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Emedebismo festeja crescimento da informalidade

Foi grande o estardalhaço em torno da pretensa recuperação da economia brasileira. Tudo por conta do 0,2% de crescimento registrado no segundo trimestre. Também se exaltou a redução no número de desempregados. Malandramente, Michel Temer (PMDB-SP), o mandatário de Tietê, foi à boca da cena capitalizar a festa da retomada. Seu ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, com tom de candidato em campanha anunciou, entusiasmado, que no final do ano a economia estará crescendo a um ritmo “forte e constante”.
Sobrou confete no noticiário e faltou ponderação. Não se impulsiona crescimento econômico só com mentalidade positiva ou com leituras marqueteiras dos fatos, como se tenta fazer no Brasil hoje. A finalidade da algazarra oficial é mais desorientar, tergiversar, desviar o foco do debate que, propriamente, celebrar uma incerta retomada na atividade produtiva.
Segundo o IBGE, o modesto crescimento se deveu à expansão do consumo das famílias, que embolsaram o inesperado repasse do FGTS das contas inativas. O investimento – aquilo que sustenta o crescimento no longo prazo – caiu, inclusive o do governo. Podemos estar às voltas com algo pior que o chamado voo de galinha – um intervalo de crescimento espasmódico -, ou seja, com uma espécie de “voo de codorna” – se é que codorna tem voo curto –, ou algo parecido.
A queda no desemprego também deve ser relativizada: pelo que se divulgou, tem muita gente “criando” o próprio trabalho, mergulhando na informalidade. Se é assim, há pouco o que comemorar: mais que espírito empreendedor, resiliência, criatividade ou outra bobagem do gênero, o que há é o desespero e o desamparo; há, também, precariedade nos postos de trabalho gerados, como ocorre em situações do gênero, com renda menor e menos direitos.

Informalidade

Mais de 15 mil empregos formais, no saldo, foram extintos na Feira de Santana desde o início da crise, lá na segunda metade de 2014. Embora o ritmo tenha arrefecido, não há sinais de reversão no curto prazo. Quem perdeu o emprego, portanto, tem que assegurar a subsistência recorrendo a outras estratégias produtivas, caso não assegure recolocação no mercado de trabalho, o que se tornou comum.
É essa situação que impulsiona o mercado informal, com camelôs, ambulantes, biscateiros, demais prestadores de serviços e vendedores avulsos de uma ampla variedade de produtos baratos. No centro da Feira de Santana, por exemplo, é visível que esse contingente se encorpou. E, como se nota, é trabalho precário, com rendimento modesto. Muitos, sequer, conseguem o suficiente para assegurar a subsistência.
Pois foi essa situação que levou o emedebismo a saudar, fanfarrão, a retomada do crescimento econômico. O próprio mandatário de Tietê, entusiasta das metáforas puídas, enxerga o Brasil de volta aos trilhos do desenvolvimento, para empregar uma expressão corriqueira no século XIX. Uma perversa combinação de desfaçatez, cinismo e crueldade que açoita o brasileiro sofrido, baqueado pela crise.
À medida que os meses passam – acumulam-se anos de crise já – o futuro desejado parece se refugiar lá adiante, num ponto longínquo do calendário. Não é miragem: reformas e crise, somadas, indicam que, para a parcela desafortunada dos brasileiros, essa hecatombe econômica vai se tornar permanente. Ninguém sabe, porém, até quando o mutismo e a acomodação vão prevalecer.

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