Os
acólitos mais entusiasmados da seita profana que venera Jair Bolsonaro, o
“mito”, sempre cobram, nas mídias sociais, que a imprensa divulgue o que o
caótico governo faz de bom. Pois aqui vai: uma grande contribuição – às avessas
– foi trazer para o debate a questão do pacto federativo no Brasil. A pandemia
provocada pelo novo coronavírus tornou evidente que é necessário repensar a
questão da distribuição de recursos e de poder entre a União, Estados e
Municípios.
Todo
mundo sabe que a vida acontece no nível dos municípios. Estados e União são
abstrações que ajudam a organizar a vida coletiva e a cultivar a noção de nação.
Mas é no nível municipal que se vive e é nele que se processam tudo de mais
fundamental na vida. Nada mais desejável, portanto, que esse nível federativo
se fortaleça, sobretudo no que se refere ao acesso a recursos e à autonomia em
relação à sua aplicação.
A
importância desse postulado está vindo à tona com as sucessivas desavenças
provocadas por Jair Bolsonaro, o festejado – por alguns fieis – “mito”.
Percebe-se que a presidência da República é forte demais e Estados e Municípios
desfrutam de pouca autonomia e manejam poucos recursos. Sobretudo num momento
de crise, como agora, quando o Brasil baqueia com o desgoverno lá no Planalto Central.
O
problema é potencializado por uma circunstância peculiar: o País, hoje, é
tocado por alguém cujas faculdades mentais estão sendo, sistematicamente, questionadas
por adversários políticos, mas também pela imprensa, por gente do meio jurídico
e, até mesmo, por antigos aliados. Talvez até pelos próprios aliados.
A
desconfiança não é fortuita: afinal, é normal alguém, gozando de perfeito
juízo, desdenhar de recomendações técnicas relacionadas à pandemia de
coronavírus? Nem mesmo a Organização Mundial de Saúde, a OMS, o “mito”
respeita. Mais ainda: nem mesmo o presidente norte-americano Donald Trump – a
quem o “mito” devota tanta sabujice – serve mais como referência.
É
óbvio que, no momento, pouca coisa se pode fazer. Mas o embrião do debate já
está colocado. Lá adiante, quando os sobreviventes reorganizarem a agenda do
País, a questão vai emergir. Alguns passos – aliás, muito promissores – já
foram dados. É o caso do surgimento do consórcio dos governos nordestinos que
dá seus primeiros passos e que, lá adiante, pode se voltar para a pauta do
desenvolvimento regional.
O governo do “mito”, ano
passado, lançou um slogan interessante: “Mais Brasil, menos Brasília”. É claro
que tudo não passou de empulhação dos profetas da “nova política”. Mas o debate
permanece necessário. Lá adiante, com gente devidamente qualificada, a
discussão tem que ser retomada...
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