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Greve Geral pode assustar governo novamente

Na próxima sexta-feira, 30 de junho, ocorrerá mais um dia de greve geral. O motivo são as draconianas reformas em andamento no Congresso Nacional, particularmente a trabalhista e a da Previdência. Em abril, houve um movimento robusto que assustou o governo. Caso o êxito se repita – o que pode não acontecer, já que as centrais sindicais não estão marchando tão coesas como naquele primeiro momento – o já emparedado governo de Michel Temer (PMDB-SP) tende a ficar mais frágil do que está.
O mandatário de Tietê e sua trupe chegaram ao poder defendendo um liberalismo radical e iracundo. Atitude incompatível com a trajetória do partido e com as biografias dos seus principais defensores, que sempre se refestelaram à sombra do Estado. Fizeram isso para conquistar as simpatias do deus Mercado, que fustigava o petismo torpedeando as inclinações estatizantes de Dilma Rousseff (PT).
Desde as manobras iniciais que resultaram na deposição do petismo – articuladas pelo então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), hoje um preso aguardando sentença – que o emedebismo definiu, claramente, quem deveria “pagar o pato”: os trabalhadores, por meio de uma avassaladora supressão de direitos.
O arranco inicial foi firme: aprovação da festejada PEC do Teto de Gastos, em dezembro, sob intensos aplausos da população distraída. E célere aprovação da lei da terceirização – na prática, uma revogação disfarçada da Lei Áurea –, além do andamento acelerado da reforma trabalhista, que já tramita no Senado. Tudo isso, somado, levou ao curto circuito que reconduziu os trabalhadores às ruas.

Feira de Santana

Em abril, a greve geral em Feira de Santana produziu resultados expressivos: escolas públicas e privadas, repartições diversas, transportes e até o comércio – tradicionalmente refratário a esses movimentos – não funcionaram. Capitais e grandes cidades apresentaram cenário semelhante, produzindo o susto mal dissimulado pelos governantes. Isso quando Michel Temer se julgava sólido na presidência, antes da divulgação das estarrecedoras conversas gravadas no célebre colóquio clandestino.
Naquela mobilização, foi importante a contribuição de entidades como a Igreja Católica. Avessa às querelas políticas nas últimas décadas, a instituição – a partir de seus segmentos mais progressistas – vêm se engajando na batalha contra a revogação de direitos elementares dos brasileiros. É inequívoco o poder de mobilização e de formação de opinião do catolicismo progressista.
Por outro lado, a juventude – principal prejudicada pelos retrocessos que vêm sendo urdidos sorrateiramente – mostra-se apática, pouco presente nessas mobilizações. A ebulição de coletivos e a representação convencional de grêmios e diretórios estudantis são insuficientes para levar à rua a garotada que, em 2013, protagonizou as célebres jornadas de junho, conforme se vê.
O fato é que, mesmo com o governo do mandatário de Tietê moribundo, aqueles que estão sendo alvejados pelas reformas precisarão sustentar uma mobilização permanente. Afinal, mesmo que a gestão temerária caia de podre – o que já não ocorreu apenas pela ausência de um nome consensual para eleições indiretas – é difícil imaginar que venha coisa melhor lá adiante.

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