O
brasileiro corre o risco de ver, nos próximos dias, um Congresso Nacional
pejado de acusados de inúmeros crimes – sobretudo
corrupção – eleger, de maneira indireta, o presidente da República que vai
arrastar o país até as eleições de 2018. É o que está previsto na Constituição,
dizem os doutos, os sábios da República. Alguns desses sábios, inclusive, se
arvoram a afirmar – num alucinante surto de genialidade – que eleição direta,
conforme muitos exigem, é golpe. Mesmo que seja aprovada uma proposta de emenda
constitucional com esse objetivo.
Lembro
que, em 2014, a chamada grande mídia exultou quando se exumaram as urnas
daquelas eleições: desde 1964 não se elegia Congresso tão conservador, recheado
pelas bancadas da bala, do boi, da bíblia e polvilhado por autodeclarados
empresários. Os trabalhadores e seus representantes declinaram dramaticamente
na Casa. Como se vê hoje, não havia tanto motivo para exaltação. Sobretudo sob
a perspectiva criminal: mais de 300 vivem se explicando à Justiça. Em muitos
casos, explicam o inexplicável.
Eduardo
Cunha (PMDB-RJ) – hoje preso – era o onipotente presidente dessa Câmara dos
Deputados. Sob sua batuta, Dilma Rousseff (PT) e o petismo foram expurgados.
Como legado, o usufrutuário aprovou até mesmo uma pretensa reforma política,
que, supostamente, tinha o objetivo de aprimorar o sistema eleitoral. Pelo
menos era o que se afirmava para o grande público.
Parece
que a coisa não deu muito certo. Janeiro começou com vereador preso, prefeito
preso, gente tomando posse saído de carceragem de delegacia. Não faltou eleito
em viagem ao exterior que, procurado pela polícia, retardou o retorno. Em suma,
a festejada “onda azul” – lembram dela? Batizou o avanço conservador que se
seguiu ao naufrágio do petismo, mas já foi esquecida – não passou de
empulhação, como sempre.
Feira de Santana
A
Câmara Municipal da Feira de Santana pode ser considerada uma amostra de que,
se houve melhora, ainda não foi sentida. Começa pela distribuição das bancadas:
quase todo mundo é governista; afora a defesa do prefeito, espera-se pouco desses
parlamentares: os elogios protocolares ao chefe do Executivo, alguns ataques ao
governo estadual – ao qual fazem oposição – e, no mais, títulos, comendas e
declarações de utilidade pública.
A
oposição, por minúscula, até dispensa comentários. Mas ninguém poderá acusá-la
de estar muito acima da média do legislativo feirense, não. Em pouco mais de um
mês acaba o primeiro semestre e, nesses longos meses, nada de útil se extraiu
dos debates estéreis que se arrastam das segundas às quartas pela manhã, para
desconsolo do eleitor mais informado.
O
fato mais notório – um vereador acusar um suposto assessor parlamentar de lhe
oferecer cocaína – até produz uma manchete apelativa, mas não é exatamente um
tema relevante numa cidade que bordeja os 600 mil habitantes. Figura mais como algo
pitoresco, inusitado, folclórico até, num legislativo que não tem lá grandes
contribuições a apresentar.
Alguém,
por exemplo, discute o desemprego? A precarização do mercado informal? A
pobreza crescente no município que a crise econômica alavanca? Isso para ficar
só nos temas econômicos. Que dizer da expansão urbana sem planejamento, dos
indicadores da Educação Básica, do péssimo atendimento no sistema de saúde?
Pelo jeito, são temas que não dizem respeito à Câmara Municipal.
Quem discute isso é um ou
outro profissional de imprensa, visto como amargurado ou radical de esquerda. A
imprensa, todavia, não pode – e nem deve – assumir um papel que cabe ao
Legislativo.
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