Muita
gente tem reclamado do fechamento do comércio da Feira de Santana. Boa parte
das reclamações é de comerciantes, insatisfeitos com a compressão dos lucros
nesse período de isolamento social. Outros são camelôs e ambulantes, que vivem
no sufoco, trabalhando de dia para garantir a janta à noite. Quando
questionados acenam, sempre, com os impactos da quarentena sobre as atividades
econômicas. Veem o problema, portanto, sob apenas uma perspectiva.
O
fechamento do comércio é temporário. Lá adiante, caso o desastroso governo de
Jair Bolsonaro, o “mito”, não atrapalhe, tudo será normalizado e, talvez,
alguns setores até recuperem parte das perdas. Problema muito mais espinhoso
vem sendo produzido, sistematicamente, pelo entorno familiar do “mito” e pelo
desvairado ministério ideológico.
Desde
o começo da pandemia do novo coronavírus que a matilha digital vem fustigando a
China e os chineses. Essa gente, enfileirada à extrema-direita, cunhou uma
expressão que é uma pérola de mau gosto: “Chinavírus”. Segundo a fantasia
deles, os chineses criaram o vírus em laboratório como estratégia para dominar
o mundo. Nada mais delirante.
As
últimas lambanças envolveram um dos filhos do “mito” – o que fritava hambúrguer
e que ia ser indicado para a embaixada brasileira nos Estados Unidos – e o
deplorável ministro da Educação. Os chineses protestaram formalmente, mas
adotaram uma medida que deixou os mais atentos de orelha em pé: decidiram
reduzir a compra de soja brasileira para aumentar as aquisições nos Estados
Unidos.
Caso
a escalada de agressões não arrefeça – espere-se que nenhum “aloprado
ideológico” ataque chineses nas ruas brasileiras – as medidas podem se tornar
muito mais enérgicas, com mais restrições ao comércio bilateral. Para o Brasil
seria um desastre: muito da produção industrial que o País consome vem da
longínqua nação asiática. Sanções mais graves poderiam, simplesmente, amplificar
a recessão por aqui.
Sobre
a Feira de Santana o impacto seria ainda mais catastrófico. Boa parte do
comércio de rua da cidade depende do que se importa da China; milhares de postos
formais e informais de trabalho envolvem a comercialização de produtos daquele
País; isso sem contar os investimentos que os chineses têm na Bahia, que geram
empregos.
Como
sobreviveriam, por exemplo, entrepostos como o Feiraguay? E o comércio formal
em artérias como a Conselheiro Franco que mercadeja, essencialmente, produtos
importados da China? À primeira vista, restrições comerciais mais intensas parecem
uma previsão catastrófica. Mas é bom não negligenciar a capacidade da trupe do
“mito” de vomitar grosserias e impropérios.
O fato é que o quiproquó é
perfeitamente dispensável, sobretudo num momento como esse, de enfrentamento à
pandemia. Tomara que a turma tão insatisfeita com o fechamento do comércio da
Feira de Santana em função da pandemia também esteja atenta aos maus ventos que
sopram do Planalto Central e que podem arrasar a economia feirense lá adiante...
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