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Gastronomia e pecuária caprinas em Feira

 

Basta circular para um pouco pela Feira de Santana para se deparar com os multicoloridos letreiros dos restaurantes que oferecem a legítima carne de bode assada. Ao longo das últimas décadas a iguaria se consolidou no gosto do feirense e de muitos visitantes. Isso se reflete nestes paineis coloridos, chamativos, que magnetizam a clientela. Nos restaurantes cujas mesas e cadeiras são dispostas na calçada, quem passa nota o contentamento dos que se abancam para degustar o prato.

Pode-se afirmar que o bode assado é um prato típico da Feira de Santana? Pela quantidade de restaurantes especializados espalhados pela cidade, sem dúvida. Mas quem se dispõe a investigar a origem descobre que raramente a carne é da Feira de Santana ou até mesmo das cercanias: a matéria-prima é importada de cidades distantes, integradas ao polo caprinocultor baiano, um dos maiores do Brasil.

Uauá e Euclides da Cunha despontam como fornecedores preferenciais da carne caprina. A primeira fica a 312 quilômetros da Feira de Santana. Euclides da Cunha é mais próxima: pouco mais de 200 quilômetros. Ambas compõem o referido circuito caprinocultor que se estende por todo o árido nordeste da Bahia, alcançando Juazeiro e os limites do Rio São Francisco.

Há donos de restaurantes que, inclusive, dispõem do próprio rebanho, mantidos em propriedades nestes municípios. Alguns utilizam a procedência da carne como instrumento de propaganda, garantia de qualidade. “Bode de Uauá” ou “Legítimo bode euclidense” são reclames comuns nestes estabelecimentos.

O rebanho caprino feirense, a propósito, é exíguo e praticamente não cresceu ao longo dos últimos anos.  Em 2020, somava apenas 6,4 mil animais.  Três anos antes, em 2017, alcançou sete mil cabeças. Bem menos que em 2010, quando atingiu o ápice neste século, com 10,7 mil caprinos. Essa quantidade foi o auge de um crescimento modesto, observado na segunda metade da década de 2000. Os números são do IBGE.

Quem é que se dedica à criação de caprinos na Feira de Santana? Provavelmente boa parte dos animais se dispersa por pequenas propriedades rurais, figurando em rebanhos modestos. Encaixam-se mais na lógica de subsistência do agricultor familiar que, propriamente, na dinâmica pecuária empresarial. Mas isso é só especulação, não disponho de informações que sustentem o raciocínio, que é mais intuitivo.

O fato é que o rebanho caprino feirense cresce pouco, quando cresce. Aliás, não é somente ele. No geral, a pecuária no município estagnou, conforme atestam os levantamentos do IBGE. Pode ser em função dos solavancos da economia, mas pode ser também um movimento mais estrutural, que vai afastando o município de suas raízes, alicerçadas na pecuária que, no passado, originou a chamada “civilização do couro”...

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