Manhã
e de sol e, no ar, aquele entusiasmo dos sábados da Feira e de feira. A
prolongada pandemia diluiu esse sentimento que, aos poucos, vai sendo
resgatado. No Novo Centro – as obras avançam – já há mais gente para lá e para
cá, em pernadas incessantes. Homens, mulheres, idosas, meninos, gordos e
magras, apressadas e lentos. O ir-e-vir até lembra aquelas artérias
congestionadas nas cercanias da Sé paulistana – rua Direita, José Bonifácio,
São Bento – com seus calçadões de pedras portuguesas e sua multidão incessante.
As
fachadas das lojas ficaram mais visíveis, com seus letreiros chamativos,
apelativos. Defronte, gente bate palmas, tentando sensibilizar a clientela,
convencê-la de que é necessário entrar, apreciar os produtos, comprá-los em
módicas prestações. Pombos desajeitados desviam dos pés indóceis dos clientes, reticentes
com essas aventuras consumistas em momento de aperto financeiro.
Colorindo
a Sales Barbosa, a Senhor dos Passos e os fervilhantes becos comerciais – só há
cor nos letreiros, o centro feirense ostenta aquele cinza característico das
grandes cidades poucoarborizadas – os carrinhos-de-mão dos feirantes: o tempero
verde, os tomates vermelhos, as cebolas roxas e amarelas, o tom abóbora das
abóboras fatiadas, o verde do maxixe.
–
Olha a verdura, freguesa!
Os
comerciários param e compram, as mulheres que conduzem pacotes e crianças
também. Aqueles tabuleiros são itinerantes, não esquentam lugar: logo músculos
vigorosos se retesam e impulsionam a mercadoria para outro ponto. Quem observa,
percebe que é assim o dia todo. A feira-livre tornou-se móvel.
Alguns
descansam da faina uns poucos minutos, resenham com os seguranças das lojas
sobre Flamengo e Palmeiras, debocham do Bahia e do Vitória. O Fluminense de
Feira, coitado, sumiu do radar dos desportistas. Outros reclamam dos preços, do
custo do botijão de gás, da energia elétrica, vociferam contra a crise
econômica do desastroso desgoverno de plantão.
Quem
não dispõe de tempo para as feiras-livres dos bairros,
nem vai arriscar caminhada até o Centro de Abastecimento, se abastece por ali
mesmo. Hábito antigo, arraigado, do feirense. Capas de celular, óculos de sol e
até máscaras de tecido contra a Covid-19 também estão disponíveis em engenhosos
painéis metálicos, multicoloridos. Quem precisa, compra.
Parece
que as vias das fotografias antigas, sem pedestres, não sensibilizam o feirense,
avesso à quietude e à solidão. O centro da Feira de Santana é movimento,
agitação, ir-e-vir de gente. Foi isso, aliás, que impulsionou a economia local,
tornou-a referência regional. Por enquanto, esse impulso não foi sufocado e
permanece vivo, latente.
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