Pular para o conteúdo principal

Fugindo para o futuro

 

Lembro que, há dois anos, as propagandas para o Natal que se avizinhava começaram logo no início de outubro. Pelas mídias sociais e pelas ruas notavagente reclamando, desejando que o ano – 2019 não foi visto como muito auspicioso por bastante gente – acabasse logo e, junto com ele, findasse a sucessão de dissabores individuais e coletivos.Na precoce publicidade natalina e nestes anseios – na verdade, a propaganda antecipada era uma expressão destas mesmas aspirações – havia aquele desejo de fugir para o futuro, deixando atrás de si o presente aziago.

Como todo mundo sabe, 2020 não foi e 2021 não está sendo exatamente favorável. Afinal, a pandemia da Covid-19 começou ano passado e ainda está aí na praça, matando centenas de brasileiros todos os dias. Os impactos sobre a economia – e sobre as demais dimensões da vida – estão sendo brutais. Sobretudo porque, hoje, o Brasil é um País sem governo. Assim, o que seria naturalmente ruim se tornou muito pior.

Ano que vem também promete ser bem amargo. Afinal, a crise hídrica – com repercussão sobre a oferta de energia –, a inflação crescente, o desemprego alarmante, a implosão de direitos trabalhistas, a precária oferta de serviços públicos, a anti-política ambiental e o acintoso desrespeito à democracia e aos direitos humanos não serão revogados com genuflexões, jejuns e orações.O Brasil ainda corre o alarmante risco de desembestar para uma degeneração talebanesca, conduzido por uma família de lunáticos, alucinados e aloprados.

Mas, como sempre cabe cultivar otimismo moderado – nestas circunstâncias, exige-se muita cautela –, talvez em 2022 o Brasil consiga se livrar da zombaria que o diabo, arguto, engendrou nas eleições de 2018.Afinal, nas eleições presidenciais não estarão em jogo projetos políticos, mas uma disjuntiva bem mais cristalina:a vida contra a morte, a civilização versus a barbárie. Nem é preciso mencionar quem encarna a morte e a barbárie.

As ideias e o texto e brotam no começo da noite de sábado. Noutros tempos, haveria rumor, música ao longe, vozes animadas. Sobretudo com as noites mais quentes, com o verão se aproximando. Mas, desde o começo da pandemia, um silêncio melancólico pesa sobre o casario da Feira de Santana. Até as noites de sábado estão melancólicas.

Muitos permanecem por aí remoendo suas agruras sob um silêncio incomum para o baiano. Talvez, também, exercitando a desesperada utopia de fugir para um futuro mais venturoso que nunca chega...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O Parlamento não digere a democracia virtual

A tentativa do Congresso Nacional de cercear a liberdade de opinião através da Internet é ao mesmo tempo preocupante e alvissareira. Preocupante por motivos óbvios: trata-se de mais uma ingerência – ou tentativa – da classe política de cercear a liberdade de opinião que a Constituição de 1988 prevê e que, até recentemente, era exercida apenas pelos poucos “privilegiados” que tinham acesso aos meios de comunicação convencionais, como jornais impressos, emissoras de rádio e televisão. Por outro lado, é alvissareira por dois motivos: primeiro porque o acesso e o uso da Internet como meio de comunicação no Brasil vem se difundindo, alcançando dezenas de milhões de brasileiros que integram o universo de “incluídos digitais”. Segundo, porque a expansão já causa imensa preocupação na Câmara e no Senado, onde se tenta forjar amarras inúteis no longo prazo. Semana passada a ingerência e a incompreensão do que representa o fenômeno da Internet eram visíveis através das imagens da TV Senado:

Cultura e História no Mercado de Arte Popular

                                Um dos espaços mais relevantes da história da Feira de Santana é o chamado Mercado de Arte Popular , o MAP. Às vésperas de completar 100 anos – foi inaugurado formalmente em 27 de março de 1915 – o entreposto foi se tornando uma necessidade ainda no século XIX, mas só começou a sair do papel de fato em 1906, quando a Câmara Municipal aprovou o empréstimo de 100 contos de réis que deveria custear sua construção.   Atualmente, o MAP passa por mais uma reforma que, conforme previsão da prefeitura, deverá ser concluída nos próximos meses.                 Antes mesmo da proclamação da República, em 1889, já se discutia na Feira de Santana a necessidade de construção de um entreposto comercial que pudesse abrigar a afamada feira-livre que mobilizava comerciantes e consumidores da região. Isso na época em que não existia a figura do chefe do Executivo, quando as questões administrativas eram resolvidas e encaminhadas pela Câmara Municipal.           

Patrimônio Cultural de Feira de Santana I

A Sede da Prefeitura Municipal A história do prédio da Prefeitura Municipal de Feira de Santana começou há 129 anos, em 1880. Naquela oportunidade, a Câmara Municipal adquiriu o imóvel para sediar o Executivo, que não dispunha de instalações adequadas. Hoje talvez cause estranheza a iniciativa partir do Legislativo, mas é que naqueles anos os vereadores acumulavam o papel reservado aos atuais prefeitos. Em 1906 o município crescia e o prédio de então já não atendia às necessidades do Executivo. Foi, então, adquirido um outro imóvel utilizado como anexo da prefeitura. Passaram-se 14 anos e veio a iniciativa de se construir um prédio único e que abrigasse com comodidade a administração municipal. Após a autorização da construção da nova sede em 1920, o intendente Bernardino Bahia lançou a pedra fundamental em 1921. O engenheiro Acciolly Ferreira da Silva assumiu a responsabilidade técnica. No início do século XX Feira de Santana experimentou uma robusta expansão urbana. Além do prédio da