Pular para o conteúdo principal

Pacote de “bondades” na Previdência coincide com lista de investigados

No dia em que o Supremo Tribunal Federal (STF) divulgou a ampla lista de investigados na Operação Lava Jato, o mandatário de Tietê, Michel Temer (PMDB), resolveu patrocinar um pacote de “bondades” para a reforma da Previdência. Subitamente, descobriu-se que os critérios draconianos impostos na investida inicial eram demasiado perversos; e aí veio a primeira concessão, travestida com a nobre justificativa do “diálogo” e da “democracia”. Na verdade, um recuo temeroso.
Afinal, os badalados reformadores – aqueles que vão redimir o Brasil, garantindo o futuro dos brasileiros idosos – estão encrencados nas delações que desnudam o tsunami de corrupção que assola o país. Seria dureza sustentar tanta austeridade para o povão, a patuleia, enquanto as excelências se esbaldam em esquemas suspeitos.
Assim, anunciam-se concessões cosméticas para algumas categorias. São os casos dos professores, dos policiais, dos trabalhadores rurais. A questão essencial, porém, permanece malandramente encoberta: o valor das aposentadorias que serão pagas. Tudo indica que direito à aposentadoria mais cedo vai implicar, obviamente, em valores irrisórios.
Ninguém falou, por exemplo, em reduzir os inacreditáveis 49 anos para ter acesso à aposentadoria integral. Nem em atenuar os critérios para ter acesso a valores maiores. Quem galgar o patamar dos 25 anos de contribuição mínima vai ganhar pouco mais da metade do que ganhava. Isso, logicamente, permanece convenientemente ignorado, sobretudo pela chamada grande imprensa.

Excludente

Desde o início, ficou patente que o objetivo da reforma na Previdência não era assegurar a sustentabilidade do sistema no longo prazo, mesmo que este exija, efetivamente, ajustes. O grande propósito sempre foi escorraçar os beneficiários em direção aos planos privados de Previdência. É o que insinuam as recomendações, meio veladas, que se avolumam na imprensa.
Mas esse é o lado rentável, daqueles que podem contribuir com o sistema privado para, lá adiante, resgatar parte do que pouparam. Há a maioria: a que vive na informalidade, a terceirizada que vai crescer, a que faz biscates ou trabalhos temporários e a que ganha menos. Para esses, a temerária reforma é altamente danosa, já que não poupam porque ganham pouco. Para esses, restará o sistema oficial.
As ruas já bradaram, embora muito aquém das necessidades da situação. Mas o ruído, pelo visto, assustou. Combinado à batelada de indiciados – apesar do empenho em se dar à situação um tom de normalidade – tudo indica que novos recuos são possíveis. Mas eles só virão com pressões crescentes da sociedade. 
Pelo calendário, ainda estamos em abril. Eleição só em outubro do próximo ano. Os últimos acontecimentos, porém, sinalizam que o epílogo político da jornada emedebista pode estar mais próximo do que aparenta. Resta pouco fôlego e os objetivos estabelecidos parecem demasiado ambiciosos para uma casta que cai de podre...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Cultura e História no Mercado de Arte Popular

                                Um dos espaços mais relevantes da história da Feira de Santana é o chamado Mercado de Arte Popular , o MAP. Às vésperas de completar 100 anos – foi inaugurado formalmente em 27 de março de 1915 – o entreposto foi se tornando uma necessidade ainda no século XIX, mas só começou a sair do papel de fato em 1906, quando a Câmara Municipal aprovou o empréstimo de 100 contos de réis que deveria custear sua construção.   Atualmente, o MAP passa por mais uma reforma que, conforme previsão da prefeitura, deverá ser concluída nos próximos meses.                 Antes mesmo da proclamação da República, em 1889, já se discutia na Feira de Santana a necessidade de construção de um entreposto comercial que pudesse abrigar a afamada fei...

Patrimônio Cultural de Feira de Santana I

A Sede da Prefeitura Municipal A história do prédio da Prefeitura Municipal de Feira de Santana começou há 129 anos, em 1880. Naquela oportunidade, a Câmara Municipal adquiriu o imóvel para sediar o Executivo, que não dispunha de instalações adequadas. Hoje talvez cause estranheza a iniciativa partir do Legislativo, mas é que naqueles anos os vereadores acumulavam o papel reservado aos atuais prefeitos. Em 1906 o município crescia e o prédio de então já não atendia às necessidades do Executivo. Foi, então, adquirido um outro imóvel utilizado como anexo da prefeitura. Passaram-se 14 anos e veio a iniciativa de se construir um prédio único e que abrigasse com comodidade a administração municipal. Após a autorização da construção da nova sede em 1920, o intendente Bernardino Bahia lançou a pedra fundamental em 1921. O engenheiro Acciolly Ferreira da Silva assumiu a responsabilidade técnica. No início do século XX Feira de Santana experimentou uma robusta expansão urbana. Além do prédio da...

Placas de inauguração contam parte da História do MAP

  Aprendi que a História pode ser contada sob diversas perspectivas. Uma delas, particularmente, desperta minha atenção. É a da Administração Pública. Mais ainda: a dos prédios públicos – sejam eles quais forem – espalhados por aí, Brasil afora. As placas de inauguração, de reinauguração, comemorativas – enfim, todas elas – ajudam a entender os vaivéns dos governos e do próprio País. Sempre que as vejo, me aproximo, leio-as, conectando-me com fragmentos da História, – oficial, vá lá – mas ricos em detalhes para quem busca visualizar em perspectiva. Na manhã do sábado passado caíram chuvas intermitentes sobre a Feira de Santana. Circulando pelo centro da cidade, resolvi esperar a garoa se dispersar no Mercado de Arte Popular, o MAP. Muita gente fazia o mesmo. Lá havia os cheiros habituais – da maniçoba e do sarapatel, dos livros e cordeis, do couro das sandálias e apetrechos sertanejos – mas o que me chamou a atenção, naquele dia, foram quatro placas. Três delas solenes, bem antig...