Milhares
de feirenses encorparam a marcha que marcou a maior Greve Geral das últimas
décadas no Brasil. Imagino que algo similar só tenha acontecido no distante
1989, durante o governo José Sarney. Depois da concentração em frente à
prefeitura, os manifestantes percorreram parte do centro da cidade, como a
avenida Senhor dos Passos e a rua Conselheiro Franco. O impacto da greve sobre
a rotina da cidade foi visível: poucas lojas abriram e, as que abriram, não registraram
movimento.
Ao
contrário de protestos anteriores, dessa vez houve maior articulação: ônibus
não circularam, os bancos não funcionaram, escolas públicas e privadas
dispensaram seus alunos, repartições públicas se mantiveram fechadas e o
movimento no centro comercial foi pífio. Foi, sem dúvida, uma demonstração de
força dos trabalhadores.
Pôde-se
observar a presença de várias centrais sindicais nas ruas feirenses. Sinal que
as discordâncias históricas estão sendo superadas, pelo menos nesse momento de
vertiginosas investidas contra os direitos dos brasileiros. Fundamental também
tem sido o papel da Igreja Católica, que em muitos momentos contribuiu
decisivamente para substanciais avanços para o país, como na luta pela
redemocratização. Agora, novamente, a instituição se posiciona ao lado dos mais
pobres.
No
país inteiro – contabilizando aí boa parte dos estados – milhões de brasileiros
foram se posicionar contra o falso consenso forjado em torno das deletérias
reformas tocadas pelo governo de Michel Temer (PMDB-SP), o mandatário de Tietê.
Caso o perverso ciclo reformista seja concluído, o Brasil emergirá com dezenas
de milhões de pessoas permanentemente excluídas da sociedade, sem acesso a
direitos mais elementares.
Primeiro passo
As
jornadas de sexta-feira, porém, representaram apenas um primeiro passo na luta
contra o reformismo redentor do emedebê. É necessário muito mais mobilização e
outras formas de manifestação – com menor escala, mas com idêntica visibilidade
– tem que ser planejadas. Afinal, sem discussão ou contradição, já passaram a
terceirização e a pretensa reforma trabalhista pela Câmara dos Deputados. E
seguem as manobras para a aprovação da reforma da Previdência.
O
mandatário de Tietê escora-se no apoio monolítico da chamada Grande Mídia –
que, quando mostrou a manifestação de sexta-feira, se
limitou a exibir as cenas de violências provocadas pelos infiltrados de sempre
– e mercadeja no balcão fisiológico à moda dos caixeiros antigos, naqueles
históricos armazéns de secos e molhados. Armas sólidas, mas que se fragilizam à
medida que a pressão popular cresce.
É
evidente que, daqui em diante, o temerário regime tende a endurecer: mais
polícia e mais exército nas ruas para intimidar trabalhadores insatisfeitos. Além
de prisões, ameaças e processos, que tendem a se tornar mais comuns, caso as
manifestações cresçam. Afinal, o mandatário de Tietê deve deixar o poder
exibindo rejeição em níveis recordes. Para tocar o que pretende, sem repressão,
só por milagre.
O fato é que, sexta-feira,
o brasileiro mostrou disposição para defender seus direitos, ainda que as
reações tenham começado com atraso de meses. O lado bom é que, parafraseando a
famosa canção de Raul Seixas, sexta-feira foi o dia em que o Brasil parou. Foi,
também, o dia em que a Feira parou.
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