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Recordações que a Semana de Arte Moderna inspira

 

Mês que vem a Semana de Arte Moderna completa 100 anos. Entre os dias 13 e 18 de fevereiro de 1922 o Teatro Municipal de São Paulo foi palco do mais importante evento artístico da História do Brasil. Revolucionária, a semana inspirou boa parte do que se produziu em termos artísticos no País desde então. Para marcar o centenário, o Centro Cultural da Fiesp, em São Paulo, abriga uma exposição do acervo do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da Universidade de São Paulo (USP).

Lá estão expostas obras e reflexões de personagens como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Manuel Bandeira e Di Cavalcanti, entre outros expoentes do movimento. Além das obras – algumas delas famosas, familiares aos visitantes – há parte da correspondência trocada por gente do naipe de Mário de Andrade e Manuel Bandeira.

A exposição acionou, em mim, o gatilho das recordações e – por que não reconhecer – das saudades. Retornei à adolescência, às aulas de Literatura Brasileira no Assis Chateaubriand, lá no Sobradinho. Naquelas inesquecíveis tardes ensolaradas, deparei-me com uma produção literária que me cativou e deixou – para toda a vida –marcas indeléveis.

Naquele ano – era 1992 – a Semana de Arte Moderna completava 70 anos.  À época o marco reverberou, houve repercussão.  Lembro que, num jornal literário do Diário Oficial de São Paulo, conheci detalhes do movimento, desenvolvi empatia pelos protagonistas, mais tarde conheci suas obras. Na TV Cultura de São Paulo – na Bahia, a TVE retransmitia parte da programação da emissora paulista – a data, redonda, rendeu programação especial.

Oswald de Andrade e Manuel Bandeira figurariam como expoentes na literatura de qualquer país e Mário de Andrade, com Macunaíma – lançado em 1926, sob clara inspiração da Semana de 1922 –, produziu, talvez, a mais significativa obra sobre a brasilidade. Na sequência, veio muita gente marcante: Graciliano Ramos, Jorge Amado, Raquel de Queiroz, Érico Veríssimo e tantos outros. O legado do evento estende-se até os dias atuais, 100 anos depois.

Sei que está difícil respirar o ar pestilento do Brasil dos dias atuais. Então é bom refugiar-se na arte, firmar-se numa trincheira cultural. Afinal, os trogloditas estão no poder e a morte – único projeto vigente hoje – espreita em cada esquina. Ainda bem que temos a data redonda da Semana de Arte Moderna de 1922 para nos aquartelar contra a estupidez, a ignorância e a burrice. E voltar a sonhar com um futuro de fato.

A Semana de 1922 antecedeu em oito anos a derrocada da República Velha, que tanto inspira o Brasil dos dias atuais. Então, é bom começar 2022 com um fio de esperança, torcendo para que – assim como o regime instituído pelos militares em 1889 – os próximos anos tragam esperança de que a vida recomece no Brasil, com a extrema-direita retornando às sarjetas ideológicas de onde nunca deveria ter saído.

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