O
comércio feirense parou hoje (21). Quem circulou pelo centro da cidade viu
lojas fechadas, longos vazios e profundos silêncios. A quietude é rara naquela
região sempre febril, agitada. Às vezes, passava um micro-ônibus vazio. No
calçadão da Sales Barbosa – prenhe daquelas barracas metálicas – só os
seguranças circulavam, despontando às vezes numa esquina qualquer. Desolados,
os pombos saltitavam, desajeitados, aguardando um alimento improvável nestes
dias de recesso.
Foi
o primeiro dia de fechamento do comércio em função da epidemia de coronavírus.
Dura, a medida vai aos poucos sendo absorvida pela população. No começo, era
comum ouvir resmungos, queixas, reclamações. Mas, à medida que a epidemia se
alastra, a aceitação cresce. Mesmo com os inequívocos impactos econômicos que
virão.
Alguns
tentam burlar a determinação que impede a circulação de passageiros. Ontem,
automóveis recrutavam retardatários ali na avenida José Falcão, na famosa saída
para Serrinha. Gente que ia para Conceição do Coité, Riachão do Jacuípe,
Tanquinho ou Serrinha. Hoje, perto do antigo Feira Tênis Clube, um sujeito
tentava arrebatar passageiros para Santanópolis.
No
começo da tarde, porém, tudo já era quietude. O trânsito de automóveis pelas
avenidas feirenses diminuiu. Os pedestres eram muito raros. Quem tinha
obrigações ou necessidades, atendeu-as logo pela manhã. O céu – carregado com um
mosaico de nuvens encardidas, azuladas, cor de chumbo – tornava o cenário mais
dramático.
Domingo
a quietude tende a ser maior. Só na segunda-feira – de tanta agitação mercantil
– é que o fechamento do comércio vai produzir impacto mais efetivo sobre as
pessoas. Nota-se, porém, uma consciência crescente para o problema, mesmo que
muitos não abandonem as pequenas tarefas pelas ruas, as mesas dos bares, as
celebrações religiosas, julgando-se, talvez, invulneráveis. Esses são os mais
suscetíveis.
O
flanco aberto aqui na Feira de Santana refere-se à circulação de ônibus
interestaduais, que seguem passando pela cidade. Só a Agência Nacional de
Transportes Terrestres, a ANTT, vinculada ao governo federal, pode determinar a
suspensão. E ela não veio até agora. Jair Bolsonaro, o “mito”, que considera o
coronavírus uma “gripezinha”, refuta a medida.
Em
franca campanha reeleitoral, embora o pleito só ocorra em 2022, o “mito” teme
que a inevitável recessão alveje suas ambições políticas. Daí a insistência em
manter a aparente normalidade a qualquer custo, mesmo que seja o de muitas
vidas. Os emergentes panelaços mostram, porém, que muita gente discorda e a
resistência tende a crescer.
Prefeitos
e governadores vem adotando medidas corretas para lidar com a epidemia que,
caso não seja contida, pode resultar numa grande desgraça, das maiores que esse
país já enfrentou. Boa parte da população, portanto, diverge da visão
tresloucada do “mito” e de sua trupe.
Agora é manter a disciplina
e aguardar os próximos acontecimentos.
Comentários
Postar um comentário