o brasileiro paga
uma das tarifas telefônicas mais caras do mundo e os serviços são péssimos.
O
mais estarrecedor, porém, é a constatação que o temerário regime se move sem
projeto: a badalada Ponte para o Futuro – documento que o emedebismo brandiu
como símbolo da modernidade – não passa de um festival de platitudes. E o
governo é tocado via balcão, guiado pela lógica de atender amigos, afagar
grandes empresários e, sobretudo, satisfazer os humores das bancadas da bala,
do boi e do dízimo.
O
problema é que não há, apenas, limitações no que se refere a projeto, a
planejamento ou a uma visão de país, por mais limitada que seja. O governo
move-se imerso em um denso lodaçal de corrupção e seus movimentos demonstram,
em muitos momentos, que o Estado se tornou refém da necessidade de
sobrevivência política da trupe e do próprio mandatário de Tietê.
Isso significa que os já
imensuráveis prejuízos para os brasileiros podem se tornar muito maiores até o
final do ano que vem, quando o emedebismo encerra sua encenação presidencial,
caso não saia antes. Diante desse cenário, a inquietação só não é densa,
profunda, porque a maioria permanece imersa na crença da infalibilidade do deus
mercado e não consegue enxergar a realidade ao redor.
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