Surpreendeu
muita gente a decisão da prefeitura de autorizar a reabertura do comércio a
partir de hoje (21). Foram quase quatro semanas de suspensão de parte das
atividades, com resultados que podem ser considerados satisfatórios: a eclosão
de casos de Covid-19 foi retardada e, até aqui, não se verificou superlotação
em unidades de saúde e hospitais locais. Houve – conforme expressão que se
tornou corriqueira – o comentado achatamento da curva. Até o momento, é bom
ressaltar.
Quem
circula pelo centro comercial da Feira de Santana sabe como são os tumultos e
as aglomerações naquelas vias de trânsito intenso. O discurso da precaução, das
cautelas, dos cuidados, retoricamente tranquiliza, mas não costuma ser visto na
prática. Na própria pandemia do novo coronavírus há exemplos: defronte às
agências bancárias, às lotéricas e até às portas das lojas que vendem ovos de
Páscoa, viram-se filas e aglomerações. Péssimo sinal.
O
inquietante é que ainda estamos distantes do pico da pandemia. É o que prevê a
Secretaria de Saúde da Bahia. Caso os prognósticos se confirmem, somente em
meados de maio haverá a temida saturação do sistema de saúde. Ou seja: até lá,
muita gente vai acabar se infectando pelas ruas comerciais da Feira de Santana.
A demanda por unidades de saúde e hospitais será maior. E o que dizem os
especialistas? Mais pessoas ficarão sem atendimento. Para não falar das
prováveis mortes.
Qual
é a estratégia da prefeitura feirense? Aguardar o crescimento exponencial dos
contaminados para, lá adiante, fechar o comércio novamente? O custo – em mortos
e infectados – pode ser muito maior. Como todo mundo sabe, não se alcançou
ainda o pico da pandemia. E nem é preciso lembrar da infraestrutura do
município em saúde, insuficiente em tempos normais. Imagine-se durante uma
pandemia.
Os
prejuízos da medida para a economia também são óbvios, embora nem todo mundo
perceba. Reabrir loja não é garantia de venda, nem de lucro nestes tempos. Parte
da população está acuada, temendo se contaminar. Essa gente não vai se
aventurar pelas ruas, sabendo que, caso fique infectada, vai penar nos
corredores das unidades de saúde ou no Hospital Clériston Andrade.
Provavelmente
as pressões dos comerciantes locais pesaram sobre a decisão do prefeito Colbert
Filho (MDB). Afinal, a medida vai na contramão daquelas adotadas em outras
cidades brasileiras e, sobretudo, no exterior, principalmente naqueles locais
que tiveram maior êxito na luta contra o Covid-19. À primeira vista, não parece
uma decisão baseada em critérios estritamente técnicos.
Agora, é necessário aguardar
o transcorrer das próximas semanas. E, para quem pode, permanecer em casa,
minimizando os riscos de figurar na funesta lista de infectados. Afinal, é
assustadora a perspectiva de penar doente numa fila de unidade de saúde. Ou
morrer sem atendimento num hospital qualquer.
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