Toda
hora surgem diversas projeções sobre a pandemia do novo coronavírus. Muitos
reclamam, julgam-se sufocados pelo noticiário. É verdade: nesses casos, é
melhor desconectar-se, buscar ocupações alternativas para a cabeça. O suceder
interminável de notícias sobre a doença, porém, apresenta uma virtude.
Consultando, selecionando e refletindo, é possível ir mapeando atalhos,
preparando-se para o que vem por aí. Afinal, a cada dia torna-se mais evidente
que o futuro não será mais como no passado.
Pesquisadores
norte-americanos estimam, por exemplo, que shows – com suas consequentes
aglomerações de pessoas – só recomeçam em meados de 2021. Caso a projeção se
confirme, festas como o São João e o Carnaval do ano que vem estarão
comprometidas. Os festejos juninos de 2020, a propósito, já estão sendo
cancelados Nordeste afora. É apenas o primeiro ato de um novo mundo que se
descortina.
As
celebrações juninas no Nordeste tornaram-se megaespetáculos com palcos, canhões
de luzes e festejadas atrações musicais. Temperando tudo, grandes multidões. A
fórmula – muito lucrativa para quem atua no segmento – alastrou-se região
afora. Em junho, milhares de veículos deixam as capitais em direção às cidades
que oferecem esses combos festivos, congestionando rodovias, num êxtase regado
a licor.
O
modelo se sofisticou. Alavancado pelas prefeituras, sepultou a tradição antiga
de fogueiras na porta de casa e dos grupos seletos de familiares e amigos
reunidos. Naqueles tempos havia o festivo colorido dos fogos, a algazarra
infantil, os risos dos adultos. Tudo era mais familiar, mais fraterno, mais
alegre. A festa era mais comunitária – a vizinhança se integrava e até
organizava forrós – e nisso residia muito do seu encanto.
A
mercantilização do São João mudou drasticamente a relação de boa parte dos
nordestinos com a festa, que se afastou de suas raízes. Aproximou-se muito do
consumismo corriqueiro, com seus combos de atrações, excessos e encenada
felicidade. Nela, vê-se semelhanças com o Natal e sua farisaica fraternidade de
mercado. O que ainda salva os festejos juninos é aquele autêntico espírito
nordestino que sobrevive, apesar da mercantilização.
Pois
a pandemia do novo coronavírus vai provocar uma ruptura na lógica do São João
nas próximas temporadas. Nada daquelas estridentes superproduções, do
estardalhaço visual dos outdoors
rodovias afora, dos forrozeiros de ocasião. Haverá um retorno àquele passado
idílico? Obviamente, não. Mas uma reaproximação não pode ser descartada.
O fato é que o
entretenimento de massa foi um dos primeiros a sofrer solavancos com a
pandemia. E, ao que tudo indica, sofrerá mudanças significativas a partir
daqui. O que virá ninguém sabe. O que é certo, porém, é que nada será como foi
no passado...
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