Há pouca gente branca
cavoucando o solo feirense, desempenhando a função de agricultor ou manejando
rebanhos. É o que indica o Censo Agropecuário 2017, realizado pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), cujos resultados começaram a ser divulgados
nesse segundo semestre. Boa parte dos que lidam com a terra são negros e,
sobretudo, pardos, conforme o levantamento. Integram, portanto, o universo dos
afrodescendentes.
Foram recenseados,
precisamente, 9.191 estabelecimentos, de acordo com o IBGE. Desse total, 5.460
produtores – ou 59,40% - declararam que são pardos. Os negros vêm na sequência:
são 2.821, o que corresponde a 30,69% do total. Somados, os afrodescendentes
representam pouco mais de 90% dos produtores rurais da Feira de Santana.
Os produtores que se
autodeclaram brancos vêm na sequência: são 857, ou 9,32% do universo
pesquisado. Quantitativamente, os demais grupos – por cor ou raça – são
residuais: 21 se declaram indígenas e seis deles informaram que são amarelos,
designação que costuma ser aplicada aos povos de origem asiática.
Esses números
traduzem bem o que é o campo feirense. Muitas comunidades rurais são compostas,
basicamente, por negros e pardos. Há, inclusive, remanescentes de comunidades
quilombolas que, nos últimos anos, começaram a ter sua condição formalmente reconhecida
pela União. Fincaram raízes na região desde o século XIX, quando a mão de obra
escrava ajudava a impulsionar a economia feirense.
Políticas
O levantamento ajuda
a compreender como vive – e produz – essa parcela da população feirense.
Assistência técnica é raridade, segundo apontam: somente 439 (irrisórios 4,77%)
afirmam contar com o serviço. Impressionantes 8.752 – 95,22% - dizem não ter
acesso a algo que é essencial para a elevação da produtividade e, por
consequência, da renda.
As dificuldades não
se limitam à assistência técnica. Exatos 3.404 (37%) não usam nenhum tipo de
adubo em suas atividades; outros 4.849 – 52,75% - utilizam apenas adubo
orgânico, o que costuma corresponder ao esterco entre os produtores mais pobres.
Esses dois grupos correspondem a quase 90% dos estabelecimentos do rural
feirense.
Um grupo limitado de
413 estabelecimentos recorre à adubação química e outros 515 dispõe dos dois
recursos – químicos e orgânicos – e representam, no agregado, a exatamente 10%
do total de unidades produtivas. Com relação aos agrotóxicos, somente 593
admitiram que utilizam.
Financiamento
É comum, na
televisão, aquelas propagandas com atores felizes interpretando produtores que
acessam empréstimos na rede bancária oficial. A realidade – pelo menos na Feira
de Santana – é bem diferente: só 570 (6,2% do total) afirmaram que têm acesso a
empréstimos. A imensa maioria - 8.621 ou 93,8% - não dispõem do recurso para
alavancar seus negócios.
Em que esses recursos
foram aplicados? De acordo com os produtores beneficiados, os empréstimos
serviram sobretudo para a realização de investimento (275), manutenção (258),
custeio (86) ou comercialização (16).
Ao contrário do que
se pode imaginar, poucos recursos foram captados em instituições públicas: do
total, 414 transações não decorreram de programas governamentais. Somente 116
foram do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e
40 transações decorreram de outras iniciativas governamentais.
Esses números permitem
deduzir que há pouco apoio ao rural feirense, o que, aliás, constitui novidade
para pouca gente. Noutros tempos – mais previsíveis e mais arejados – fazia
sentido reclamar, reivindicar políticas, exigir mais atenção. Nesses
tempos tormentosos, fica a dúvida: recorrer a quem?
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