A
atenta imprensa feirense registra que o prefeito Colbert Filho (MDB) decidiu
reduzir o próprio salário em 20% durante a vigência da pandemia do coronavírus.
Os secretários municipais também aderiram ao sacrifício: redução de 15%. Para
quem ocupa cargos de confiança no Executivo feirense a mordida foi mais
modesta: 10%.
Os
recursos poupados serão destinados ao combate ao coronavírus. Quanto isso
representa de economia? O montante não foi divulgado. Não importa: a medida tem
mais valor simbólico do que efetivo.
Iracundos
moralistas de mídias sociais vivem cobrando redução de salários dos agentes
políticos. Essa gente supõe que o montante poupado é suficiente para milagres.
Enganam-se: o recurso amealhado é significativo, mas fica distante do montante necessário
para debelar a pandemia. Cálculos bem elementares ajudam a dissolver a
confusão. Reitere-se, portanto: o gesto é muito mais simbólico.
Ora,
só que a política é atividade pejada de simbolismos. Sobretudo em momentos
difíceis como o que o Brasil e o planeta atravessam. A atividade econômica
desanda – sobretudo em função do esforço para preservar vidas – e muita gente
sofre mundo afora com a redução da renda e a suspensão de suas atividades
produtivas. Gestos simbólicos, nesse momento, implicam no compartilhamento do
sacrifício coletivo.
Este
sentimento, por enquanto, não chegou à rua Visconde do Rio Branco, 122,
endereço do Legislativo feirense. Afinal, até aqui, a Câmara Municipal mexeu-se
pouco durante a pandemia. Lá haverá esse gesto simbólico de redução dos
salários? Não há nenhuma palavra até o momento.
Ao
contrário: o que se viu na sessão de hoje (15) foi vereador exaltando as
virtudes caritativas de seus pares. Toda a benemerência é praticada sob sigilo,
claro, como convém aos cristãos exemplares. Imagino que eleitores mais
distraídos foram às lágrimas com tanta abnegação.
Ninguém
fala também sobre o polpudo reajuste previsto para janeiro de 2021. Votado e
aprovado ano passado, o aumento vai engordar os holerites dos edis bem acima da
inflação das últimas temporadas. Não faltou, à época, quem alegasse, candidamente,
que os bravos parlamentares estão há muitos anos sem reajuste...
Até
janeiro de 2021, ao que tudo indica, a pandemia vai continuar produzindo
efeitos perversos sobre a economia mundial e, também, sobre a economia
feirense. Mas, pelo jeito, parte dos vereadores feirenses está pouco preocupada
em prestar contas a seus sofridos eleitores.
Ignorando
as vozes insatisfeitas das ruas, seguem fingindo que nada está acontecendo. E
cultivarão o autoelogio, o discurso fácil, os clichês habituais. Lá adiante, no
máximo, vão condecorar os profissionais de saúde que estão se sacrificando
durante a pandemia. Não faltarão também os deploráveis discursos gaguejados de
sempre, com aquelas cansativas exaltações.
O fato é que o gesto
simbólico partiu da prefeitura. E os vereadores feirenses? Não reduzirão os
próprios salários durante a pandemia? Vão seguir mordendo contracheques
vitaminados? O eleitor feirense, mesmo no isolamento, deve estar aguardando
respostas...
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