Gostaria
muito de estar enganado, mas noto que o governo Jair Bolsonaro (PSL-RJ) não tem
nenhum projeto claro para a geração de emprego e renda para os brasileiros que
estão desempregados. Ganhou a eleição pregando o ódio contra o PT, a imprensa,
a esquerda e mais um monte de gente, que é até ocioso ficar citando. E não passou
disso: segue aboletado no palanque, governando na base das mensagens nas
badaladas redes sociais, fustigando adversários reais e imaginários.
No
máximo, encaminhou uma draconiana reforma da Previdência para o Congresso
Nacional. E acredita que, aprovando-se a matéria, o capital estrangeiro vai
despejar ininterruptos jatos de dinheiro nesse país tropical, induzindo um duradouro
ciclo de prosperidade. Como medida complementar, bastarão as privatizações
irresponsáveis e sem critério.
A
encenação parece uma cerimônia grotesca de magia, típica dos ignorantes.
Infelizmente, em economia, crença e fé são recursos de pouca valia. Se
pronunciar as palavras certas, encenar um determinado ritual e invocar energias
positivas resolvesse, a questão da escassez de recursos materiais não teria
sido alçada ao status de ciência.
Outros, muito antes, teriam executado essa pajelança com bem mais competência.
Ninguém,
porém, poderá acusar o governo Bolsonaro de ser incoerente: o mesmo simplismo
grosseiro que se observa no trato das graves questões econômicas que afligem os
brasileiros se estende às demais esferas da administração. É um vexame atrás do
outro.
Patacoadas
No
começo do mandato diziam que Damares Silva – a ministra da Família – marchava
para se consagrar como a pior integrante da trupe e tendia a cair logo de cara.
A masturbação de bebês holandeses – entre outras pérolas – eletrizou as sessões
de deboche nas redes sociais. Mas ela não era o único talento do grupo.
Bastaram
uns poucos dias para a “mestra bíblica” ser atropelada pelo ministro da
Educação. É um colombiano indicado por um ex-astrólogo que, hoje, se
autoproclama filósofo. Desde o início percebia-se que isso não podia dar certo.
E não vem dando mesmo: afora o moralismo anacrônico, a exaltação das cantigas
patrióticas nas filas das escolas, não se vê proposta nenhuma. Descontando,
claro, os projetos de repressão aos professores.
Ombreando
com o ministro colombiano está o chanceler Ernesto Araújo. Nos círculos da
gente mais civilizada, lá fora, suas intervenções causam constrangimento.
Cristão furibundo, o ministro cultiva ideias que, há alguns séculos, talvez
fossem consideradas de vanguarda. Mas, hoje, não, nem no Brasil que se esforça
para regredir em carreira desabalada.
Bancada
O
ano legislativo está apenas começando, mas promete ser divertidíssimo. Afinal,
a “nova política” é grosseira, histriônica, boquirrota – e suprema inovação – é
de uma ignorância quase mineral. Algumas intervenções vêm preocupando inclusive
os humoristas, intimidados pela concorrência desleal. Afinal, que bancada até
hoje praticou a autofagia logo na estreia com tanto método e tanta bílis?
“É
muita estrela para pouco céu”, diz um ditado antigo, muito divertido. É o caso
do PSL, o partido de Jair Bolsonaro. São tantas celebridades, tantos cérebros
políticos que os conflitos vindouros serão inevitáveis. E o mais curioso: tudo
isso no meio dos laranjais em flor. O coreto de quem arrotava moralidade e
ética desabou feio num par de meses.
Mas, apesar da diversão
garantida, há aí o futuro que precisa ser construído. Quem vai se habilitar a
fazê-lo? Os governantes de plantão já demonstraram que não tem nenhuma aptidão,
nenhum talento, nenhuma sensibilidade. Numa apresentação de um artista de rua
ou no galinheiro de um circo tudo passa rápido, dura no máximo duas horas. Mas,
e nesse governo aí que vai durar quatro anos? Muita desgraça pode acontecer
nesse longo intervalo...
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