Aqui
na Feira de Santana começaram a rarear os entusiastas do polêmico presidente Jair
Bolsonaro (PSL-RJ). Logo depois das eleições era comum ver gente exibindo,
orgulhosa, camisetas da Seleção Brasileira, bandeiras brasileiras em janelas e
adesivos da campanha eleitoral em carros. Postavam-se como arautos da “nova
política” – uma era sem corrupção, com menos Estado e exalando uma pretensa
pureza moral –, mas a pose se liquefez no calor de janeiro, logo após os
primeiros trombaços.
O
punho cerrado com o indicador e o polegar esticados – a “arminha” que embalou
as eleições e que, há dias já, vem servindo de mote para o deboche nas redes
sociais – rareou, pelo menos entre seus acólitos. Quem fazia o gesto e olhava
em volta com ar desafiador está mais manso, alquebrado até.
Alguns
felizardos proprietários de possantes caminhonetes seguem entusiasmados com o
novo regime, já que ostentam o adesivo mesmo desbotado pela ação do tempo. Gente
mais modesta – com antiquíssimos carros populares com a chaparia enferrujada –
também sustenta o ânimo, embora muitos já tenham desertado.
Tudo
muito diferente de apenas alguns meses atrás. Lembro que, na véspera da
eleição, estava no Mercado de Arte em companhia de alguns colegas jornalistas.
Comentávamos o cenário funesto que se desenhava – ninguém imaginava que a
derrocada da “nova política” começaria a se desenhar tão rápido – quando fomos
interrompidos por um garçom, jovem, que sentenciou com ar severo.
-
É preciso mudar. Como está não dá para ficar. Se não melhorar, a gente tira ele
de lá depois.
Tentei
argumentar que, às vezes, o que já está ruim pode piorar bastante. Mas o rapaz
estava irredutível: naquele momento, a crença na redenção bolsonarista firmara
raízes em muita gente Brasil afora. Menos de dois meses depois da posse, quem
examina de fora vê que tudo pode ficar sempre muito pior – é o que a proposta
de reforma da Previdência apenas reforça –, mas, ironicamente, é melhor que
Jair Bolsonaro permaneça no poder e conduza seu mandato até o fim.
Os
entusiastas da moralidade farisaica começaram a se assanhar no rastro das
manifestações de junho de 2013. Quem examina com atenção percebe que todos os
movimentos dessa turma só deram em desastre até aqui.
Primeiro,
batalharam pela deposição de Dilma Rousseff (PT), eleita democraticamente –
apesar de sua gestão inegavelmente ruinosa – e fizeram vistas grossas ao
passado suspeito de Michel Temer; na sequência, ignoraram todas as denúncias de
corrupção contra o controverso mandatário e as ruas permaneceram esvaziadas; por
fim, elegeram Jair Bolsonaro, movidos por um ardor moralizante furibundo.
Agora,
alguns já estão insatisfeitos, defendendo a ascensão do vice-presidente, o
general da reserva Hamilton Mourão.
É
melhor que essa gente fique calada, em casa, sem nem mesmo bater panelas. Tudo
bem que deixem de fazer a “arminha” porque estão magoados. Mas é melhor que não
resolvam ocupar as ruas porque as soluções que defendem – sistematicamente –
mostram-se cada vez piores. Quanto mais se mexem, pior a coisa fica.
Não, é melhor aguardar
2022. Mesmo com a “arminha” sendo, lentamente, esquecida.
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